Para driblar a concorrência com Ticket e Sodexo, líderes do segmento de cartões múltiplos consignados à folha de pagamentos, denominados de cartões de benefício (vales de alimentação, de compras e até de combustíveis), área que deverá movimentar este ano cerca de R$ 20 bilhões, empresas médias como Unik e Get net buscam novos nichos, como o interior do País e contratos no exterior, mais na América Latina.
Criada no Rio Grande do Sul, a Get net começou suas atividades em 2003 e teve faturamento estimado em R$ 1,7 bilhão ano passado. Para ganhar musculatura, agora ela analisa outras regiões do País e do exterior. "Começamos operações no Chile e no México, dois países que, com exceção das capitais, não têm grande atendimento de agências bancárias. Muitas empresas não fornecem aos funcionários mecanismos de financiamento para suas necessidades", afirma José Roberto Hopf, presidente da empresa
No Brasil, a Get net, com 200 mil pontos eletrônicos em 130 mil estabelecimentos atendidos, prevê atacar áreas periféricas das capitais. "Temos muitas bandeiras regionais, que não têm espaço no mercado nacional e estão entrando no nosso sistema. Estou falando em números de 400; 500 mil cartões regionais. Existe possibilidade de crescimento em cidades perto das capitais, como Osasco e São Bernardo do Campo, em São Paulo. Imaginamos ainda o interior do Pará. É na periferia e nos interiores que vemos possibilidades de negócio."
Para Hopf, a economia brasileira está em uma curva crescente e diversificada. "Estamos confiantes no mercado nacional e no da América Latina. Temos Peru, Chile, México e Colômbia crescendo bastante e com populações de baixa renda que rapidamente migram à classe média."
Unik
Adquirida em 2004 por um fundo de private equity da Rio Bravo, a Unik, que pertencia ao grupo francês Sodexo, fornecia benefício a redes de farmácias. Passados dois anos, a empresa ampliou os serviços para benefícios em geral. Hoje, tem mais de 1 milhão de cartões de benefício a funcionários de empresas médias e pequenas, com salários até R$ 1 mil.
Com taxa de crescimento média de 40% ao ano, a empresa não tem plano, a curto prazo, de atuar fora do Brasil. Vê parcerias, porém, quando resolver alçar vôos mais altos. "Fizemos parceria com o IFC [ramo do setor privado do Grupo Banco Mundial] e o Banco Interamericano de Desenvolvimento [BID] para atuar fora do Brasil. Mas, a curto prazo, focaremos o mercado doméstico. Não faria sentido atuar na América Latina e deixar o Brasil desatendido", disse o presidente da Unik, José Roberto Kracochansky.
Para o executivo, o limite para o crescimento são os trabalhadores formais que habitam as classes C, D e E. "Hoje temos mais pessoas com carteira assinada e pelo menos 19 milhões em regime de CLT, mas os salários são baixos. O que oferecemos é mais que o vale do fim do mês; às vezes o crédito consignado em folha de pagamentos chega a um salário e meio. As pessoas podem comprar produtos de primeira necessidade, como alimentos, e também realizar sonhos, como o de um eletrodoméstico novo."
A perspectiva da Unik é de colocar mais 500 mil cartões nos próximos 12 meses. Kracochansky explica que para o funcionário ter o cartão é necessário que a empresa feche acordo e posteriormente o funcionário solicite o benefício. "Este tipo de crédito não substitui os benefícios oferecidos pelas empresas, pois, geralmente vale-refeição e transporte já está incluso no salário. Oferecemos este microcrédito a aposentados e funcionários públicos, mas este mercado esta saturado."
Economia
O professor de Economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) José Eduardo Amato Balean explicou, em entrevista exclusiva ao DCI, que os cartões-benefício são um fenômeno recente na economia do Brasil.
"Ainda não temos dados para avaliar o impacto deste dinheiro na economia." Ele explica que este dinheiro é uma forma de melhorar a renda do trabalhador, sem sofre encargos sociais. "O correto seria elevar o salário, mas isso gera encargos às empresas. O dinheiro de plástico ajuda."
De acordo com Balean, em um país desenvolvido a renda per capita é de US$ 35 mil por ano, enquanto no Brasil é de 8 a 9 mil. "As classes menos abastadas começam a comprar mais que alimento, que é a primeira necessidade. Elas compram roupas e depois um eletroeletrônico. Muitas vezes no próprio bairro."
Para o presidente da Get net, José Roberto Hopf, como o cartão chega a lugares menos abastados, faz um grande movimento na economia do local, favorece a criação de empregos e gera renda."Comparemos a um programa de inclusão social do governo. Estes cartões geram inclusão social, muitas vezes não mapeada em situações formais por pesquisas."
Para Hopf, quando há introdução de um cartão, seja de benefício, alimentação, movimenta-se uma cadeia comercial. "Duas, três pessoas são empregadas no pequeno comércio, ao passo que se fosse em uma situação de varejo, empregaria muito menos", ressalta Hopf.
"São pessoas que trabalham no próprio bairro e que acabam consumindo ali mesmo", analisa. Ele acredita que haja impacto também no grande varejo, uma vez que estes abastecem pequenos comércios. "O cartão-benefício agrega movimentação financeira e aumenta o crédito do trabalhador. Isto fortalece a economia e não gera inflação."
A mesma opinião tem o professor, que disse que o Nordeste tem índices de crescimento econômico maior que o Sudeste e o Sul devido ao consumo das menores classes. "Com renda melhor, a capacidade ociosa das empresas é preenchida", diz Kracochansky, e analisa: "É a chance de essa classe em ascensão comprar".
Para o presidente da Get net, os cartões-benefício ocupam forte espaço nas classes D e E. "Nosso foco são aquelas pessoas que não têm acesso a bandeiras internacionais de crédito. O cartão permite que ele faça pequenas compras no bairro dele, movimenta a economia de forma muito rápida", salienta.
Veículo: DCI