Consumidor vai às lojas, mas reclama dos descontos

Leia em 4min

A exceção fica por conta das ofertas-relâmpago, de preços menores

 

Pavilhão do Anhembi, em São Paulo, 14h30 de ontem, durante o 24º dia de operação da Super Casas Bahia, o pizzaiolo Alan Araújo e a esposa Camila de Oliveira, operadora de caixa e grávida de quatro meses, estão ali, no estande central da Super Casas Bahia, ao lado de uma máquina de lavar roupas desde o meio dia. "Esperei o Natal passar para aproveitar as promoções", diz Alan. "Não vou sair daqui enquanto não fizerem a promoção relâmpago". Às 15h, o sistema de som do pavilhão começa a tocar um som de trombetas.

 

No mesmo estande onde estão Alan e Camila, um moço magrinho, alto e de óculos, munido de um microfone, se apresenta: "Olá, sou Márcio Alegria e estou aqui para apresentar mais uma rodada de ofertas-relâmpago da Super Casas Bahia!" . Gente de todos os cantos do Anhembi correm para o estande, onde estão reunidos os artigos de saldos: geladeiras, TVs, fogões e vários eletrodomésticos.

 

"Vou anunciar as ofertas agora. Quem quiser comprar, levanta a mão e um vendedor vai fechar a compra para você", diz Alegria, de cima de um banquinho, segundos antes de anunciar a primeira promoção do dia: relógios de pulso Mondaine, de R$ 199 por R$ 49. O número de interessados não é tão grande, afinal, os objetos de desejo dos consumidores ali são artigos maiores: microondas, secadoras, aparelhos de ar condicionado. Mas quando Alegria anuncia a câmera digital 7.2 megapixels Samsung de R$ 699 por R$ 239 e o celular Sony Ericsson W 580 de R$ 599 por R$ 249, a audiência se anima. Em menos de 50 segundos Alegria vende 20 câmeras e 10 celulares.

 

"E a máquina de lavar?", pergunta Alan. Essa, Alegria só anunciou quando eram 15h45: de R$ 629 por R$ 439, com possibilidade de parcelamento em dez vezes sem juros no cartão de crédito. "Tinha que estar no trabalho às 15h, mas só posso comprar por esse preço. Não tenho como pagar o preço fora da promoção. Vale a pena", diz o pizzaiolo.

 

Ofertas-relâmpago como essas fazem parte da temporada de saldos de Natal que começou após o feriado em várias cidades do país. Liquidações pós-Natal são tradicionais na Europa e nos Estados Unidos. Começam logo no primeiro dia útil depois do dia 25 de dezembro e atraem milhares de consumidores, que fazem fila na porta de grandes lojas como Marks & Spencer em Londres ou a Macy´s em Nova York. No Brasil, o costume ainda é novo, mas já atrai boa quantidade de consumidores. O problema é que, com exceção das ofertas-relâmpago como as da Super Casas Bahia, os descontos não têm empolgado.

 

"Se você acha que R$ 10, R$ 20 são bons descontos, então vale a pena. Mas para mim isso não é oferta. Para baixar preço tem que ser R$ 50, R$ 100 de diferença", diz o estagiário de Direito Edson Quirino, que aproveitou a folga de final de ano para fazer compras no centro de São Paulo. "Deixei para vir depois do Natal porque esperava preços melhores, mas nada me animou ainda", diz ele, de olho em uma TV de LCD.

 

As redes Extra e Ponto Frio organizaram promoções com descontos, segundo elas, de até 70%. As lojas online também fazem promoções, assim como as lojas temporárias Super Casas Bahia (até 8 de janeiro) e a Ponto Frio Mega Store. Mas muitas das promoções, diz José Moura, dono de lanchonete em São Paulo, estão concentradas em artigos que não interessam.

 

"A maioria das TVs de LCD em oferta não são Full HD ou vêm sem o conversor digital embutido", diz, ao lado da esposa Jandira Moura. Na Casas Bahia, as TVs em oferta tinham essa configuração. "Vendemos ontem TV LCD de 32 polegadas de R$ 1699 por R$ 1.250. Não sobrou nenhuma, mas era TV comum, sem nenhum recurso digital e da marca Buster", disse um vendedor da Super Casas Bahia.

 

A professora aposentada Vera Lúcia de Oliveira também se decepcionou com as ofertas. "Tem mais propaganda que desconto", disse, depois de andar horas por lojas do centro de São Paulo e não encontrar o que queria. "O povo ainda está com o 13º no bolso. Por isso não baixaram os preços. Mas em janeiro, quando todo mundo tiver que pagar escola, IPTU e IPVA, aí sim é que as ofertas vão começar", prevê ela.

 


Veículo: Valor Econômico


Veja também

Começou a reação

Pouco depois da fusão entre Pão de Açúcar e Casas Bahia, Walmart anuncia investimentos de R$...

Veja mais
Casas Bahia desiste do Rio Grande do Sul

Quando inaugurou as primeiras quatro lojas da Casas Bahia no Rio Grande do Sul em outubro de 2004, com 20 mil clientes p...

Veja mais
Mercado de leite

O Índice de Captação de Leite apurado pelo Cepea foi recorde em novembro e subiu 1,4% sobre o m&eci...

Veja mais
Promoção do café

O Ministério da Agricultura divulgou ontem que o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) investiu q...

Veja mais
Hypermarcas faz 1ª oferta de debêntures

Mercado de capitais: Emissão, de R$ 200 mi, visa refinanciar dívidas de curto prazo após uma s&eacu...

Veja mais
Apreensão de remédio ilegal sobe 80% no ano

Ações conjuntas entre Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Ministé...

Veja mais
Latas responsáveis

Uma das pioneiras em publicidade de consumo responsável, a Skol pretende reforçar seu incentivo ao tema. A...

Veja mais
Stephanes defende autossuficiência na produção de trigo

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse que o governo precisa decidir, no início do próximo a...

Veja mais
Preço do açúcar em São Paulo ultrapassa os R$ 60 por saca

Depois de recuar 3,4% em novembro, o Indicador do Açúcar Cristal Cepea/Esalq (com referência no Esta...

Veja mais