O mês de julho registrou o melhor desempenho da produção da indústria desde o agravamento da crise internacional, em setembro de 2008. A alta de 2,2% entre junho e julho elevou o nível de produção ao de janeiro de 2007, embora ainda esteja 10,6% abaixo do de setembro, quando atingiu o pico histórico. De acordo com o IBGE, o avanço registrado pela indústria em julho supera a média mensal de 1,5% observada no primeiro semestre. Na comparação com igual período do ano passado, porém, a indústria teve queda de 9,9%.
"O resultado de julho é o melhor desde o início da crise. A indústria está trabalhando com perspectivas melhores", frisou Isabella Nunes, gerente de análise e estatísticas derivadas do IBGE.
A observação de Isabella é referendada por Bráulio Borges, economista da LCA Consultores, para quem o número de julho veio forte e acima do que o mercado esperava. "O aspecto que mais chama a atenção é que ao longo do primeiro semestre a indústria subiu a escada devagarinho depois do tombo do ano passado. Agora começa a ganhar ritmo".
O economista destacou o fato de que, ao contrário do primeiro semestre, quando poucos setores estimulados diretamente pela política anticíclica do governo mostraram recuperação, neste início de segundo semestre a indústria avança de forma mais generalizada. Dos 27 ramos de atividades levantados pelo IBGE, 23 tiveram crescimento na margem, ou seja, em relação a junho.
Uma pesquisa da LCA revela que dos 85 setores pesquisados pelo IBGE, 88% tiveram expansão na produção ante junho. "Não via este número de difusão de crescimento desde junho de 2008, período em que a indústria atinga seu maior patamar de crescimento", comentou Borges.
Em julho, todas as categorias de uso medidas pelo IBGE também apresentaram taxa positiva ante junho. O maior destaque ficou com os bens de consumo duráveis, com alta de 4,6%, puxado pelo crescimento de 8,9% das máquinas e equipamentos, que foi influenciado pelas vendas da linha branca, estimuladas pela desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Os bens intermediários avançaram 2% e os bens de capital, 1,4%. Os semi e não duráveis cresceram 1%.
Borges, da LCA, prevê que no segundo semestre a indústria deve apresentar um crescimento médio na margem de 2% a 2,5% e a partir de outubro devem cessar as taxas negativas em relação ao mesmo período de 2008, dada a aceleração no resultado com ajuste sazonal da atividade das fábricas.
Ele acredita que em agosto há chance da indústria crescer ante julho 3% principalmente pela recuperação do setor siderúrgico, que de junho para julho cresceu 25%. "Mantendo este ritmo, a indústria no segundo semestre pode crescer zero em relação ao mesmo período de 2008, depois de cair na média 13,5% no primeiro semestre. Com isto fecharia 2009 com uma queda de 7% ante 2008".
O comportamento favorável da produção industrial divulgado ontem pelo IBGE indica que o investimento começa a ser estimulado. Com base num modelo econométrico que leva em conta o nível de utilização da capacidade instalada da indústria (Nuci) e a formação bruta de capital fixo, a LCA levantou que a partir de um Nuci de 81,2% o investimento já começa a ficar "no azul". Em agosto, segundo a FGV, o Nuci saltou para 81,3%, ante 79,8% em julho. Para Bráulio Borges, isso mostra que no mês passado o setor de bens de capital começou a reagir com mais força, estimulado pela retomada de investimentos de modernização industrial, principalmente.
Há muitos fatores trabalhando a favor da recuperação do investimento, como a redução da ociosidade e a redução do juro real para níveis próximos de 5% ao ano. Também o restabelecimento do crédito contribuiu para esta retomada de julho, avalia Borges. Para 2010, a consultoria projeta um crescimento industrial de 8% e um PIB de 4,9%, ante 0,3% este ano.
Veículo: Valor Econômico