A moeda norte-americana em baixa deixou o consumidor com maior poder de compra no fim do ano, já que vários produtos estão mais baratos. Especialistas, no entanto, acreditam que o dólar deve voltar a subir. Hora de aproveitar
O dólar em baixa e a renda em alta elevaram o poder de compra dos brasileiros, principalmente em relação aos produtos importados. A cotação da moeda norte-americana caiu 26% no acumulado do ano até 20 de novembro.
Enquanto isso, a renda média real da população cresceu 1,81% em agosto ante o mesmo mês do ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Não bastasse isso, a renda do trabalhador, em comparação com a cotação do dólar, nunca esteve tão valorizada.
É por isso que produtos eletroeletrônicos, passagens aéreas e de alguns alimentos estão mais baratos nesse ano. O preço de uma máquina fotográfica, por exemplo, caiu 5,95% de janeiro a outubro, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE. O mesmo índice mostra queda também no preço de aparelhos telefônicos (-5,27%), computadores (-5,24%) e do azeite de oliva (-5,26%). “Todos os produtos importados ou que têm componentes importados estão mais baratos”, diz o economista da Universidade de São Paulo (USP) Heron do Carmo.
Os preços de passagens aéreas tanto para destinos locais quanto para internacionais caíram por causa da desvalorização do dólar. De acordo com a Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav) o preço das passagens caiu 25% de outubro do ano passado a julho deste ano. “Os insumos das companhias aéreas e o combustível para avião ficam mais baratos porque é tudo baseado em dólar” diz Leonel Rossi Junior, diretor Abav.
Nos supermercados, o dólar baixo favoreceu a entrada de novos produtos, de acordo com o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumo Honda. “Você tem linguiças de Portugal, diversas marcas de azeite de oliva importadas, mesmo nas lojas das periferias”, afirma.
A entrada desses produtos importados na área alimentícia também tem o efeito benéfico de conter a alta dos produtos nacionais, por causa da concorrência de preços. “Com produtos mais baratos a inflação como um todo cai e há ganho de renda da população”, explica Carmo.
O eletricista Ricardo dos Santos, de 47 anos, aproveitou o bom momento dos preços para comprar uma geladeira e um fogão, na última quinta-feira. “O preço da geladeira caiu R$ 100 em dois meses e resolvi comprar”, diz ele, acompanhado da esposa Karine Santos, de 20 anos.
A publicitária Andrea Panucci, de 28 anos, percebeu no aparelho Nextel o ganho de renda. “No ano passado paguei R$ 280 num aparelho. Neste ano, comprei quatro, a R$ 120 cada”, diz ela, que acompanhava a amiga Dina Pretes, de 50 anos, à procura de novas ofertas na Rua 25 de Março.
A rua, que concentra boa parte da venda de produtos importados populares de São Paulo, a desvalorização do dólar ainda não chegou totalmente às lojas. “As compras de Natal foram feitas em março, quando a moeda o dólar ainda não estava tão desvalorizado”, diz Gustavo Dedivits, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Produtos Populares (Abipp).
Segundo ele, o consumidor vai perceber preços mais baixos dos produtos populares a partir da volta às aulas, no início do ano que vem. “Atualmente os importadores estão adquirindo produtos de papelaria, já com essa cotação menor do dólar.”
Na opinião de Dedivits, essa taxa de câmbio, no entanto, não deve se manter por muito tempo. “Uma cotação equilibrada é do dólar a R$ 2”, diz. Para o consultor financeiro e professor da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap), Marcos Crivelaro, a moeda norte-americana não deve sofrer muita alteração até o fim do ano. “O valor do dólar vai subir gradativamente ao longo de três meses a um ano, talvez um pouco mais”, afirma.
Por esse motivo, ele diz que os fundos de investimento lastreados em dólar podem ser uma boa opção para o investidor conservador, que pretende ganhar mais do que a poupança.
Maior poder de compra desde 94
A relação entre renda e dólar medida pelo indicador salário e câmbio do Banco Central (BC) chegou aos 33,22 pontos em setembro de 2009. Esse é o nível mais baixo desde junho de 1994, data em que o BC começou a medir o índice, com cem pontos. Quanto menor o número de pontos, maior é o poder de compra do trabalhador e mais difícil é a situação das indústrias, principalmente as exportadoras, que recebem em dólar, mas pagam salários em reais.
Por esse motivo, o governo tem buscado alternativas para fazer com que a cotação do dólar suba novamente e dê mais fôlego ao exportador. Entre as medidas lançadas até agora estão a taxação de 2% sobre o capital estrangeiro que entra na Bolsa de Valores de São Paulo e de 1,5% sobre as ações de empresas brasileiras negociadas no exterior. “Estamos numa situação em que o real está extraordinariamente valorizado em relação ao dólar”, diz o economista da Universidade de São Paulo (USP), Heron do Carmo.
O economista diz que além das medidas de taxação, o investimento em produtividade e infraestrutura ajuda a aliviar as pressões que o dólar baixo tem sobre a indústria. “Todo investimento que signifique uma economia de custos para a indústria ajuda a suportar o dólar mais barato”, diz. Ele ressalta que o momento é propício ao investimento porque o dólar barato reduz o preço de máquinas e equipamentos para a indústria.
Embora prejudique a indústria, a queda do dólar beneficia o setor de serviços, de acordo com o professor da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap), Marcos Crivelaro. “O dólar barato derruba o preço de mercadorias e insumos e gera empregos no comércio e em restaurantes.” O maior poder de compra do consumidor, diz, também movimenta o mercado e gera mais empregos.
Veículo: Jornal da Tarde - SP