Vendas internas puxam retomada do setor têxtil

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O setor têxtil e de confecções apresentou, em 2009, a maior disposição de ampliar investimentos em toda a década. As consultas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por parte de empresas do setor aumentaram fortemente no ano passado e totalizaram R$ 1,61 bilhão, resultado 35% superior ao R$ 1,19 bilhão apresentado em 2008, e ao R$ 1,17 bilhão registrado em 2007, anos em que o PIB subiu, respectivamente, 5,1% e 6,1% - bem acima do zero estimado para o ano passado.

 

Os dados do BNDES também evidenciam que houve maior número de projetos aprovados, no ano passado, em comparação ao resto da década. O banco aprovou R$ 1,93 bilhão em projetos do setor, um número também recorde que deve levar a um aumento expressivo dos desembolsos em 2010, após a queda de 50% registrada no passado, quando apenas R$ 646 milhões foram efetivamente liberados pela instituição.

 

"O empresário está agindo e as previsões de que o PIB pode crescer acima de 5% neste ano nos deixa absolutamente otimistas porque, historicamente, os anos em que houve mais investimento e contratação de pessoal foram aqueles em que o PIB cresceu acima de 4%", diz Cristiano Shaefer Buerger, diretor da Tecnoblu, empresa que fabrica etiquetas para roupas, sediada em Blumenau, Santa Catarina.

 

Segundo Buerger, d e dezembro para janeiro, a Tecnoblu aumentou seu quadro de pessoal em 5%. Como a empresa fornece insumos para outros fabricantes, explica Buerger, funciona como "termômetro" para o resto do setor. "Estávamos com pouca demanda no começo do ano passado e agora há o inverso", diz. O aumento da demanda por mão de obra, por parte da empresa, justifica-se pelo objetivo de produzir 55 milhões de peças - um aumento de 21% frente ao produzido no ano passado. "É uma projeção conservadora diante do aquecimento do setor", avalia Buerger.

 

Contratações fortes em janeiro e expressivo aumento das intenções de investimento do setor indicam um promissor 2010. No mês passado, o setor têxtil teve o melhor mês de janeiro de sua história, com saldo líquido superior a 8 mil vagas - o dobro da melhor marca até então, registrada em janeiro de 2007. Nos dois trimestres em que houve retração do Produto Interno Bruto (PIB), entre outubro de 2008 e março do ano passado, o setor cortou 43,4 mil postos de trabalho. A partir de abril passou a recuperar, aos poucos, o pessoal perdido. Até novembro, já superava o número de trabalhadores perdidos na crise - 44,8 mil entre abril e novembro - antes do corte de 22,2 mil vagas ocorrido em dezembro, após as festas de fim de ano. A recuperação dos cortes sazonais de dezembro, no entanto, nunca foi tão rápida.

 

Após o fim de 2006, quando o PIB cresceu 4%, o setor obteve saldo de 4,1 mil postos de trabalho em janeiro de 2007, ano em que o PIB atingiria crescimento de 6,1% e o saldo líquido de empregos criados na indústria de têxteis e confecções atingiu o recorde de 44,5 mil vagas. O resultado de janeiro de 2010, duas vezes maior que o de três anos atrás, sinaliza que os empresários apostam em ano de crescimento elevado. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o setor deve gerar saldo superior a 40 mil vagas neste ano.

 

A Stenville Têxtil, que trabalha com estamparia e tinturaria de tecidos, com fábrica em Jundiaí (SP), aumentou sua produção em 40% no segundo semestre de 2009. Entre julho de 2008 e julho de 2009, segundo George Tomic, proprietário da empresa, a produção média diária era de 200 toneladas de tecido confeccionado. Essa média chegou a alcançar 296 toneladas em novembro. Ao todo, em 2009, a empresa aumentou sua produção em 20%. Para este ano, o empresário acredita que um aumento de 10% é perfeitamente possível, levando a produção para 330 toneladas.

 

A melhora das condições do mercado interno anda em paralelo com uma situação decadente do comércio exterior do setor. Para os empresários do setor, o câmbio é a principal variável de equilíbrio entre as parcelas da produção que são exportadas ou vendidas internamente. Em janeiro do ano passado, quando o dólar variava em torno de R$ 2,30, as importações superaram as exportações em US$ 108,9 milhões. No mês passado, com o câmbio oscilando em R$ 1,80, as exportações caíram 5,1%, enquanto as importações aumentaram 38,4% - o saldo quase duplicou, alcançando US$ 210,2 bilhões.

