Tradings 'desperdiçam' parte da alta do açúcar

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Aproveitar os preços recordes do açúcar, que chegaram a romper durante a barreira dos 30 centavos de dólar por libra-peso na segunda-feira na bolsa de Nova York, não é um privilégio de todos. Por conta da aversão ao risco, tradings estão limitando fixação de preço de açúcar das usinas que, até agora, apesar do bom preço, firmaram apenas 35% do que deve ser exportado da commodity no ciclo 2010/11, que começa oficialmente em abril.

 

O percentual tinha potencial para ser maior, se não fosse o receio das usinas exportadoras de aumentar seus valores depositados para margeamento em bolsa, segundo Arnaldo Luiz Correia, da Archer Consulting. O cuidado não é para menos. O especialista estima que, nos últimos 30 dias, essa "chamada" tenha exigido das tradings da área o depósito de US$ 180 a US$ 200 por tonelada de açúcar fixado.

 
 
Assim, se consideramos o percentual de 35% do que está sendo exportado - ou seja, cerca de 7 milhões de toneladas do produto -, o valor que saiu de caixa dessas exportadores nos últimos 30 dias fica entre US$ 1,2 bilhão e US$ 1,4 bilhão, o equivalente a 15% de toda a receita dos 12 meses de 2009 com os embarques da commodity.

 

Apesar de ter sofrido correção no pregão de ontem em Nova York, os preços do açúcar ainda sinalizam que estão mesmo perto de romper os 30 centavos de dólar por libra-peso, o que seria um feito histórico. Na segunda-feira, por exemplo, os contratos para março bateram em 30,18 centavos antes de fecharem a 29,80 centavos de dólar a libra-peso. Ontem, as notícias de menor crescimento do crédito na China interromperam a sede dos fundos e a cotação recuou 47 pontos, para 29,33 centavos.

 

Ainda assim, as remunerações para o açúcar nesta semana atingiram no Centro-Sul do Brasil uma lucratividade de 100%. Na cotação do dia 25 em Nova York - 29,80 centavos de dólar (março) -, os preços do produto no mercado interno atingiram o equivalente a 30,69 centavos de dólar a libra-peso, para um custo de produção calculado em 15,3 centavos, segundo a consultoria Datagro.

 

Mesmo com as altas do etanol no mercado interno, o açúcar está, de longe, mais atrativo para as usinas. O preço equivalente do anidro fechou no dia 25 a 20,61 centavos de dólar por libra-peso e, o de hidratado, em 19,78 centavos.

 

A fixação da fatia de cerca de 35% da exportação de 2010/11 ficou entre 22 centavos e 26 centavos de dólar por libra-peso, ou seja, abaixo dos níveis atuais, nas estimativas da Datagro. Ainda assim, segundo Plínio Nastari, presidente da consultoria, estão em patamares nunca vistos nos últimos 30 anos. "Esse nível de preço da fixação vai permitir a geração de capital de giro que, por consequência, aumentará a capacidade de estocagem, tanto de açúcar como de álcool", diz Nastari.

 

Mas, obviamente, essa elevada lucratividade do açúcar deve estimular o aumento de produção mundial, provocando mais à frente a inversão do ciclo com oferta maior do que a demanda e preços baixos. No entanto, observa Nastari, a complexidade agrícola da cana-de-açúcar pode fazer com que o ciclo de baixa ainda não chegue na próxima safra. A Índia, por exemplo, pode sair do patamar de 16 milhões de toneladas de açucar do atual ciclo e expandir para 23 milhões e 26 milhões de toneladas na próxima temporada. "No entanto, vai precisar de ter um volume maior de mudas de cana para isso, produção que não está acontecendo agora para atender já o próximo ciclo", observa Nastari.

 

Além disso, a renda que o segmento sucroalcooleiro está obtendo com a venda de açúcar está sendo usada para pagar dívidas, potencializadas durante a crise do ano passado, e não em renovação do canavial. "Assim, a renovação da área agrícola média por safra, que é de 18,5% será nesta safra de 15% a 16% (...) Por isso ainda vejo o ano de 2011 como um ano bom para o setor", diz.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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