Centro-Oeste vive novo ciclo de investimentos no setor de alimentos

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A vocação natural dos chapadões de Goiás para o agronegócio tem estimulado uma nova onda de investimentos da indústria de alimentos na região Centro-Oeste. Água abundante, alta tecnologia nas lavouras, diversidade de matérias-primas, incentivo fiscal e proximidade de grandes centros consumidores desataram uma intensa corrida por grãos, cereais, hortas e pomares no Brasil Central.

 

O novo Eldorado tem como epicentro a cidade goiana de Cristalina, a 120 quilômetros ao sul de Brasília. Maior Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário do Estado e 21º do país, a cidade de 40 mil habitantes vive um momento de euforia, algo inédito desde o fim do garimpo de cristais, no início do século passado. Mas a aposta da agroindústria na região tem um alcance mais amplo. Municípios como Luziânia, Orizona, Goiandira e Morrinhos animam a febre da industrialização do campo, cujo investimento total deve ultrapassar R$ 1 bilhão nos próximos três anos.

 

Dona da maior área irrigada por pivôs centrais na América Latina, Cristalina conta os dias para o início das operações de três grandes fábricas de conservas e atomatados. "Vamos sair do amadorismo para um modelo altamente profissional", diz a líder empresarial Joana D'Arc Assad, dona do principal magazine local. O ânimo renovado se explica pela atração de R$ 500 milhões em investimentos e a geração de 3 mil empregos diretos. "É a reversão de um processo de esvaziamento histórico", afirma o prefeito Luiz Carlos Attiê (DEM).

 

Atrás de cada nova indústria, Cristalina espera receber outras seis empresas - de embalagens a transportes, de manutenção a serviços. Os fatores decisivos são semelhantes aos motivos que levaram grandes frigoríficos, como Perdigão e Sadia, a migrar para o Centro-Oeste no fim dos anos 1990. Custos baixos, mão de obra barata, logística privilegiada e produção de até quatro safras por ano alimentam a nova onda de prosperidade industrial.

 

Encravada em meio a 20 mil hectares de lavouras, a multinacional francesa Bonduelle reflete a tendência na região. Em agosto, abrirá as portas de uma planta de R$ 115 milhões, que processará 120 mil toneladas anuais de milho, ervilha, brócolis, couve-flor, cenoura e beterraba. Líder mundial na industrialização de vegetais, a empresa já planeja os primeiros embarques à Argentina. "Seremos uma plataforma para os mercados da América Latina e Estados Unidos", diz o diretor da empresa, João Alves Neto, que administrará 500 empregados no auge da produção.

 

Antes mesmo da nova onda industrial, Cristalina já exibia o 16º PIB entre os 246 municípios de Goiás. Com altitude média de 1.200 metros, a cidade tem hoje 570 pivôs, responsáveis por irrigar 48 mil hectares com a água de 256 riachos e ribeirões. "Mas podemos triplicar essa área em pouco tempo", calcula o dirigente rural Alécio Marostica.

 

Cliente antiga das indústrias da região, a paulista Fugini Alimentos já reservou lugar na ascensão local. A nova fábrica de R$ 90 milhões da empresa será inaugurada no aniversário de Cristalina, em 18 de julho. À beira da BR-040, uma linha produzirá 110 mil toneladas de tomate por ano, além de conservas de milho, ervilha, batata e cenoura. Em Monte Alto (SP), a Fugini processa hoje apenas 30 mil toneladas. No auge, em 2012, terá 500 empregados em três turnos e demandará 85 caminhões para transportar tomate e milho diariamente. "Vamos gerar muito emprego aqui", diz o gerente de operações Geraldo Silva, ao listar vagas para manutenção de máquinas e serviços terceirizados.

 

Aos 40 anos de atividade, a catarinense Incotril também planeja um salto estratégico no Centro-Oeste. Investirá R$ 5,5 milhões em nova planta de conservas de milho, ervilha, pepino e atomatados. Encurralada pela concorrência de indústrias do Planalto Central, a família Weschenfelder rendeu-se às contas. Em Cristalina, cortará os custos pela metade, elevará em 45% o rendimento das lavouras e reduzirá, de 45 para 25 dias, o tempo de colheita.

 

"Aqui, vamos fazer até quatro safras por ano, sem gente parada nem maquinário ocioso", diz o empresário Luiz Augusto Weschenfelder. Formado em direito, mas forjado na lida industrial da Incotril, o jovem de 25 anos mudou-se com mulher e filha para erguer a fábrica, capaz de processar 250 toneladas diárias de tomate.

 

Na vizinha Luziânia, a 60 km de Brasília, o entusiasmo é semelhante. A cidade tem o sétimo PIB industrial do Estado, lidera as exportações agropecuárias e abrigará, a partir de 2011, um novo frigorífico de R$ 100 milhões da brasiliense Asa Alimentos. "Luziânia tem, além do benefício tributário, muito milho para garantir o abate diário de 600 mil aves que faremos no futuro", resume o empresário Aroldo Amorim. A Asa, que demanda um milhão de aves por semana em suas quatro plantas, fará a integração de 400 aviários com capacidade para 20 mil aves cada. "É um novo modelo de desenvolvimento".

 

Sede estadual de agroindústrias como a multinacional Bunge, a tradicional Goiás Verde e a Minuano-JBS, a cidade também tem a Brasfrigo, coligada do grupo financeiro BMG. A indústria gera mil empregos e investiu R$ 10 milhões para modernizar e verticalizar a produção de milho, ervilha e tomate em sete fazendas, com 12 mil hectares.

 

Na mesma região de influência econômica, na cidade de Goiandira, a mineira Emifor Alimentos fará nova fábrica de R$ 5,8 milhões para produzir macarrão instantâneo, achocolatados, leite em pó, caldos e temperos culinários. A empresa faz alimentos para Carrefour, La Valle e União. Próximo dali, em Morrinhos, a Conservas Olé industrializará milho, ervilha, tomate e outros legumes em uma nova planta. A tradicional empresa da família Auricchio investirá em 85 mil metros quadrados no distrito industrial local, onde terá a companhia da cooperativa láctea Complem, situada em uma das maiores bacias leiteiras do país.

 

Veículo: Valor Econômico


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