 

"Há uma conjunção extremamente danosa entre câmbio valorizado e o importado chinês, que é subsidiado e, além de tudo, ganha também com nosso câmbio valorizado", diz Ronald Masijh, diretor da Darling, fabricante de lingeries. O empresário, por outro lado, está otimista quanto ao crescimento do mercado interno. No auge do período recessivo, a Darling se desfez de 15% de seu quadro de 350 funcionários. A partir do segundo semestre, diz Masijh, "mas principalmente nos últimos meses do ano e em janeiro, recontratei metade do cortado".

 

O comportamento da indústria têxtil em Minas Gerais distoa do observado no país, sobretudo em relação ao uso de mão de obra, segundo afirmou o pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Antonio Brás. "Em Minas, diferente do que ocorre no Brasil, o nível de emprego na indústria têxtil é uma reta para baixo", afirmou. O pessoal ocupado no setor caiu 19,4% ao longo de 2009, de acordo com Brás, e a queda chegou a 20,3% na indústria de vestuário.

 

No entanto, para o diretor da Cedro & Cachoeira, Aguinaldo Diniz Filho, que também preside a Abit, as condições do mercado interno justificam o aumento do otimismo do empresariado quanto à demanda por mão de obra e disposição por investir. As sete fábricas da companhia de Minas Gerais já retornaram ao patamar pré-crise, de 3 mil funcionários, e operando em tempo integral. (Colaborou César Felício)

 

Exportação cai, mas fica mais sofisticada

 

Para enfrentar contêineres lotados de roupas importadas da Ásia, principalmente da China, que invadiram os portos do país e do mundo a partir da década de 90, a indústria da moda nacional teve que se reinventar e valorizar seu produto. No início do século, o setor se reorganizou, investiu em qualidade e design. O resultado foi positivo e o preço médio por quilo de roupa exportada pelo Brasil subiu de US$ 16,70 em 2004, para US$ 34,80, em 2009, uma valorização de 108%.

 

No conjunto, a balança comercial do país tem piorado. No ano passado, as exportações recuaram 20%, acima da queda nas importações, que foi de 9%, o que provocou um déficit comercial de US$ 1,6 bilhão no segmento têxtil e de confecções.

 

Segundo a Federação da Indústria do Rio de Janeiro (Firjan), o setor têxtil fluminense foi mais o beneficiado pela valorização da exportação em decorrência da moda. Enquanto Santa Catarina, o maior exportador do país, teve uma valorização de US$ 14,90 para US$ 26, e São Paulo, o segundo maior, de US$ 17,90 para US$ 40, o quilo do Rio, subiu de US$ 35 para US$ 67,20 entre 2004 e 2009. Percentualmente, São Paulo teve a maior alta, 123%. No entanto, a moda brasileira mais bem avaliada no mercado internacional é a do Rio, diz João Paulo Alcântara, gerente do Centro Internacional de Negócios da Firjan.

 

Segundo Alcântara, isto também se reflete no crescimento do volume de exportações dos três maiores produtores do país. Enquanto entre 2001 e 2009 (até novembro), as vendas externas da indústria têxtil de Santa Catarina caíram de US$ 111 milhões para US$ 46 milhões e as de São Paulo, de US$ 75,9 milhões para US$ 51 milhões, as do Rio cresceram de US$ 10,4 milhões para US$ 17,3 milhões. Para Alcântara isto é resultado da decisão da indústria do Rio de investir em moda e não vestuário em geral já na década de 90. "Naquela época houve uma reorganização setorial e um investimento na capacitação do profissional"

 

Todo este crescimento gera um ciclo virtuoso para a indústria que recebe mais e ganha maior capacidade de investimento. "Só em 2009, a indústria fluminense contratou duas mil pessoas", conta Alcântara. Hoje ela é responsável por 90 mil trabalhadores e é a terceira maior do Estado, atrás da indústria petroleira e de alimentação.

 

A expectativa do setor é que este volume de contratações aumente em 2010. Em janeiro, ocorreram duas feiras de negócios do setor: o Rio-à-Porter e o Fashion Business. Organizadas na mesma semana, os dois eventos totalizaram quase R$ 1 bilhão em vendas, enquanto, os negócios fechados no mesmo período do ano passado (em uma única feira) somaram R$ 376 milhões. Alcântara pondera que mais empresas participaram dos dois eventos, logo, o número de contratações não será proporcional ao crescimento dos negócios. Mas ele deve aumentar, afirma
 

 

Veículo: Valor Econômico


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