Ineficaz contra a inflação dos alimentos

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As apostas do mercado numa alta do juro básico da ordem de 0,75 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que se encerra hoje, não surpreendem João Sabóia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ. O que ele questiona é a autoridade monetária insistir no aumento do juro básico como instrumento para combater uma inflação alimentada pelo preço das commodities internacionais. 

 

Sabóia destaca que a teoria econômica receita aumento da taxa de juro para combater a inflação de demanda que, no seu entender, ainda não é o caso do Brasil. Na sua análise, o recente repique dos preços está mais associado a oferta do que a demanda. "Os alimentos puxaram a inflação por causa da alta das commodities não só agrícolas, como o caso da soja, mas também minerais. A alta do juro desde abril, a meu ver não interferiu absolutamente em nada no comportamento da inflação que ameaçava ultrapassar a meta fixada para este ano e o próximo preços dos alimentos pararam de subir porque o choque agrícola de origem externa se reduziu e não por conta da alta da Selic", enfatizou. 

 

Para ele, o BC está usando um instrumento inócuo, que "não serve para nada" e tem um custo muito grande para o país, pois eleva a dívida pública. "O efeito é muito pequeno frente ao custo disto. O que vai acontecer é que a taxa de juro brasileira vai ficar cada vez mais elevada para os padrões mundiais. É uma perda de tempo e dinheiro". 

 

No cenário de Sabóia, o Brasil está crescendo de forma equilibrada e a inflação certamente não deve ultrapassar a meta neste ano, levando-se em conta as bandas de 2,5 pontos. O economista avalia que um país que está crescendo a 5% por ano ancorado na demanda interna ter uma inflação medida pelo IPCA de 6% ao ano não é nenhuma anomalia. 

 

Na sua ótica, o que o BC está buscando com a alta do juro é diminuir a demanda. "O resultado disto será reduzir o crescimento econômico, como já aconteceu". Sabóia aposta que em 2009 o país permanecerá crescendo em torno de 5%. O que o Brasil precisa para fazer face a esta demanda interna reprimida que está emergindo é de investimento, pois o nível de utilização da capacidade instalada das indústrias do país vem aumentando. "Se subir um pouco mais, aí sim, podemos correr o risco de ter pressão inflacionária do lado da oferta". A seu ver, isto não vai acontecer porque os investimentos também estão crescendo e as importações ajudam a equilibrar o mercado. 

 

Alerta porém, que o país pode usar as importações para corrigir os buracos da economia, mas isto tem um limite, pois pode estourar as contas externas. Apesar do câmbio valorizado, Sabóia acha que as exportações estão indo bem e a balança comercial é um ponto favorável no balanço de pagamentos. "O que está levando ao déficit em conta corrente é a remessa de lucro e os dividendos remetidos para o exterior pelas filiais de multinacionais. "Qualquer realzinho vira muito dólar". Por causa da alta do juro Sabóia não crê que o dólar possa voltar a valorizar em relação ao real. "A Selic nas alturas torna o Brasil atraente para os especuladores internacionais. Este é, sem duvida, o resultado mais palpável da política de juro do BC". 

 

Veículo: Valor Econômico


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