Sinais de retomada surgem em todos os setores empresariais, num sinal de que a economia não só parou de piorar, como já começou a melhorar
No final do ano passado, a trajetória da economia era de queda livre. No início deste ano, quem achou que o mundo ia acabar percebeu que havia sobrevivido. No fim do primeiro trimestre já havia ficado claro que parou de piorar. Agora, o cenário é de melhora. E, para muitos setores, uma melhora significativa, impulsionada pelas medidas de estímulo fiscal tomadas pelo governo nos primeiros meses do ano, que ajudaram a restituir o crédito no mercado e evitaram uma onda de demissões em massa. Um bom exemplo é o do setor automotivo. Depois do tombo do último trimestre, a redução do IPI em dezembro fez o mercado reagir. A venda de tratores, por exemplo, após queda de 40% no fim do ano passado, avançou 35% nos primeiros quatro meses deste ano. É praticamente o mesmo volume do ano passado, considerado um ano excepcional. "Essas vendas estão atreladas ao programa Mais Alimentos do governo federal e a linhas especiais dos estados de são paulo e do paraná", explica o vice-presidente da Anfavea, Milton rego, que acredita que o mercado continuará aquecido até o fim do ano.
A venda de veículos como um todo reagiu bem ao estímulo fiscal. A produção do primeiro trimestre foi 16,8% menor do que o mesmo período do ano passado, mas em abril a queda foi de apenas 0,8% em relação a 2008, com expansão de 34% em relação ao mês anterior. A Vocal, maior concessionária Volvo de ônibus e caminhões da América latina, comemora os bons resultados no Brasil num momento em que o mercado americano despencou. "Ainda estamos com queda sobre o ano passado, que foi um ano extraordinário. Mas estamos muito melhor do que em 2007", diz o diretor-superintendente da empresa, Cláudio Zattar. Boa parte das vendas da empresa são realizadas para clientes que estão tocando obras do pAC. na fiat, o faturamento voltou ao patamar anterior à crise. "estimamos um volume superior a 2,5 milhões de automóveis e veículos comerciais leves este ano. se houve queda, será pequena", diz o diretor comercial da fiat, lélio ramos. o setor de máquinas, depois das quedas acentuadas em janeiro e fevereiro, já reagiu em março, com uma alta de 30% sobre o mês anterior. "parece que chegamos ao fundo do poço em janeiro e agora começamos a nos recuperar", disse o presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto.
Outros setores também estão se dando bem com o novo cenário. os supermercados, que mesmo no pior momento do aperto do crédito mantiveram as vendas, comemoram um crescimento de 6% no primeiro quadrimestre. "desde o início da crise internacional, mantivemos sempre a crença na força da economia brasileira. por isso, resolvemos manter o nosso plano de investimentos recordes no país para este ano, que prevê r$ 1,6 bilhão para a abertura de 90 lojas", diz o presidente do Wal- Mart Brasil, Hector Nunez.
Se está bom para os supermercados, melhor ainda para o varejo de confecções. Algumas empresas têm registrado crescimento acima de dois dígitos neste ano. para o presidente da riachuelo, flávio rocha, o setor não será prejudicado. "estamos otimistas e certos de que teremos um ano bom. As vendas no varejo não foram impactadas pela crise. pelo contrário, estamos até melhores que no ano passado. Ganhamos clientes porque houve uma migração de consumidores de setores que vendem produtos de maior valor agregado para produtos com melhor relação custo-benefício." os fabricantes de alimentos também estão satisfeitos. "Tivemos queda entre novembro e fevereiro, mas a partir de março já houve uma recuperação", diz o coordenador do departamento de economia e estatística da Associação Brasileira da indústria de Alimentos (Abia), denis ribeiro. "em maio podemos até empatar com 2008 e esperamos crescer de 2% a 3% este ano", diz ele.
