Depois de promover uma ampla reestruturação para melhorar a sua carteira de crédito no ano passado, a financeira francesa Cetelem, controlada pelo BNP Paribas, resolveu colocar ao menos uma fatia de capital no Brasil à venda. Segundo o Valor apurou, o grupo está aberto a formatos flexíveis de negociações e, a princípio, a intenção é manter uma fatia do negócio. De acordo com pessoas próximas, as conversas poderiam evoluir até para a venda integral do negócio.
Uma das maiores financeiras da Europa, no Brasil a Cetelem é especializada em crédito direto ao consumidor e também atua em empréstimos consignados e crédito pessoal. Um dos principais negócios da Cetelem no mercado local é a participação de 40% no capital do banco Carrefour, que faz o financiamento das vendas na rede de supermercados no país. A financeira tem uma bandeira própria de cartões, a Aura, com uma base de mais de 3 milhões de plásticos, mas também passou a emitir cartões com a marca Mastercard em 2009.
Há cerca de duas semanas a Cetelem informou o Carrefour sobre a decisão de colocar ao menos parte das operações à venda e a notícia não teria agradado a rede varejista, que teme se ver "casada" com um sócio que não escolheu em seu banco. A financeira chegou ao país em 1999 por meio da parceria internacional que mantém com o Carrefour, só depois vieram os outros negócios. A Cetelem Brasil é controladora diretamente pela matriz francesa, não tendo relação societária com o BNP Paribas brasileiro. Procurado, o banco não comentou.
Pessoas a par das negociações acreditam que as operações da Cetelem tendem a despertar o interesse dos grandes bancos que atuam no varejo financeiro e que têm disputado acirradamente as parcerias com redes de supermercados e de eletroeletrônicos.
A Cetelem fechou dezenas de parcerias com lojas de varejo de porte variado ao longo dos últimos anos para tentar ganhar escala. No ano passado, as reestruturações envolveram o encerramento de algumas dessas parcerias que eram deficitárias.
A reestruturação foi desencadeada após o prejuízo de R$ 33,8 milhões registrado pela financeira em 2008 (os números não consolidam as operações do Banco Carrefour).
A reformulação envolveu corte de custos, redução do número de funcionários, fechamento de parcerias que operavam no vermelho e redução do limite de crédito dos piores clientes. Com isso, a Cetelem conseguiu melhorar o resultado do primeiro semestre de 2009, atingindo um lucro de R$ 18,1 milhões contra os R$ 7,2 milhões do mesmo período de 2008. Um dos fatores que colaborou para a recuperação do resultado foi a redução das despesas com provisões para créditos duvidosos, de R$ 100,5 milhões para R$ 53,9 milhões na comparação entre os dois períodos.
No terceiro trimestre do ano passado, entretanto, os números começaram a mostrar alguma deterioração. O lucro líquido trimestral caiu de R$ 15 milhões (segundo trimestre) para apenas R$ 1 milhão. E as despesas com provisões para a carteira de crédito voltaram a subir, atingindo R$ 40 milhões no terceiro trimestre (ante R$ 13 milhões no segundo). A carteira de crédito, que havia atingido R$ 3,8 bilhões em setembro de 2008, havia encolhido para R$ 3,3 bilhões em setembro do ano passado. A financeira ainda não divulgou os resultados do quarto trimestre.
Em busca de maior escala, em 2008 a Cetelem adquiriu o Banco BGN, especializado em crédito consignado. A reestruturação promovida no ano passado também atingiu as operações do BGN, cuja rede de agências foi reduzida pela metade, de 110 para 50.
Veículo: Valor Econômico