Se o fornecimento de gás natural da Bolívia tiver redução de 30%, já seria o suficiente para paralisar a produção de fertilizantes, afirmou ao DCI Luiz Antonio Mesquita, diretor de Suprimentos e Logística da Fosfertil e membro do Conselho Diretor da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim)."No nosso caso não existe substituição", garantiu.
Apesar da Petrobras ter afirmado, na sexta-feira, que o fornecimento de gás boliviano está normalizado, o clima de instabilidade continua preocupando as indústrias que dependem do combustível como insumo ou como fonte energética. A fabricação de fertilizantes, produto que já está em falta no mercado mundial, seria uma das mais afetadas com cortes de gás natural. A produção de amônia, matéria-prima para os fertilizantes nitrogenados, depende do gás.
Os setores químico e petroquímico demandam mais da metade do total de gás consumido pela indústria brasileira. Desse consumo, 25% são utilizados como insumo.
De acordo com Mesquita, se um corte de abastecimento ocorrer, a forma para evitar uma longa paralisação será importar a amônia, o que custará à empresa cerca de US$ 20 milhões ao mês. "É preciso lembrar que vivemos um momento em que a amônia está com seu preço mais alto", afirma. Segundo ele, a companhia não teve, até o momento, nenhuma mudança no recebimento do gás. Mesmo assim, a gerência comercial da Petrobras contatou a empresa para informar que a estatal tentará "poupar ao máximo" a empresa. "Somos uma fabricante de fertilizantes e por não temos alternativas para o gás", conclui Mesquita.
A indústria têxtil será outro setor que poderá ser afetado com corte de abastecimento, já que as máquinas de acabamento são grandes consumidoras de gás. "A preocupação é de como se precaver nessa situação, que pode afetar os indicadores da indústria", afirma Fernando Pimentel, diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Segundo ele, o gás natural passou a ser utilizado como forma de agregar competitividade, mas com os aumentos do preço e a instabilidade em relação ao fornecimento, alguns fabricantes já estão pensando em mudar a matriz energética. "A curto prazo todo mundo está sem alternativa, mas as empresas estão em contingência para troca de fonte energética, o que demandará mais investimentos", afirma.
Alternativas
Uma das alternativas para a indústria com ampla possibilidade de expansão é o Gás Liquefeito de Petróleo (Gás LP). Com o incremento na produção desse energético nas refinarias brasileiras, seu uso vem ganhando mercado entre as indústrias que consomem grandes quantidades. Segundo o presidente do Sindigás, Sérgio Bandeira de Mello, a indústria pode adotar esse combustível até mesmo sem aportar altos investimentos. "Existe o gás natural sintético, formado pelo Gás LP misturado quimicamente, dessa forma pode ser utilizado no mesmo queimador do GN, basta virar uma válvula", explica.
Segundo Mello, o consumo residencial ainda é maior em razão de restrições governamentais, mas que hoje não se aplicam mais. Ele informa que a entidade e a Agência Nacional do Petróleo (ANP) estão em negociação para modificar a lei que data da década de 90, época em que o Brasil importava cerca de 80% do que consumia. "Esse mercado pode crescer 100% sobre a atual participação na receita das distribuidoras, alcançando desse modo, 50% do faturamento do setor", afirma.
Outra forma de aliviar a pressão e evitar um aumento exagerado no preço da energia em curto prazo é adotar a geração eólica. Essa opção se mostra adequada porque o plano de contingência do governo estabelece o desligamento ou o uso de óleo combustível nas termoelétricas, que acaba elevando o custo da energia para até R$ 770 MWh. Sérgio Marques, presidente da Bioenergy, empresa geradora eólica, o preço da energia seria mantido no mesmo nível do custo das térmicas que funcionam a GN vindo da Bolívia. Nesse caso, a indústria teria o gás necessário e o sistema elétrico não estaria desabastecido, caso os reservatórios estivessem vazios.
Veículo: DCI