A construção civil, que já teve um 2008 excelente e sofreu no início da crise com a incerteza sobre o crédito e o mercado de trabalho, ganhou neste ano a ajuda do pacote habitacional do governo, que incluiu mais financiamento nos bancos públicos e redução do imposto sobre material de construção. "seremos o carro-chefe da economia em 2009", diz o presidente da Câmara Brasileira da indústria da Construção (CBiC), paulo simão. no ano passado, o setor contratou 198 mil empregados e este ano já admitiu 30,2 mil. O setor de plásticos, sétima maior cadeia produtiva do País, registra vendas boas nos segmentos automotivo e de construção civil e espera melhora na linha branca, com a redução recente do IPI. "o começo do ano foi ruim, mas a partir de março melhorou. Já saímos do fundo do poço e agora estamos crescendo. o ano deve fechar com uma queda em reais de 2%", disse o presidente da Abiplast, Merheg Cachum.
O cenário catastrófico não deve mais se repetir. o pior já passou", disse à dinheiro o economista Mailson da nóbrega, ex-ministro da fazenda e consultor de empresas. "os sinais de recuperação despontam de diferentes setores e lugares. É difícil imaginar que esse movimento seja enganoso. o colapso foi debelado definitivamente", diz o economista Fábio Kanczu, da Universidade de são paulo. o presidente da fiesp diz que ainda é cedo para comemorar, mas está satisfeito com os sinais. "Vemos com otimismo os sinais de melhora não apenas no Brasil como no resto do mundo. Mas ainda é cedo para comemorar", diz paulo skaf. Apesar de elogiar as medidas tomadas até agora pelo governo, ele cobra mais agilidade na ampliação do crédito e na redução dos juros.
O mercado financeiro também mostrou na semana passada uma realidade bem diferente dos últimos meses. A Bovespa operou acima dos 50 mil durante toda a semana, com alta de 5,85% até a quinta-feira 7. o dólar caiu e o Banco Central interveio uma vez e depois deixou cair. A melhora nos mercados americanos e na economia chinesa também deu novo ânimo tanto aos investidores quanto aos empresários. Balanços trimestrais de bancos divulgados na semana passada mostram que o crédito voltou ao sistema bancário - e não apenas nos bancos estatais, por ordem do governo.
No Itaú, a expansão foi de 25% no primeiro trimestre em relação ao início do ano passado. O País também recebeu nos últimos dias uma enxurrada de dólares. Em abril, o saldo já havia sido positivo em US$ 1,5 bilhão. Um cenário bem diferente dos meses anteriores. entre setembro do ano passado e março deste ano, a saída de recursos somou US$ 18,3 bilhões. A mudança de sinal se deu com a relativa melhora das exportações - apesar do mercado internacional mais fraco. em abril, o superávit comercial ficou em US$ 3,7 bilhões, mais do que o dobro de abril do ano passado. As exportações ainda são menores do que em 2008, mas a curva começa a apontar para cima. o ano começou com uma queda em torno de 20%, que agora recuou para 8%. os dados de produção industrial divulgados na semana passada pelo iBGe também mostram um cenário que, visto pelo retrovisor, revela os estragos da crise internacional. entre janeiro e março a produção despencou 14,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
Mas o número de março já mostra uma reação de 0,7% em relação a fevereiro, apontando para uma curva positiva. "Já esperávamos por isso", disse o ministro da fazenda, Guido Mantega. Mas ele afirma que a situação já mudou no mês passado. "Já voltamos a aquecer e a acelerar. Já estamos no crescimento", afirmou. o mesmo deve acontecer quando o IBGE divulgar o piB do primeiro trimestre, na primeira semana de junho. o número deve mostrar uma recessão técnica, com variação negativa em relação ao ano passado. Mas deve mostrar também uma realidade passada. na avaliação praticamente unânime de governo, empresários e economistas, a realidade do segundo trimestre é bem melhor do que a do primeiro - e tudo indica que a tendência de recuperação deve seguir adiante.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro