Hypermarcas quer R$ 1,5 bi para compras

Leia em 4min 40s

Companhia tem interesse em expandir negócio de medicamentos.


  
A Hypermarcas vai recorrer pela terceira vez ao mercado para bancar sua estratégia de aquisições. Desta vez, pretende captar de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão com a operação, que tem tudo para ser a maior já realizada pela empresa, fundada pelo empresário João Alves de Queiroz Filho.

 

Próxima de sua máxima histórica no mercado, fechou o pregão de ontem valendo R$ 10,3 bilhões - quatro vezes a avaliação de estreia.

 

Ontem, as ações caíram 6,11%, para R$ 21,50. A previsão é que haverá demanda para a operação. Entretanto, os investidores deverão pedir desconto significativo sobre o preço em bolsa, já próximo do alvo projetado pelos analistas de mercado. A média dos preços-alvo estimados pelos especialistas é de R$ 24,89, segundo a Bloomberg.

 

A companhia chegou ao Novo Mercado em abril de 2008, quando obteve R$ 612 milhões. Em julho do ano passado, levantou mais R$ 540 milhões. Na segunda operação, sinalizou que faria aquisições da ordem de R$ 2 bilhões até o fim de 2010. Mas a meta foi alcançada já em dezembro, após a investida de R$ 1,3 bilhão sobre o laboratório de genéricos Neo Química. A transação foi paga metade em ações e metade em dinheiro. Pouco antes disso, comprou também a Pom Pom e as companhias de preservativos Jontex e Olla.

 

A expectativa de investidores e analistas é que a próxima aquisição seja na área de fármacos, que já respondem por cerca de 40% dos negócios. A companhia teria especial interesse no segmento de genéricos e naqueles que podem ser vendidos nas gôndolas, sem necessidade de prescrição médica (conhecidos como OTC).

 

A receita anualizada das marcas detidas pela companhia foi de R$ 3,1 bilhões em 2009. Desse total, 39% são provenientes do ramo de medicamentos, outros 39% de higiene e beleza e os 22% restantes de higiene, limpeza e alimentos.

 

A despeito da crença dos analistas, pessoas próximas ao empresário Queiroz Filho afirmam que seu sonho é ter de volta a Arisco, fundada por ele e seu pai em 1969 e vendida em 2000 à multinacional Bestfoods.

 

Após a compra do Neo Química, Queiroz Filho negociou a formação de um acordo de acionistas com os antigos donos do laboratório, a família Gonçalves, que ficou com 7,3% da Hypermarcas. O acordo reúne 57,7% do capital da empresa. Ele próprio tem, por meio da Igarapava, 31% do negócio.

 

Com essa estrutura, considerando a atual cotação em bolsa, a Hypermarcas tem fôlego para levantar o montante de R$ 1,5 bilhão desejado sem alterar o controle.

 

O empresário vem diluindo sua participação em troca do crescimento via aquisições. Toda a trajetória da Hypermarcas está calcada em consolidação. Queiroz Filho é conhecido pela rapidez das análises e pelo jogo de cintura nas negociações. A companhia realizou 27 aquisições ao longo de sua história e administra 19 unidades produtivas, nos Estados de Goiás, Santa Catarina e São Paulo, que somam um patrimônio de R$ 3,4 bilhões.

 

Tem em seu portfólio produtos que vão de alimentos, a higiene, limpeza, beleza e saúde, com marcas como o molho de tomate Etti (o começo de tudo após a Arisco), os adoçantes Finn e Zero Cal, os cosméticos da linha Monange, Paixão, Bozzano e Risqué. Na área de fármacos, tem nomes como Benegripe, Engov, Rinosoro, Doril, Tamarine e Atroveran nas mãos.

 

A capitalização também chega em boa hora para as finanças. A companhia fechou dezembro com dívida bruta de R$ 2,2 bilhões, para R$ 499 milhões em caixa. A relação entre a dívida líquida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) superava duas vezes e poderia começar a limitar as compras.

 

A própria companhia vem alimentando a expectativa dos analistas de que os próximos negócios serão na área de fármacos. Os ativos nesse ramo, porém, vem passando por forte valorização devido ao interesse das multinacionais de avançar em genéricos no Brasil.

 

A Mantecorp foi apontada como mais um possível alvo da Hypermarcas. A sua divisão de genéricos não seria tão atraente, mas o segmento de OTC tem destaques importantes.

 

Fontes do setor afirmam que a Mantercorp cabe na captação pretendida. Além disso, destacam que a companhia é muito eficiente e passou por um revés com a transferência de licenciamento de alguns produtos para a Schering-Plough (controlada pela Merck). Procurada, a Mantecorp afirmou que a informação de possível venda é improcedente.

 

No ano passado, a Hypermarcas chegou a conversar com a Teuto, de Goiás, mas a aquisição não é considerada estratégica. Tal ativo faz mais sentido atualmente para a Pfizer, que tem interesse de estrear em genéricos e perdeu a disputa da Neo Química.

 

Com a compra da Meddley pela Sanofi-Aventis no ano passado, que a tornou líder em genéricos, sobraram menos ativos de peso para consolidar. As nacionais EMS, Aché, controladora da BioSintética e Eurofarma são alvos potenciais, mas custam muito. E as empresas afirmam que serão consolidadoras do setor e não consolidadas. Além dessas, existem companhias menores, avaliadas bem abaixo de R$ 1,5 bilhão. Entre as dez maiores do setor estão Ranbaxy, Merck, Sandoz (Novartis) e Legrand.
 

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Termômetro da economia, setor de embalagens tem retomada

Produção deverá crescer até 6,1% em 2010 e uso da capacidade instalada já está...

Veja mais
Bauducco produz mais colombas e prevê crescimento de 15% em 2010

Em 1976, quando foi lançada pela Bauducco, a colomba pascal era apenas uma tentativa de esticar o faturamento dos...

Veja mais
Indústria se anima com a Páscoa e prevê crescer até 30%

A Bauducco, que possui 70% do segmento de colombas pascais, investiu R$ 60 milhões nessa temporada e pretende cre...

Veja mais
Vendas internas puxam retomada do setor têxtil

O setor têxtil e de confecções apresentou, em 2009, a maior disposição de ampliar inve...

Veja mais
Fortes chuvas elevam preços de alimentos

O impacto das fortes chuvas na Região Sudeste fez com que os preços de alimentos nos supermercados, em jan...

Veja mais
Varejo brasileiro fecha ano com alta de 5,9%, afirma pesquisa IBGE

 O varejo fechou o ano passado com um aumento de 5,9% nas vendas em relação ao ano anterior, segundo ...

Veja mais
Suzano anuncia alta de US$ 30

A Suzano Papel e Celulose comunicou ontem reajuste de US$ 30 por tonelada para a celulose de eucalipto (fibra curta) ven...

Veja mais
Mercado de macarrão cresceu 4%

Nos últimos cinco anos, o faturamento deste setor no país saltou 18%.    O faturamento total d...

Veja mais
Renner estreia novo formato de lojas

A Lojas Renner vai inaugurar duas lojas no formato compacto no segundo semestre deste ano. Ainda sem local definido, as ...

Veja mais