Associação dos transportadores prepara um reajuste dos preços

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Uma pesquisa da NTC & Logística realizada com 314 empresas mostrou a necessidade de recuperar os custos que ficaram estagnados pelas condições do mercado

 

A crise financeira que começou nos Estados Unidos em 2008 e que se alastrou pelo mundo, causando prejuízos bilionários, ainda deixa rastros. No Brasil, o impacto não foi imediato e não causou tantos danos ao setor bancário. Mas, a retração da economia e a queda no volume de exportações e da demanda interna, provocaram danos muito sérios para vários setores, entre eles o de transportes.

 

Com a redução na movimentação de produtos industriais, muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas ou parte de suas unidades. Aquelas que permaneceram, também tiveram de criar alternativas para se adequar à nova realidade que se apresentava no mercado no momento. Uma das conseqüências foi a manutenção ou a redução nas tarifas de fretes pagas aos embarcadores.

 

Agora que o Brasil vive um novo cenário, de reaquecimento da economia, para garantir a prestação de serviços com a qualidade exigida pelo mercado e, ao mesmo tempo, conseguir manter a capacidade de investimentos, principalmente em tecnologia, as transportadoras vêem a necessidade de negociar uma recomposição das tarifas de fretes, em percentuais que podem chegar a 15%.

 

Uma pesquisa realizada pelo departamento de custos (Decope), da Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística (NTC & Logística), realizada com 314 empresas transportadoras de carga, no final do primeiro semestre, apontou as principais conseqüências da crise além de algumas preocupações. O resultado foi validado por meio de consulta às empresas membros da Câmara Técnica de Tarifa e Comercialização (CTTC).

 

O estudo da NTC& Logística indicou que a crise que se desencadeou na metade do segundo semestre do ano passado impediu o repasse na sua totalidade dos custos, calculado em 7,6%, durante o primeiro trimestre de 2009. Além disso, muitas empresas, como forma de se proteger da queda brusca na demanda de carga, concederam descontos no período, que, em muitos casos, ultrapassaram 15% dos valores cobrados.

 

A pesquisa indicou o primeiro trimestre de 2009 como a pior fase da crise econômico-financeira, com queda de mais de 30% para um terço dos pesquisados. Em contrapartida, revelou também, que, para 84% das empresas, o mercado hoje está igual ou melhor do que antes da crise – o que indica uma mudança no comportamento da demanda. “Se a constatação do fato de que a crise passou trouxe, por um lado, uma certa tranquilidade, por outro, criou um problema sério com relação à qualidade exigida no atendimento e à necessidade de investimento para atender o crescimento da demanda pós- crise”, destaca o presidente da NTC&Logística, Flávio Benatti.

 

“Hoje, pelo fato de muitas empresas terem se desmobilizado em função da crise, fechando unidades ou parte da estrutura, ou por terem adiado investimentos, já faltam espaços nos terminais das transportadoras para a demanda de carga atual. A tendência é que a situação venha a piorar, pois a expectativa de crescimento do Brasil nos próximos anos é de uma média de pelo menos 5% ao ano. Alguns fatos em especial, como a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas em 2016, além da exploração do pré-sal – reforçam esta previsão”, afirma Benatti.

 

Segundo ele, historicamente a prática vêm demonstrando que o setor de transporte tende a crescer três vezes o valor do PIB. Neste caso, o setor deve ter um crescimento anual de 15% nos próximos anos. Entretanto, para que isto ocorra, serão necessários grandes investimentos em infraestrutura, veículos e implementos, capacitação de mão de obra e treinamento, principalmente dos motoristas.

 

Benatti afirma ainda que para agravar toda esta situação, as exigências e restrições, por parte do governo e das empresas contratantes, só vêm aumentando. “Com a justificativa de melhorar o trânsito nas cidades e nas estradas, em nome da segurança ou do meio ambiente, algumas vezes até por conveniência, são criadas cada vez mais taxas, vistorias, licenças, e restrições à circulação dos veículos comerciais, o que acaba encarecendo o serviço de transporte rodoviário de carga”.

 

Por estes motivos e por todo o novo panorama econômico que se impõe é que o estudo realizado pela NTC& Logística constatou a urgência em reajustar o frete em pelo menos 15%, além de resgatar a necessidade da aplicação das generalidades.

 


Setcergs recomenda um realinhamento das tabelas em 15%

 

Para o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs) a recomendação da NTC & Logística, braço técnico que orienta o setor, retrata a situação e as necessidades das empresas de transporte gaúchas. A constatação da urgência do realinhamento dos preços em 15%, além de recomendação de cobrança adequada dos serviços adicionais - entregas especiais,  paletizações, agendamentos, devoluções de comprovantes, são confirmadas pelo presidente do Setcergs, José Carlos Silvano. 

