Daniel Vasella vai deixar a presidência executiva da gigante farmacêutica suíça Novartis AG após 14 anos, mas continuará a presidir o conselho e passará o cargo de diretor-presidente para Joe Jimenez, cujo longo histórico em segmentos de produtos embalados combina com a crescente preocupação na indústria farmacêutica de controlar custos.
Vasella, um suíço de 56 anos, comandou a Novartis desde 1996 e a transformou em uma das maiores farmacêuticas do mundo em faturamento. Ele disse que, na presidência do conselho, vai se concentrar em prioridades estratégicas, como a conclusão da tentativa da Novartis de comprar, por US$ 50 bilhões, a empresa de produtos oftálmicos Alcon Inc.
Nos últimos dois anos, Jimenez, um americano de 50 anos, chefiou a maior divisão da Novartis - de remédios vendidos sob receita -, onde esteve à frente de um crescimento vigoroso. Ele entrou na Novartis em 2007, tendo passado a maior parte de sua carreira nas fabricantes americanas de alimentos H.J. Heinz Co. e ConAgra Foods Inc. e na empresa de produtos de limpeza Clorox Co., também dos Estados Unidos.
A promoção de alguém como Jimenez para o cargo mais alto da Novartis é relativamente rara no mundo das farmacêuticas, em que o diretor-presidente costuma passar a maior parte da carreira no setor, seja na parte de pesquisa ou de vendas.
Alguns analistas disseram que a escolha de Jimenez reflete um foco cada vez maior em controlar custos no setor farmacêutico. A Novartis e suas rivais enfrentam tempos difíceis por causa do vencimento de patentes para remédios importantes e da recusa cada vez mais comum das empresas de seguro-saúde de pagar por novas drogas caras.
Numa entrevista logo depois de entrar para a Novartis, Jimenez disse que a indústria de alimentos é "mais enxuta" e que respondia melhor a mudanças no mercado, como variações nas preferências dos consumidores. "As margens são mais baixas e o tempo que você tem para agir é mais curto", disse em referência ao setor de alimentos. "A indústria farmacêutica não se focou no passado em eliminar o custo que não agrega valor porque o crescimento era muito bom."
Numa entrevista por telefone ao Wall Street Journal, Jimenez disse ontem que suas prioridades são garantir que a empresa tenha um número saudável de remédios em desenvolvimento; melhorar o relacionamento com empresas de seguro-saúde e outros grandes compradores de remédios; e concluir a aquisição e a integração da Alcon, que ele disse que ajudará a criar uma nova divisão para a Novartis com faturamento anual de US$ 8,5 bilhões.
Uma das tarefas mais urgentes de Jimenez será encontrar uma solução para o fim da patente do maior campeão de vendas da Novartis, a pílula contra hipertensão Diovan, que gera receita de cerca de US$ 5 bilhões por ano. A patente do remédio nos EUA vai expirar em 2012, quando suas vendas devem desabar devido à entrada no mercado de genéricos baratos.
Jimenez já disse que planeja compensar essa receita expandindo-se nos mercados emergentes e oferecendo novas drogas contra o câncer e outras doenças. Mas é notória a dificuldade de obter aprovação de autoridades médicas como a Administração de Remédios e Alimentos dos EUA, conhecida pela sigla FDA, que vêm se tornando cada vez mais preocupada com a segurança. E muitas farmacêuticas apostam que o crescimento futuro será nos mercados emergentes, o que aumenta a concorrência.
Jimenez derrotou o veterano da Novartis Joerg Reinhardt para chegar ao comando da empresa. A farmacêutica informou ontem que Reinhardt decidiu sair da empresa. Vasella disse que sua contribuição para a Novartis foi "excepcional".
A Novartis anunciou as mudanças no mesmo dia em que divulgou alta de 28% no faturamento do quarto trimestre, para US$ 12,9 bilhões, e alta de 54% no lucro líquido, para US$ 2,3 bilhões. Os resultados foram impulsionados pelas vendas da vacina para a gripe A, que chegaram a US$ 1 bilhão em 2009, a maior parte no quarto trimestre.
Vasella transformou a Novartis desde que ajudou a criar a empresa, com a fusão das suíças Ciba-Geigy e Sandoz em 1996. Ele vendeu as operações não ligadas a saúde ao mesmo tempo em que diversificava as operações da Novartis para mais segmentos da saúde. No decorrer dos anos, gastou dezenas de bilhões de dólares comprando fabricantes de vacinas e de genéricos, com base na crença de que o crescimento futuro da área de saúde virá cada vez mais de produtos que não são os tradicionais remédios de marca como Diovan, Lípitor e Prozac.
Veículo: Valor Econômico