Especialistas preveem que o consumo doméstico continue aquecido ao longo de 2010
É esperado que as varejistas colham os frutos da recuperação econômica e apresentem fortes resultados no quarto trimestre de 2009 e ao longo de 2010. O otimismo com a reação do consumo já se reflete na bolsa: as ações das principais varejistas mostraram valorização acima do índice Ibovespa em 2009, com altas superiores a 100%. Entre os destaques do ano, figuraram a Guararapes, a controladora da rede de vestuário Riachuelo, e o Grupo Pão de Açúcar.
As ações da Guararapes encerram 2009 com uma valorização de 320%, a maior entre as principais companhias do setor varejista. Além de apresentar um desempenho de vendas acima das expectativas no terceiro trimestre, a Riachuelo anunciou um plano mais agressivo de expansão, afirma a analista Simone Freire, do banco Geração Futuro, que incluiu os papéis da companhia entre as suas recomendações de investimento.
A Guararapes levantou um empréstimo no valor de R$ 443 milhões no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), valor que deve cobrir cerca de 75% dos investimentos previstos pela companhia nos próximos dois anos. "Grande parte desse recursos será destinada à Riachuelo", diz Simone. "A companhia está começando a colher os frutos de seu processo de reestruturação [iniciado em 2007]", acrescenta. Depois de inaugurar apenas oito lojas em 2007 e seis em 2009, a rede prevê abrir 12 unidades em 2010 e 14 em 2011.
O Grupo Pão de Açúcar, cujas ações subiram 112,4% no ano passado, surpreendeu o mercado ao comprar as duas maiores varejistas de eletroeletrônicos do país, Ponto Frio e Casas Bahia. Com as aquisições, a cadeia de supermercados dobrou de tamanho e alçou o seu faturamento para a casa de R$ 40 bilhões, cifra que dificilmente será alcançada pelos seus dois maiores concorrentes no médio prazo, o Walmart e o Carrefour. O Pão de Açúcar projeta ganhos de sinergias de pelo menos R$ 2 bilhões com a integração das duas operações. Segundo relatório do banco Bradesco, esse é um valor "conservador" e há espaço para ganhos ainda maiores.
"As variáveis econômicas, como a expansão do crédito, do emprego e da massa salarial, indicam que 2010 tem tudo para ser um bom ano para o varejo", afirma Marcos Gouvêa, da consultoria GS&MD, especializada no setor. "Mesmo que o governo aumente as taxas de juros, a elevação deve ser leve. Não será forte o suficiente para provocar um grande impacto no valor das prestações", diz o consultor.
A GS&MD projeta que a PMC (Pesquisa Mensal de Comércio), feita pelo IBGE, apresente uma expansão em torno de 6% no quarto trimestre - até outubro, o setor acumulava em 2009 crescimento de 5,1% . "Pode haver surpresas", diz Gouvêa. Para 2010, a consultoria prevê um crescimento do comércio entre 5,5% e 6,5%.
Um dos setores que mais sofreram o impacto da crise econômica foi o varejo de vestuário, mas as expectativas são de que o segmento se recupere com a volta dos parcelamentos. As vendas de vestuário e calçados já deram sinais de reação em outubro, quando cresceram 3,9%. Ainda assim, o setor acumulava queda de 5,2% nos primeiros dez meses de 2009.
Marcelo Varejão, da corretora Socopa, coloca Renner entre as varejistas que devem apresentar bons resultados no quarto trimestre, ao lado da Lojas Americanas. No terceiro trimestre, as vendas da Renner (em lojas comparáveis) cresceram 1,3% sobre igual período de 2008, enquanto a Riachuelo apresentou aumento de 5% e a Marisa, uma queda de 0,3%.
O cenário só permanece difícil para a B2W, controladora das pontocom das Lojas Americanas e Submarino e a maior operação de internet do país. A empresa enfrenta uma forte competição das grandes redes, como Pão de Açúcar (Extra, Ponto Frio e Casas Bahia), Walmart e, em breve, Carrefour.
Veículo: Valor Econômico