Procter compra a briga

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Uma das maiores fabricantes de itens de consumo do mundo vai vender seus produtos em uma página própria na internet. Até que ponto isso representa uma ameaça para o varejo?

 

Um discreto anúncio feito nos últimos dias pela Procter & Gamble não recebeu até agora a devida atenção que o assunto merece. Vigésima maior empresa do planeta em receita bruta, a P&G vai começar a vender, a partir do final de fevereiro, seus produtos em uma página própria da internet. Significa que, em vez de ir a um supermercado para comprar itens como a lâmina de barbear Gillette, o sabão em pó Ariel e o xampu Pantene, o cliente entra no site www.pestore.com (marca registrada pela empresa e que deve ser o canal de vendas online da companhia) e faz ali o seu pedido. Depois, recebe a encomenda em casa, pelo Correio.

 

Segundo a companhia, o endereço eletrônico vai ao ar até o final de fevereiro. Por enquanto, apenas os americanos poderão usar o sistema para levar os artigos da P&G para casa, mas a ideia é ampliar o serviço para todos os mercados em que a corporação está presente, inclusive o Brasil. É a primeira vez que uma gigante que fabrica itens de consumo vai vender seus produtos diretamente pela internet. Se o projeto vingar, pode representar uma reviravolta no comércio varejista mundial.


 
Marcas que a empresa vai vender pela internet
Ariel
Mach3
Olay
Pantene
Pampers
Tampax
Tide
Wella
 


Na prática, isso significas que a P&G deixa de ser apenas fornecedora para ser concorrente de grandes redes varejistas, como Walmart, Carrefour e, no caso brasileiro, também o Pão de Açúcar. Segundo especialistas do setor, as redes de supermercados ficarão incomodadas com o fato de a indústria se aproximar, com um olhar tão sequioso, da seara dos varejistas. "A Procter vai precisar de muito cuidado para não passar por cima e pisar nos calos dos varejistas", disse David Garfield, analista da consultoria AlixPartners.

 

A Procter tentou não alimentar a polêmica. Disse, em comunicado, que as redes de varejo acompanhariam o desempenho do site de perto e que ele seria usado, em parte, para avaliar melhor os hábitos de consumo dos compradores. "É uma experiência que pode ampliar a exposição das marcas e as vendas dos produtos, inclusive nos sites de nossos parceiros varejistas", disse num tom conciliador Kirk Perry, vice-presidente do grupo na América do Norte (consultada, a Procter não quis se pronunciar Walmart e Carrefour também não quiseram dar entrevistas sobre o assunto).

 

Dos mais de US$ 80 bilhões de vendas anuais da Procter, menos de US$ 1 bilhão vem dos itens da marca comercializados em sites de outras varejistas. Analistas acreditam que o novo endereço online da Procter pode oferecer preços competitivos ao cliente, porque no cálculo do valor do produto não estará embutida a margem de lucro do varejista, mas apenas a do fabricante. Muitas dúvidas ainda pairam no ar.

 

"O consumidor vai atrás de produtos da Procter na loja virtual da empresa e então entrará no site do Walmart para comprar o restante que precisa?", pergunta Antonio Ascar, da Ascar Associados. "Isso me parece arriscado." A Procter não forneceu detalhes do formato de sua operação lá fora e no Brasil. Como será a logística de distribuição dos produtos e a parceria com empresas que entregam encomendas? Nada disso está claro. Sua única informação é que na web estarão à venda, por enquanto, apenas as marcas mais populares. Apesar do silêncio da Procter, o projeto tem potencial para fazer muito barulho.

 


Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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