Onda demográfica dessas famílias abre espaço para um novo mercado consumidor, revelando um espaço para novas oportunidades
O número de domicílios com um único morador cresceu 43,7% no Brasil nos últimos dez anos. Em 2012 eram 7,5 milhões. Em 2021, quase 10,8 milhões, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esse crescimento no número de residências unipessoais leva, sem dúvidas, a mudanças no perfil de consumo e nas relações de mercado, explica o doutorando em Administração e especialista em Marketing, Sérgio Czajkowski Júnior, professor do UniCuritiba.
De acordo com o especialista, os dados revelam um potencial de mercado cheio de oportunidades para a indústria, atacado e varejo. “Essa mudança de comportamento que está ocorrendo na sociedade é o retrato de um quadro maior, que mostra, por exemplo, a redução da média de filhos por casal no Brasil. Estamos nos aproximando de uma média de 1,5 de filhos por casal. E isso traz uma série de impactos para a indústria. Se você tem hoje uma quantidade crescente de pessoas morando sozinhas, é preciso mudar toda uma gama de produtos para atender a necessidade desse público-alvo”, diz Sérgio, consultor nas áreas de Marketing, Vendas e Planejamento Estratégico.
O “mercado single” não deve parar de crescer, apontam estudos. Uma pesquisa realizada pela Euromonitor Internacional indica que, entre 2019 e 2030, o número de lares habitados por uma única pessoa aumentará 23,4% no mundo todo. Um público com idades diversificadas, de jovens a pessoas com mais de 65 anos.
No Brasil, a PNAD mostrou que, entre as pessoas vivendo sozinhas, os homens são maioria (56,6%). A participação das mulheres nesse tipo de arranjo domiciliar é maior no Sudeste (46,4%) e no Sul (46,5%), enquanto no Norte gira em 32,7%. O estudo do IBGE revelou ainda que, entre as mulheres deste novo arranjo domiciliar, cerca de 60% são idosas. Os homens são, em média, mais jovens.
Novas demandas de mercado
O docente explica que mudanças nos arranjos familiares levam à oferta de novos produtos, a começar pela indústria alimentícia. “No caso dos congelados, por exemplo, você só encontrava lasanha congelada na quantidade para servir uma família, em porções de um quilo, um quilo e meio. Hoje, os produtos foram reduzidos. Você vai ao mercado e encontra congelados de 200 gramas, para consumo individual.”
Um estudo da Brasil Pack Trends 2020, desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), reforça a análise do professor. De acordo com a publicação, o “aumento da quantidade de residências com apenas uma pessoa e a vida urbana cada vez mais atribulada têm criado uma demanda por produtos em porções individuais, principalmente no caso dos alimentos e bebidas”.
Outra tendência apontada no chamado mercado single são as famílias pluriespécies, núcleos em que se encontram pessoas e animais de estimação, quando estes últimos são vistos como “filhos”. Para o especialista, esse comportamento impacta diretamente no mercado.
“Quando a indústria vai vender a ração, por exemplo, lança mão de elementos de caráter simbólico, mostrando que é um produto para o filho da família. Você não está simplesmente vendendo comida para o pet. Está possibilitando a ele uma vida mais saudável”, explica o especialista, prevendo que essa mudança de mercado se intensifique nos próximos anos no Brasil, a exemplo do que já ocorre na Europa.
“Cabe a nós apurarmos o olhar para que seja possível apresentar, desde já, soluções para esses públicos. Não podemos parar no tempo. Precisamos nos antecipar a esse tipo de tendência e fazer a customização dos diferentes tipos de produto. Não existe produto caro ou barato. Existe aquele que vale a pena ser pago ou não. É preciso configurar seu produto de modo que o consumidor perceba que vale a pena investir nele”, finaliza o consultor em Vendas e Marketing.
Redação SuperHiper