Philips vai produzir LCD no Brasil

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Companhia planeja investir R$ 200 milhões na fabricação de telas de cristal líquido


    
A Philips prepara uma ofensiva na área de televisores de tela de cristal líquido (LCD) para ganhar terreno no mercado brasileiro. A fabricante de eletroeletrônicos, conforme apurou o Valor, vai trazer para o país a produção de suas telas de LCD, processo que até agora estava centralizado em uma fábrica da companhia instalada na Polônia. O projeto é ambicioso. A Philips pretende investir R$ 200 milhões na produção local das telas de LCD durante o primeiro ano de atividade. A expectativa é de que 1 milhão de unidades de telas sejam montadas nesse prazo.

 

Toda a produção de LCD - voltada exclusivamente para a montagem de televisores - será concentrada na unidade de Manaus. Ao longo de três anos, a previsão é de que o investimento total da Philips na fabricação de LCD deva ultrapassar a marca dos R$ 720 milhões, ampliando o volume produzido para 1,3 milhão de unidades de LCD em 2012.

 

A companhia já começou a estruturar a operação e cerca de 500 pessoas podem ser contratadas este ano. O faturamento projetado para a divisão de TVs é de R$ 900 milhões nos primeiros 12 meses de atividade, saltando para R$ 2,37 bilhões nos dois anos seguintes.

 

Procurada pelo Valor, a Philips concedeu entrevista, mas informou que não poderia comentar informações sobre seus investimentos. "O que podemos dizer é que teremos ações concretas e mudanças estruturais. Passamos por uma fase de renovação de nosso compromisso estratégico com o país", disse o presidente da Philips no Brasil, Marcos Bicudo. "Com essa estratégia, seremos o primeiro fabricante de televisores de LCD 'verde e amarelo' do país e vamos trazer para cá uma oferta completa de aparelhos."

 

Na prática, o que a Philips passará a fazer é um processo de montagem mais amplo que o geralmente feito por outros concorrentes instalados no país. Tradicionalmente, o que qualquer companhia do setor faz é importar da Ásia uma tela já integrada a uma série de dispositivos. Para a operação nacional, restam as etapas básicas de finalização do equipamento, como o encaixe do tampo do aparelho e de um receptor de canais. O plano da Philips é fazer no país a montagem completa dessas telas de LCD, importando a matéria-prima. Em vez de adquirir um produto pré-montado, a empresa vai comprar, separadamente, todos os componentes que formam uma TV, entre eles as placas de vidro polarizado, o material mais caro usado nas telas de LCD. "Essa mudança vai gerar um impacto enorme de sustentabilidade", diz Bicudo. "Em um ano, deixaremos de trazer para o Brasil 67 toneladas de papelão e 35 toneladas de isopor que são usados no transporte dessas telas."

 

A produção local envolverá parcerias com outros grupos. "Vamos ter pelo menos 12 novas companhias ligadas à nossa cadeia produtiva, gerando mais de 5 mil postos de trabalho indiretos", diz Fabiano Ribeiro de Lima, gerente geral de assuntos corporativos da Philips.

 

Ao trazer o LCD para o Brasil, a companhia passa a ter mais velocidade para reagir à demanda do mercado, diz Bicudo. A companhia também projeta redução de custos de produção, embora o executivo não divulgue que impacto previsto.

 

Os olhos da Philips e de todos os fabricantes de televisores do país estão voltados para a Copa do Mundo, que promete turbinar a venda de TVs de alta resolução no país. A tecnologia de LCD, comparada a rivais como o plasma e a tradicional TV de tubo, apresenta maior perspectiva de crescimento. Em 2008, segundo um estudo da empresa de pesquisa GFK, a venda de aparelhos de LCD em todo o mundo representou 48% do total de aparelhos vendidos. No ano passado, o LCD abocanhou 63% das vendas e neste ano a expectativa é de que a participação suba para 73%. O Brasil, que compra cerca de 12 milhões de aparelhos de TV por ano, tem peso na conta. Para a Philips, o país é hoje o segundo maior mercado de televisores em todo o mundo, atrás apenas da Alemanha.

 

Para 2010, diz Bicudo, a meta da Philips é crescer entre 15% e 20%. No ano passado, o faturamento da empresa no país - ainda estimado - foi de aproximadamente € 1,5 bilhão. Na companhia, ninguém duvida de que, se a estratégia de fabricar LCD no Brasil der certo, uma série de concorrentes logo seguirá o mesmo caminho. "O que estamos fazendo vai mudar estruturalmente esse mercado. Acredito que em oito, dez meses, tenhamos concorrentes fazendo o mesmo", diz Bicudo.

 

Competidores como a coreana Samsung observam com lupa a movimentação da rival. Segundo uma fonte próxima à empresa, a Samsung ainda aguarda a definição de detalhes tributários relacionados à importação de componentes para avaliar se a estratégia vale a pena. De acordo com um especialista do setor que prefere não se identificar, a importação de uma tela de LCD pré-moldada responde por cerca de 70% do custo total de um aparelho. "Montar isso no Brasil talvez reduza essa custo em 5%, não muito mais que isso", diz.

 

O diretor da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) Benjamin Sicsú considera pouco provável a redução do custo do LCD para as empresas no Brasil, porque todos os componentes da tela terão de ser importados. Hoje, as companhias importam os componentes de fábricas da China, Coreia do Sul, Japão e Taiwan. A demanda no Brasil tende a crescer. Para 2010, a Abinee prevê aumento nas vendas de TVs de LCD de 4 milhões para até 7 milhões de unidades. No caso de monitores para PC, as vendas devem ser semelhantes às de 2009, de 5 milhões de unidades. As de notebooks devem passar de 5 milhões para até 7 milhões.

 

A tecnologia LCD, segundo Sicsú, deve dominar o mercado brasileiro de tela, pelos menos nos próximos seis anos, roubando espaço do plasma e das telas de tubo. O LED, por sua vez, ganhará espaço no fim da década. "Só se vende tela de plasma com tamanho superior a 32 polegadas, o que dificulta seu uso em equipamentos menores. E o LED ainda tem uma produção muito incipiente", afirma. (Colaborou Cibelle Bouças)
 

 

Veículo: Valor Econômico


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