Cifra é a soma da antecipação do 13º dos aposentados, restituição do IR e abono dos metalúrgicos do ABC
Às vésperas de mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) que deve determinar nova da alta da taxa básica de juros, hoje em 13% ao ano, a economia recebe uma injeção extra de recursos, superior a R$ 8 bilhões. Apesar de não ser considera pelos economistas uma cifra de peso, esse dinheiro coloca mais lenha no consumo no curto prazo, exatamente no momento em que BC e Ministério da Fazenda estão divididos quanto às causas da inflação.
Desde o fim de agosto, a Previdência desembolsou cerca de R$ 7 bilhões a título de antecipação da primeira parcela do 13º salário a 22,1 milhões pensionistas e aposentados. E, desde julho, os bancos oferecem empréstimos tendo como moeda de troca o 13º salário. Nesta semana foi liberado o quarto lote da restituição do Imposto de Renda, que soma R$ 1,2 bilhão.
Além de conseguir reajuste salarial de 11%, os 32 mil metalúrgicos do ABC Paulista receberão um abono de R$ 46,4 milhões que será pago no dia 22. A conquista dos metalúrgicos do ABC deve facilitar a negociação de outras categorias, como bancários e petroquímicos.
O maior volume de dinheiro em circulação dificulta o trabalho do BC de esfriar a economia para segurar a inflação, afirma o coordenador da Tendências Consultoria Integrada, Márcio Nakane. “Não chega a ser um trabalho para o BC de enxugar gelo, mas de empurrar pedra morro acima.” Isso significa que o BC terá de elevar mais os juros, caso tivesse as políticas monetária e fiscal afinadas.
“Essa é mais uma razão para que o Copom aumente os juros básicos em 0,75 ponto porcentual”, afirma o economista chefe da MB Associados, Sergio Vale. Ele observa que o principal fator a ser levado em conta pelo BC será o ritmo de atividade.
O Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, que será divulgado hoje, deve ter crescimento de 5,7% ante igual período de 2007 e acréscimo de 1,5% na comparação com o primeiro trimestre, calcula Vale. Se a projeção se confirmar, a demanda doméstica em 12 meses até junho terá crescido 8,4%, o dobro da taxa de 2004, ano em que consumo interno foi recorde. “O BC tem argumento forte para elevar os juros. O impacto da queda dos preços das commodities na inflação não faz cócegas para ele.”
Para o diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, o aumento da demanda é um fator secundário para explicar a pressão inflacionária. Tanto é que a inflação está perdendo fôlego por causa do recuo das commodities agrícolas. “A inflação está caindo e não é preciso subir os juros dessa maneira.”
Segundo ele, a maior liquidez na economia seria fator de risco para os preços no curto prazo se a inflação no mundo estivesse subindo. Como os preços das commodities estão em queda e o País hoje é muito mais aberto, as pressões de demanda são acomodadas com aumento das importações.
Veículo: O Estado de S.Paulo