O Comitê de Política Monetária do Banco Central promoveu, ontem, mais uma elevação na meta de taxa Selic, pela segunda vez consecutiva de 0,75 ponto percentual, confirmando as expectativas do mercado. Com isso, a taxa básica de juros foi a 13,75% ao ano.
Diferente da reunião de 23 de julho, no entanto, não houve unanimidade. A decisão foi tomada por cinco votos a três. Os diretores do BC que votaram diferente da maioria também viam necessidade de aumentar a Selic, mas somente em meio ponto percentual. A última vez antes dessa em que houve divergência foi em julho de 2007, quando os juros caíram de 12% para 11,5% ao ano, contra a vontade de três diretores, que queriam corte menor, para 11,75% ao ano.
Em nota, o BC explicou que o Copom optou pela proposta mais alta, ontem, para "promover tempestivamente a convergência da inflação para a trajetória de metas". A meta de inflação para este e o próximo ano é de 4,5% ao ano.
A última pesquisa de expectativas divulgada pelo BC mostra que, até fim de 2008, o mercado espera mais dois aumentos, aí sim, de meio ponto cada, fazendo com que a Selic encerre o ano em 14,75% ao ano. Diante do anúncio feito ontem pelo IBGE em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), a previsão de que a trajetória de alta vai prosseguir deve ser mantida na próxima pesquisa semana, a ser divulgada na segunda-feira, dia 15. Isso porque, mesmo após as elevações anteriores da Selic, o PIB seguiu crescendo com vigor no segundo trimestre deste ano.
O patamar definido ontem pelo Copom é o mais alto desde 29 de novembro de 2006, quando a meta de Selic foi reduzida de 13,75% para 13,25% anuais. Depois desse, vieram novos cortes, o último na reunião de setembro de 2007, para 11,25% ao ano. Na reunião de abril de 2008, após meses sem mexer na taxa, o comitê decidiu retomar as elevações, fixando-a em 11,75% ao ano, diante do repique inflacionário que se constatava. Incluindo essa e a de ontem, já são quatro altas desde então.
A reunião de ontem durou mais de três horas. Antes disso, o presidente do Banco Central e membro do Copom, Henrique Meirelles, divulgou, por intermédio de assessores, uma nota sobre o PIB, aproveitando a ocasião para defender, tacitamente, a política monetária que vem sendo implementada. Ele defendeu que o resultado "reforça o diagnóstico de que o Brasil vive crescimento sustentado alicerçado na opção pela estabilidade de preços". Meirelles destacou que a expansão do PIB foi disseminada por vários setores produtivos e liderada pelos investimentos. Essa característica, na sua opinião, "atesta claramente os benefícios da estabilidade e da previsibilidade".
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, acredita que o dissenso poderá criar um "clima de incerteza" até a divulgação da ata, na próxima quinta-feira. Os três votos em favor de uma alta menor, de 0,50 ponto, são sinal de que o Copom pretende, na reunião de outubro, diminuir a velocidade de alta da Selic. Embora isso já estivesse no "preço" da curva futura de juros, esse recado foi inteiramente inesperado. E, pode, segundo Gonçalves, levantar a suspeita de a decisão de ontem ter sido tomada levando-se em conta critérios não unicamente técnicos. Ao gerar incertezas sobre as próximas decisões de política monetária, a falta de consenso poderá provocar hoje alta dos juros futuros longos.
Para o economista-chefe da Concórdia Corretora de Valores, Elson Teles, apesar de ter havido uma desaceleração da inflação nos últimos meses, principalmente em função da queda nos preços das matérias-primas, ainda há muitas incertezas para o cenário prospectivo de inflação. No momento, o principal fator de risco para a inflação advém da demanda doméstica, que cresce a taxas robustas, sem sinais de arrefecimento. "Ao manter uma postura de política monetária mais austera, o Copom reforça a sinalização aos agentes econômicos de que está plenamente comprometido em buscar a convergência da inflação para a trajetória de metas em 2009", diz Teles. De todo modo, a decisão bastante apertada sinaliza que o Copom já possa voltar para o ritmo de alta de 0,50 ponto percentual na próxima reunião, a ser realizada em outubro.
A Fecomércio do Rio de Janeiro soltou comunicando contra o aumento dos juros. "Os sucessivos aumentos da Selic contribuíram para que o spread no financiamento permanecesse como o segundo maior do mundo, menor apenas que o do Zimbábue", destaca Orlando Diniz, presidente da entidade. "O aumento do juro básico é colossal, inoportuno e inconveniente", afirma nota da Força Sindical, ressaltando que a inflação no Brasil vem sendo provocada mais por um problema na oferta do que na demanda. Para a CUT, o BC quer "sufocar as possibilidades de um ciclo de desenvolvimento sustentável", já que a inflação mostra sinais claros de arrefecimento.
O Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-SP) já prevê uma alta menor na próxima reunião. A entidade projeta aumento de 0,50 ponto na Selic. "Depois disso, a taxa deve se estabilizar", destaca Walter Machado de Barros, presidente do Ibef. Em levantamento feito ontem entre os executivos da entidade, 68% já prevêem queda "como tendência efetiva".
Veículo: Valor Econômico