Os brasileiros de todas as classes consumiram mais bens não duráveis em 2008, independente da crise financeira que se acirrou no final do ano passado. De março de 2008 a fevereiro de 2009 o volume de compras destes bens aumentou 2,6% frente a igual intervalo do ano anterior, sendo este o terceiro maior aumento dentre onze mercados pesquisados pela Latin Panel na América Latina, Europa e Ásia. Um dos reflexos da crise financeira foi a intensificação de um movimento de "volta ao lar" do consumidor brasileiro, afirma Ana Claudia Fioratti, diretora geral da LatinPanel Brasil.
De acordo com o estudo, as famílias brasileiras aumentaram em 9% o volume de compras das cestas de alimentos, bebidas, higiene pessoal e de produtos de limpeza no primeiro trimestre deste ano, frente aos três primeiros meses de 2008. "Desde 2004 verificamos que o consumo de alimentos e bebidas fora do domicílio aumentava mais do que o consumo destes dentro do lar, mas agora a relação se inverteu", explica Ana Claudia. As famílias brasileiras aumentaram em 14% os gastos com bebidas e alimentação nos domicílios, nos últimos 12 meses encerrados em março deste ano, enquanto as despesas para consumo fora do lar subiram 10% em igual intervalo.
Serviços combinados
Ana Claudia cita ainda o aumento do lazer dentro das residências como um reforço dessa volta ao lar do consumidor brasileiro. De janeiro a dezembro do ano passado o número de famílias com TV por assinatura aumentou 22%, enquanto os clientes de banda larga avançaram 53%, e o número de residências com os dois serviços combinados cresceu 141% no mesmo intervalo. "Perguntamos aos consumidores quais os primeiros gastos que eles cortariam se a crise apertar, e 82% responderam que não contrairão mais dívidas, enquanto 39% afirmaram cortar viagens e lazer", avalia a executiva.
De abril de 2008 a março de 2009 as categorias que obtiveram maior aumento de volume médio de consumo foram produtos de higiene e beleza, com 17%, e limpeza do lar, com 13%. "Isso reflete a menor compra de produtos duráveis, e uma menor disposição do brasileiro em assumir endividamentos, então parte desse consumo vai para produtos de prazer pessoal e rápido, como no caso dos produtos de higiene e beleza", considera Ana Claudia.
Otimistas e pessimistas
O levantamento apontou que todos os perfis de consumidores pesquisados aumentaram o seu padrão de compra, independente do grau de confiança depositado na recuperação da economia. "O consumidor brasileiro está menos otimista, mas mesmo assim está aumentando o consumo de bens não duráveis", destacou Ana Claudia.
Ao serem requisitados para avaliar sua própria situação econômica na comparação com o ano passado, 95% dos entrevistados disseram estar melhor ou igual em junho de 2008, antes do acirramento da crise financeira internacional. Oito meses depois, em fevereiro deste ano, esse percentual caiu para 77% dos entrevistados.
Veículo: Gazeta Mercantil