Importação sobe 80% e Brasil negocia TEC de 28% para o leite

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As aquisições de leite no mercado externo já são 80% maiores que as registradas no ano passado. Em dez meses, o Brasil importou 115 mil toneladas de produtos lácteos ante 63,8 mil toneladas do mesmo período no ano anterior. Em receita, os gastos brasileiros com a compra desses produtos aumentaram de US$ 178,2 milhões para US$ 224,2 milhões.

 

Para conter a entrada do produto importado, o governo federal negocia com os membros do Mercosul para que seja adotada uma Tarifa Externa Comum (TEC) de 28% para o produto comprado de fora do bloco. O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) também pleiteia junto à Câmara de Comércio Exterior (Camex), a elevação da tributação de 27% para leite em pó e outros derivados para até 55%.

 

Segundo Aline Barrozo Ferro, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), apesar da autossuficiência brasileira em produção a cotação foi influenciada pela queda nos preços internacionais e a valorização do real, que elevou a competitividade dos produtos de outras origens. "As elevadas importações a preços relativamente baixos tem desfavorecido os produtos nacionais com que vem competindo de forma significativa", avaliou Ferro. Em outubro os preços, em dólares, dos queijos estiveram 52% inferiores ao mesmo período de 2008. Para os leites fluidos (UHT), a queda no preço foi de 42% e, para o leite em pó, 39%.

 

A queda no preço para ter competitividade e o aumento de captação resultaram em uma forte redução nos valores pagos aos produtores de leite em novembro. De acordo com levantamento do Cepea, os preços brutos praticados em novembro (referentes à produção de outubro) recuaram 8,8%, ou 6,13 centavos por litro, em relação ao mês anterior, com a média ponderada de sete estados produtores, indo para R$ 0,6371 o litro.

 

Os preços pagos pelo leite ao produto, em novembro, tiveram queda em todas as praças pesquisadas pelo Cepea, sendo que a maior redução foi observada no Rio Grande do Sul: de 8,75 centavos por litro, ou 13,16%, com a média a R$ 0,5773 o litro. O estado foi prejudicado pela forte incidência das chuvas que teriam comprometido a qualidade e o escoamento do produto.

 

A pesquisadora do Cepea ressalta que apesar da desvalorização do último mês no mercado internacional, as cotações estão se recuperando, o que pode limitar compras externas e mesmo incentivar vendas nacionais. "Há uma possibilidade de retomada no final do ano com a recuperação de exportações e a redução da importação", disse Ferro.

 

Segundo Jorge Rubez, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil), os fundamentos acenam para bons preços pagos ao produtor, no entanto, a indústria e o varejo pressionam. "Ou cobram mais barato ou não compram e quem paga o preço é o produtor que não pode dar férias para vaca", disse Rubez.

 

O presidente da Leite Brasil prevê que o preço do leito no Brasil termine o ano variando entre R$ 0,65 o litro e R$ 0,70 o litro, o que, segundo ele, não cobre custo de produção que hoje está estimado em 0,80 por litro, aproximadamente.

 

Rubez estima ainda que a receita com as exportações de leite do Brasil em 2009 fiquem em cerca de US$ 300 milhões, uma queda significativa comparada aos US$ 500 milhões registrados em 2008. Uma das principais razões para a queda nas exportações brasileiras é a retração da economia venezuelana. No ano passado, o país foi o principal importador do leite brasileiro, respondendo por quase 50% das aquisições, mas este ano em função da crise o volume caiu de 47,9 milhões de toneladas para 7,7 mil toneladas e em receita, de US$ 226,8 milhões para US$ 30,8 milhões.

 

Um dos impactos da diminuição de renda dos produtores será a desaceleração da produção. "Tradicionalmente estávamos aumentando 5% a produção ano a ano, mas nessa safra não vamos ter aumento de produção. Se repetirmos os 27 bilhões de litros temos que levantar as mãos", afirmou Rubez. O presidente da Leite Brasil não se mostrou muito otimista em relação à possibilidade da TEC para o leite. "Tem muita coisa em jogo. Essas negociações sempre envolvem mais coisas que a gente imagina", salientou.

 


Veículo: DCI


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