A indústria brasileira de chocolate comemora os bons resultados de 2009 e espera vendas ainda melhores neste ano. As encomendas do varejo para a Páscoa, no início de abril, estão entre 10% e 15% maiores do que no ano passado. Mas o principal insumo, o cacau, está mais caro e há previsões de alta entre 5% e 8% para o preço do chocolate no primeiro semestre.
No ano passado, segundo a Nielsen, o brasileiro comprou 141,141 milhões de quilos de chocolate. O número é 2,9% maior que o de 2008 e resultou em um faturamento de R$ 3,435 bilhões - com alta de 8,6%. A diferença entre a evolução da quantidade e o total faturado está no preço. "Por conta do açúcar e do cacau, que subiram muitíssimo em 2009, tivemos que reajustar o preço dos produtos", diz o diretor de guloseimas da Arcor, Gabriel Porciani. Na média, conforme as indústrias, o preço do chocolate para o consumidor subiu de 3% a 5% no ano passado.
Para esse ano, as empresas já preveem uma alta ainda maior. Espera-se, segundo ele, um reajuste de 5% a 8% já no primeiro semestre. Ninguém se arrisca a fazer previsões para a segunda metade do ano, dada a instabilidade das duas commodities: o açúcar e o cacau. De janeiro a dezembro de 2009, o açúcar teve alta em dólar de 105,12% na Bolsa de Nova York e o cacau subiu 24,58%. Mas o problema não é só o preço. A produção de cacau não consegue acompanhar a demanda da indústria. Na última safra, a produção mundial ficou em 3,4 milhões de toneladas, enquanto o consumo industrial foi de 3,508 milhões. Para a próxima safra há previsões que vão desde um déficit de 197 mil toneladas a superávit de 80 mil. "Está mais fácil comprar carro que cacau. A indústria quer um volume mas a oferta é menor", afirma Porciani.
Na Kraft, fabricante do Sonho de Valsa, as vendas foram 10% melhores em volume e em valor no último ano em relação a 2008. "Nosso resultado ficou acima do mercado e queremos continuar nesse ritmo em 2010", diz Romeo Lacerda, presidente interino da multinacional no Brasil. Mas como cumprir essa meta com tanta incerteza sobre o cacau? "Não há muito o que fazer a não ser subir preço. Mas não podemos subir muito porque corre-se o risco de alijar o consumidor que está na base da pirâmide."
O ganho de renda das classes mais pobres da população, segundo ele, foram um dos grandes pilares do crescimento do mercado nos últimos anos. Mas não o único. "O consumidor que já comprava chocolate com frequência está comprando mais e um produto de qualidade superior", acrescenta Porciani, da Arcor. A empresa argentina, segundo ele, cresceu 10% em faturamento e de 6% a 7% em volumes no ano anterior. A expectativa para 2010 é de um crescimento em linha ou superior ao alcançado em 2009.
"Muitos de nossos concorrentes estão aumentando a gordura vegetal em suas formulações. Mas nós não podemos fazer isso. Nosso diferencial é entregar um produto de boa qualidade por preço justo. Teremos de fazer reajustes, mas não podemos mudar a fórmula. a Saída é diminuir margens para fechar a equação", afirma ele.
A gordura (hidrogenada ou de outros tipos) entra no chocolate no lugar da manteiga de cacau. Mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que, para ser vendido como chocolate, o produto precisa ter no mínimo 25% de "sólidos totais de cacau" (massa e manteiga de cacau). A saída que muitos fabricantes têm encontrado, segundo Alais Fonseca, gerente de marketing da Top Cau, é reduzir a gramatura do chocolate. "Nesta Páscoa, por exemplo, muitos ovos vão vir mais finos na espessura, mas com um brinquedo dentro", diz ela. Outro artifício é usar o chocolate branco. A explicação é simples: o produto, conforme a regulamentação da Anvisa, precisa de menos cacau. O limite mínimo é de 20%.
O risco de faltar chocolate, segundo Lacerda, da Kraft, não existe. "O problema do cacau é sério, mas não é um gargalo. A indústria tem capacidade de suprir a demanda." Mas há quem, sob condição de sigilo, discorde: "Se a produção de cacau continuar caindo e o consumo subindo, vai ser difícil fechar essa conta".
Veículo: Valor Econômico