De hippie ele não tem nada

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Quando Joe Valle começou a plantar produtos orgânicos, diziam que era coisa de "bichogrilo". Hoje, sua propriedade, a Malunga, é um exemplo mundial de lavoura consciente

 


Hippie! Louco! Visionário! O fazendeiro Joe Valle, 45 anos, já nem se lembra mais do número de vezes em que foi chamado dessas formas desde que decidiu atuar no agronegócio há 25 anos. Hippie porque decidiu plantar produtos orgânicos numa época em que isso era coisa de gente “natureba”. Louco porque dizia que ganharia dinheiro dessa maneira. Visionário, o que ele passou a escutar com frequência nos últimos anos, porque enxergou o que estava na frente de todos e ninguém viu: o mundo buscaria produtos saudáveis, ecológicos e sustentáveis. Foi com essa visão de futuro que Valle criou a Fazenda Malunga, propriedade de 140 hectares a 70 quilômetros de Brasília que se converteu em uma das mais modernas do mundo. “Quando comecei, esse negócio era coisa de bicho-grilo”, diz Valle. “Hoje, é tendência em agricultura e vem gente do mundo todo aprender como fazemos.” De sua fazenda, saem 500 toneladas de hortaliças todos os meses, o que garante um faturamento anual de US$ 5 milhões. “Mais do que mostrar que dá para ganhar dinheiro produzindo orgânicos, queremos levar esse conceito para todo o Brasil”, diz Valle.

 


O início da aventura de Valle no mundo dos orgânicos não se deu da noite para o dia. Antes de vender produtos que respeitam o meio ambiente, ele sentiu na carne – e no bolso – os problemas do cultivo tradicional. “Na minha primeira tentativa fui à falência”, diz. “Na segunda, fui intoxicado por agrotóxicos.” Essa, contudo, foi a gota d’água que levou o então jovem estudante de engenharia florestal a buscar novas alternativas. E foi em Atibaia, interior de São Paulo, que Valle plantou a primeira semente. Em 1985, durante as férias, ele visitou Yoshio Suzuki, um dos precursores da agricultura orgânica no Brasil, para aprender os segredos da lavoura consciente. Não só absorveu todos os conhecimentos como os levou para a Fazenda Malunga em uma área de 13 hectares. Deu tão certo que hoje, além de ocupar uma área dez vezes maior, a fazenda também produz ovos, leite e derivados orgânicos. “Crescemos 30% ao ano e não conseguimos atender à demanda”, diz Valle. A ideia é ganhar dinheiro, mas protegendo a natureza. Justamente por isso, os animais, por exemplo, são tratados à base de homeopatia. As plantações são adubadas sem adição de nenhum tipo de agrotóxico. “O mundo busca esses produtos e, aos poucos, os consumidores vão ficando mais conscientes do valor agregado que eles carregam”, diz Ming Liu, coordenador executivo do Organics Brasil, projeto em conjunto com a Apex para exportar os produtos orgânicos.

 


O sucesso de Valle no campo o levou ao Ministério da Ciência e Tecnologia, onde presta consultoria sobre esse tipo de negócio. A julgar pelos números da Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica (Ifoam), o País está muito bem posicionado. Atualmente, o Brasil é o terceiro país com maior área certificada de agricultura orgânica do mundo, com 1,77 milhão de hectares – perde apenas para os Estados Unidos e a Austrália. “Toda semana recebo produtores interessados em aprender as técnicas do cultivo orgânico”, diz Wilson Tivelli, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Muitos, é verdade, de olho no mercado externo. Em 2008, os produtores brasileiros exportaram US$ 58 milhões e devem fechar 2009 com US$ 60 milhões. “Para 2010, prevemos US$ 70 milhões em exportações”, diz Liu. Já o mercado interno, que, em 2009, fechou com um faturamento estimado em US$ 250 milhões, deverá crescer 15%. Ainda é pequeno diante do mercado mundial, que movimenta ao redor de US$ 40 bilhões, mas é um começo. Joe Valle, o visionário – é bom deixar claro –, sabe muito bem disso.

 

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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