Participação feminina cresce, mas a questão "tempo e dinheiro" ainda atrapalha.
O primeiro dia de aula do mestrado do Instituto Coppead (UFRJ) no início deste mês - que equivale ao MBA "full time" oferecido pelas escolas de negócios americanas - foi bem diferente para a professora Denise Fleck, vice-diretora do curso. Pela primeira vez, desde que começou a lecionar no programa criado nos anos 1970, a sala tinha mais mulheres do que homens. Hoje, dos 45 estudantes, 25 são do sexo feminino. "Ainda estamos tentando identificar o que motivou esta mudança", afirma.
O que acontece no Coppead, de fato, surpreende. Trata-se ainda de uma exceção entre as escolas brasileiras. No geral, o número de mulheres, embora esteja aumentando nos últimos anos, ainda é inferior ao dos homens nos cursos de MBA. O percentual de participação está em torno de 25% a 35% por classe. Para algumas profissionais, um dos motivos que as afasta desse tipo de curso, que demanda muitas horas de estudo além do trabalho e uma boa soma de dinheiro, é justamente a tripla jornada. Elas precisam conciliar a escola com o dia a dia do escritório e da família.
O tempo é a grande vilão mas não é o único empecilho para as executivas frequentarem o MBA. O investimento, geralmente alto, nem sempre tem o retorno garantido. "Não existe tanto espaço para elas alcançarem postos altos nas corporações. Por isso, a possibilidade de recuperar o dinheiro é menor", diz Irineu Gianesi, diretor do curso de MBA do Insper (antigo Ibmec São Paulo). Ele lembra que nas classes de MBA Executivo, curso que exige uma experiência mínima de trabalho maior do aluno, a participação feminina é ainda mais reduzida. Na escola, ela gira em torno de 25%. "São as profissionais mais maduras", diz. Já no MBA "full time", onde a média de idade é de 26 anos, o número de mulheres representa 30%.
Na BSP, essa diferença também é observada. O diretor acadêmico Armando Dalcolletto diz que nos cursos voltados para o nível gerencial e operacional a participação feminina está próxima dos 40%, enquanto nos de especialização, que reúne profissionais com potencial de liderança, ela cai para 35% e nos de alta gestão diminui para 25%. "Acredito que quanto maior a experiência, mais a mulher se torna suscetível a ter outros afazeres. Isso acontece menos com os homens", diz. Segundo ele, o nível salarial, muitas vezes menor que o dos colegas, também é outro fator que desmotiva.
Realizar o MBA no exterior é um desafio maior para as mulheres. "A carreira internacional ainda é mais masculina", diz Patrícia Volpi, uma das fundadoras do MBA Alumni Brasil, associação composta por ex-alunos brasileiros que se formaram em escolas de negócios no exterior. Dos 1.810 participantes, apenas 13% são mulheres. "É complicado para quem tem filho ou é casada se mudar para outro país", diz. Pesquisa realizada no grupo mostra que as executivas que optam por um curso em uma escola de primeira linha no exterior acabam tendo um "up grade" maior no salário do que os homens, em relação ao que recebiam antes.
A executiva Luciana Zonzini Demarchi queria fazer o MBA em outro país mas achava ruim ficar tanto tempo afastada do trabalho no setor financeiro. "Não queria sair do mercado", conta. Formada em engenharia na Poli, ela fez carreira alternando postos em banco e consultoria. Decidiu postergar o objetivo de estudar fora por conta da carreira. Trabalhou no ABN, foi para o Real, morou em Chicago e começou a crescer na instituição. Optou por fazer o MBA da Universidade de Pittsburgh realizado em São Paulo, que oferece titulação internacional.
"Foram 16 meses muito puxados", diz. "Você se afasta do escritório e depois tem que correr para colocar o trabalho em dia. Não existe tempo livre". Casada, contou com o apoio do marido para enfrentar a maratona de estudos e bancou o curso do próprio bolso. "Eles me liberaram para as aulas", diz. Luciana não quis passar pelo processo interno de seleção para o financiamento do MBA.
A diretora do MBA Executivo da Universidade de Pittsburgh no Brasil, Karla Alcides, diz que a maioria dos alunos recebe incentivos da empresa para patrocinar o curso, que tem um custo total de US$ 48, 5 mil. "Muitas preferem financiar homens, pois acreditam que serão um investimento mais garantido por não terem a dupla jornada", afirma.
Luciana terminou o MBA em agosto de 2008, aos 33 anos, nove meses depois nasceu sua filha. "Engravidei logo após a formatura", diz. Atualmente, responde pela gerência executiva de planejamento estratégico do Santander e concilia sua jornada de trabalho com a maternidade contando com a ajuda da mãe, da sogra e da babá. "É muito bom ser mãe e trabalhar. Tenho saudade, mas o que importa é a qualidade e não a quantidade de tempo que dedico à minha filha."
Veículo: Valor Econômico