Mercado dividido sobre aumento do pão

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Com a alta de 30% na tarifa de importação do trigo, como retaliação aos EUA, mercado se divide sobre impactos

 

A elevação de 30% na tarifa de importação imposta pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) ao trigo dos Estados Unidos da América (EUA) nem entrou em vigor e já está dividindo opiniões sobre a possibilidade de que haja, em 2010, um aumento no preço do pão francês e demais derivados do produto estadunidense.

 

De acordo com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, "é terrorismo" fazer quaisquer tipos de projeções de reajuste. "O custo do trigo no pãozinho varia de 10% a 16%. Com a restrição de 5%, que é quanto compramos dos Estados Unidos, aumentaria em 16%? É terrorismo", afirmou. Segundo Stephanes, não existem justificativas para uma provável majoração, pois o valor atual do pão foi estabelecido em um momento em que a tonelada do trigo custava R$ 750. Depois disso, o preço do grão caiu até chegar ao patamar atual de R$ 400 a R$ 450 a tonelada.

 

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), Alexandre Pereira, o País pode comprar o trigo de países onde não há taxação na alíquota como Canadá e Argentina. "Não vai encarecer nada. Vamos aguardar. O governo brasileiro é o primeiro a não querer aumentar o custo do produto. Têm outros países para se importar, não tem porque falar de aumento de preço agora. Por enquanto é cedo para analisar, há muito trigo no mercado e é um pouco cedo para dizer alguma coisa", disse Pereira.

 

Na opinião do empresário Roberto Macedo, apesar de acertada, a postura brasileira poderá acarretar em crescimento nos preços dos derivados do trigo, entre eles o pão francês, no mercado interno.

 

"Isso vai dificultar um pouco. O trigo já é um pouco taxado pelo próprio País. Quem vai pagar é o consumidor porque se você põe qualquer custo em cima, qualquer imposto, qualquer coisa, vai pesar no bolso do consumidor no final", comentou. Conforme Macedo, recorrer ao trigo argentino pode não ser a melhor saída. "A Argentina está passando por uma fase muito difícil. Os produtores de lá não querem mais produzir porque se produzirem e exportarem vão ter que pagar imposto. Talvez, aconteça o inverso neste ano, a Argentina vá importar trigo para atender sua demanda interna", analisou.

 

A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) divulgou comunicado, ontem, lamentando a decisão da Camex, como forma de retaliação aos subsídios ao algodão impostos pelos EUA. "Tendo em vista a insuficiência da produção de trigo no Brasil para atender ao consumo e a recorrente incerteza no que diz respeito ao fornecimento do trigo argentino, os moinhos brasileiros são obrigados a importar trigo para atender à demanda interna. Uma das fontes de suprimento preferidas são os Estados Unidos, por motivos de preço, qualidade e sobretudo proximidade do mercado consumidor, no caso, particularmente os moinhos do Nordeste", ratificava um dos trechos do comunicado.

 

CONTRA RETALIAÇÃO
EUA com disposição para negociar

 

Brasília A comitiva americana liderada pelo secretário de Comércio, Gary Locke, reuniu-se ontem com representantes do governo brasileiro para reforçar a mensagem de que o País pretende negociar uma saída para evitar a retaliação de suas mercadorias. No entanto, uma contraproposta, que, segundo os representantes do EUA, precisa ser "justa para os dois lados", só deve ser apresentada oficialmente aos negociadores brasileiros em abril.

 

Na segunda-feira, o Brasil anunciou a lista com 102 produtos americanos que podem sofrer sobretaxação a partir de 7 de abril, mas as autoridades americanas apostam em um acordo antes dessa data.

 

Após reunião com Locke, o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento) disse que a visita do secretário não poderia trazer alternativa contra retaliação porque o encarregado do tema no governo americano é o representante de Comércio, Ron Kirk. "Já temos um encontro marcado com Kirk", disse.

 

Ainda assim, afirmou, Locke marcou posição em relação à disputa na OMC (Organização Mundial do Comércio) na qual o governo brasileiro conquistou o direito de retaliar o parceiro comercial em até US$ 829 milhões neste ano, por causa de subsídios e garantias ilegais aos produtores de algodão.

 

"O secretário disse que não interessa aos EUA entrarem numa guerra de comércio", afirmou Miguel Jorge, que ressaltou que o País espera uma proposta concreta.

 

"A retaliação está sendo feita para compensar prejuízos. Então se compensa pagando, e não com apelos", emendou.

 

Veículo: Diário do Nordeste


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