Apesar de registrar alta nas operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) em maio, de 0,8% ante o mês anterior, para um estoque de R$ 1,259 trilhão, o Banco Central ainda mostra uma baixa no saldo total para pessoa jurídica, que caiu 0,8%, a R$ 383,193 bilhões. No entanto, analistas apostam em reversão da tendência no segundo semestre, devido, em grande parte, a um aumento da competitividade entre as instituições financeiras.
Para o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e diretor do Instituto Assaf, Alexandre Assaf, a queda da taxa básica de juros será a principal responsável pelo aumento da concorrência. "Quando o governo baixou a Selic, os ganhos com operações de tesouraria dos bancos caíram. Para manter a rentabilidade, eles precisam aumentar as operações de crédito." Já antevendo essa situação, grande parte dos bancos declarou, em divulgação de resultados do primeiro trimestre, que aumentar operações para pequena e média empresa era o objetivo este ano.
O professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, acompanha a linha de raciocínio. "Para defender a rentabilidade que possuíam aplicando em títulos do governo, os bancos serão obrigados a buscar ampliar suas operações de crédito", completa.
A taxa básica de juros iniciou o ano a 13,75% ao ano. Depois de quatro cortes, chegou aos atuais 9,25% ao ano. "E essa redução de quatro pontos percentuais é bastante significativa para as instituições", diz Assaf. Segundo ele, os bancos primeiro buscaram ampliar sua fatia no crédito consignado, "mais rentável e com menor risco". "Com mais crédito à disposição e mais propaganda das instituições, mais gente passou a buscar financiamento. E muitas passaram sua barreira de endividamento."
Segundo o BC, a inadimplência subiu tanto para pessoa jurídica -alta de 0,3 ponto percentual, e chegou a 3,2%- como para pessoa física, que chegou a 8,6%, alta de 0,2 ponto percentual, maior índice já registrado.
Segundo avaliação do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, o cheque especial foi principal motivo de aumento para famílias."Essa é a modalidade mais cara de crédito [167,8% ao ano, registrados em maio]. Isso evidentemente compromete muito a renda."
No caso do cheque especial, a inadimplência subiu, de abril para maio deste ano, de 10% para 10,8%, também a maior taxa da série histórica do BC. A taxa geral de inadimplência passou de 5,2% para 5,5% de abril para maio, a maior desde setembro de 2000, quando estava em 5,7%.
Segundo Lopes, o aumento da inadimplência ocorre por conta da redução da oferta de crédito, resultado da crise financeira internacional. Com isso, famílias e empresas tiveram dificuldade de renovar os empréstimos e de honrar os compromissos. Mas, para Lopes, a expectativa é de que a inadimplência caia com a recuperação da oferta de crédito.
Os analistas ainda acreditam que o aumento da concorrência entre as instituições é responsável pela queda dos juros e do spread. Segundo o BC, a taxa média caiu 0,7 ponto percentual, a 37,9%. A baixa para empresas foi menor, de 0,3 ponto, a 28,5%, e para indivíduos a queda chegou a 1,5 ponto, a 47,3%.
"Com o foco maior em crédito, há um ganho de escala que possibilita a redução das margens. Além disso, os bancos estão captando dinheiro mais barato", diz Assaf, da Fipecafi.
"Além do ganho de escala, há também um repasse atrasado dos cortes da Selic para a ponta tomadora", completa Leite, da Trevisan.
Dados preliminares do BC de junho indicam ainda que a baixa dos índices deve continuar. Até o dia 15 de junho, o juro médio no crédito livre caiu para 37,1% em 15 de junho, de um nível de 37,9% no fim de maio. Já os spreads caíram de 37,4 pontos para 36,4 pontos para indivíduos e de 18,7 pp para 18,3 pp para empresas. Além disso, foi revisada para cima a projeção para a expansão do volume total de crédito no País, de 14% para 15%. A Febraban também revisou para 16% suas projeções de crescimento do crédito.
Veículo: DCI