 

Segundo ele, a necessidade de recomposição tarifária é urgente. Durante a crise muitas empresas além de não reajustarem os fretes nas datas costumeiras, cobraram abaixo dos valores normalmente exigidos, em função das dificuldades do mercado no período. “A demanda pelos prestadores de serviço das transportadoras - carreteiros e funcionários terceirizados - está muito alta, o que acaba elevando os custos dos seus serviços”, afirma Silvano. Além disso, os transportadores também sofrem a pressão dos preços dos fornecedores de implementos rodoviários, que vêm aumentando à medida que a procura tem crescido.

 

No Setcergs, a Comissão de Equilíbrio Concorrencial é a responsável pela análise do cenário econômico de cada ano para sugerir a recomposição tarifária ao setor. “Estamos fazendo um trabalho que visa à melhoria do transporte de cargas, principalmente, de fracionadas. A comissão também tem o papel de recompor planilhas de custo do setor de transportes”, afirma do coordenador da comissão, Renê Mesquita.

 

Ele conta que entre os itens analisados, e que demonstram a necessidade de realinhamento de preços para este ano, estão o reajuste nos salários em 5,82%, em função do pagamento do dissídio aos funcionários da categoria em maio deste ano; o aumento de 7,69% nos custos do pedágio cobrado na freeway, assim como a implantação de novos pedágios nas BR-101 e BR-116; aumento nos valores de frete carreteiro, decorrente da demanda de final de ano e contratações de mais funcionários.

 

“O congestionamento nas áreas urbanas e as restrições de circulação em alguns locais também têm aumentando consideravelmente os custos de coletas e entregas. Como os caminhões permanecem muito tempo em engarrafamentos, a produtividade cai e o custo aumenta, inclusive da mão de obra”, complementa Mesquita. A elevação do valor do gerenciamento de riscos e das apólices de seguro, que têm seus prêmios majorados pelo aumento da sinistralidade, também contribuem para a indicação de elevação do preço dos fretes.

 

Empresários já começaram a negociar com os clientes

 

Na transportadora Rapidão Cometa, a estratégia utilizada para recompor o valor do fretes é a negociação direta com cada cliente. “Um dos nossos principais insumos, nesta época do ano, é a mão de obra dos carreteiros. O problema é que, em função da procura, muito elevada neste período de final de ano, os preços pagos pelos serviços prestados estão mais caros”, afirma o diretor da Regional Sul, José Bono.

 

Além disso, apesar de não ter havido aumento no valor dos combustíveis neste ano, também não houve redução. “O governo federal havia prometido que baixaria o valor do diesel em 9% quando o dólar baixou. No entanto, essa redução só ocorreu na refinaria. Na bomba a queda do preço não chegou a 3%”, completa Bono.

 

Para o presidente da Modular Cargas, Renê Mesquita, o sucesso das negociações está na particularização de cada contrato e na avaliação das peculiaridades de cada cliente. “O mercado apresenta condições para que os preços dos fretes sejam realinhados em valores que vão de 6% a 15%. Nós já iniciamos as negociações com nossos clientes. Estamos procedendo a uma revisão, através da análise de todos os custos operacionais de cada cliente para chegar a um preço justo”, revela Mesquita. “O importante é que a empresa tenha condições de fazer investimentos na formação dos recursos humanos, em infraestrutura e em  tecnologia da informação para que a empresa consiga atender a demanda atual e futura com eficiência e qualidade.”

 

Estes fatores, associados ao pagamento de dissídio, custos com fornecedores, defasagem nos reajustes nas datas acordados pela categoria, levaram a empresa a buscar uma reposição no valor dos fretes em percentuais que vão de 7,6 % a 19,8%. “A negociação está mais difícil para o mercado de carga fechada. No caso de cargas fracionadas, como a demanda está muito alta, está mais propício”, afirma Bono. O diretor conta que mesmo os reajustes com data-base em janeiro e fevereiro já estão sendo acordados agora. 

 

O presidente da Associação Gaúcha dos Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, reconhece a necessidade de um reajuste no valor do frete cobrado pelos transportadores. Ele explica que o custo do frete corresponde entre 1,5% e 2% do valor final do produto oferecido para venda ao consumidor. “Na planilha de custos isso significa que, se a tarifa do frete aumentar 10%, o aumento será de 0,2% sobre o valor do produto”, revela.

 

A contratação do transporte hoje em 70% dos casos é feita pela indústria. “Como as indústrias têm um bom poder de barganha em função dos volumes movimentados, acredito que o reajuste das tarifas vai ficar entre 8% e 10% de aumento”, ressalta Longo.

 


Veículo: Jornal do Comércio - RS


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