Os concorrentes acusam de dumping o empresário Wilson Zanatta, dono da Bom Gosto. Ele rebate, classificando os rivais como incompetentes. Quem tem razão?
O laticínio gaúcho Bom Gosto, o quarto maior no ranking do setor no País, tem produzido muito mais do que leite. A empresa se tornou nos últimos meses fonte de polêmicas e o principal alvo das concorrentes. O episódio mais recente envolve a estratégia da companhia no Nordeste, onde começou a atuar há um ano, após a compra de uma unidade da Parmalat no interior de Pernambuco, por R$ 31 milhões. Dias atrás, os dois maiores sindicatos das empresas nordestinas de laticínios – o Sileal, de Alagoas, e o Sindilaticínios, do Ceará – encaminharam ao Ministério Público Federal denúncia de concorrência desleal, conhecido como underselling ou dumping. Por trás do processo estão os laticínios Betânia e Ailane, que lideram a ofensiva contra Wilson Zanatta, dono do Bom Gosto, e o acusam de vender leite abaixo do preço de custo – em média, R$ 0,98, enquanto o custo por litro seria de R$ 1,42.
O abismo entre os preços praticados pelo Bom Gosto e as concorrentes do Nordeste se explica por diferenças opeoperacionais, segundo Zanatta. “Fiquei surpreso com a acusação. Essas empresas não estavam acostumadas a uma concorrência mais intensa. Estão apavorados”, disse, em resposta, o empresário gaúcho. “Não podem achar que nossos custos são iguais aos deles. Temos uma fábrica otimizada, uma logística inteligente e uma escala muito maior. No nosso caso, o preço baixo é uma questão de competência”, acrescentou Zanatta.
Muito mais do que competência, o laticínio Bom Gosto tem sido impulsionado por financiamentos do BNDES que somam R$ 245 milhões – aportes que fizeram do banco dono de 35% do capital da empresa. Graças a esse empurrão, o laticínio de Zanatta se multiplicou por 300 nos últimos nove anos – o faturamento, nesse período, saltou de R$ 5 milhões para R$ 1,5 bilhão. “Não fomos beneficiados pelo BNDES. Apenas nos enquadramos nas exigências do banco e, assim, pleiteamos recursos, de forma transparente e dentro de todas as regras”, disse Zanatta.
O laticínio bom gosto já recebeu R$ 245 milhões do BNDES. Em nove anos, o faturamento cresceu 300 vezes
Mas o argumento não convenceu os concorrentes, que insistem na tesede que o dumping no Nordeste é financiado com dinheiro público. As empresas que acusam o Bom Gosto, assim como os advogados dos sindicatos, não quiseram comentar a denúncia. No processo, no entanto, resumiram o que consideram ser o futuro do setor de laticínios na região. “Se nada for feito, uma crise sem precedentes poderá ser instalada no mercado de leite do Nordeste.”
Veículo: Revista Isto É Dinheiro