Tão logo anunciou ao mercado que iria se capitalizar, a Hypermarcas foi às compras. Antes mesmo de o dinheiro chegar, já comprometeu cerca de metade do que pode obter com sua terceira oferta de ações na Bovespa. A empresa pretende conseguir no começo de abril entre R$ 950 milhões e R$ 1,3 bilhão. A companhia é dona de marcas conhecidas, como Risqué (esmalte), Monange (hidratante), Estomazil (antiácido) e Bozzano (produtos masculinos).
As quatro aquisições anunciadas em menos de uma semana - Sapeka, York, Facility e Luper - somam R$ 456 milhões em dinheiro e chegam a R$ 600 milhões considerando uma parcela em ações que será usada nos pagamentos. Juntas, as empresas adquiridas deverão agregar um faturamento bruto da ordem de R$ 450 milhões à Hypermarcas.
Por enquanto, as investidas aceleradas da Hypermarcas não estão incomodando os investidores. Eles avaliam que a companhia têm feito movimentos "responsáveis".
Muitos creem, inclusive, que a compra motivadora da oferta ainda não foi feita e que se trata de uma investida de peso no segmento de fármacos. A própria companhia já atualizou o prospecto da nova emissão com as recente aquisições e sinaliza que o dinheiro obtido será para novos movimentos.
No ano passado, a Hypermarcas teve receita bruta de R$ 2,6 bilhões, equivalente a um crescimento de 48% sobre 2008. Sem nenhuma das compras feitas em 2009, a receita teria sido de R$ 2,0 bilhões, um aumento de 15,3%. Mas, considerando todas as marcas do portfólio, o faturamento alcançaria R$ 3,1 bilhões se tivessem sido consolidadas em 2009 integralmente.
Já contando as compras do ano passado mais as feitas no começo de 2010 a empresa pode alcançar sem dificuldade uma receita bruta próxima de R$ 3,5 bilhões neste ano. Na prática, já tem garantido crescimento de 35% para apresentar no balanço de 2010, independentemente de sua capacidade de ampliar as operações já detidas.
Desde que chegou à bolsa, a Hypermarcas vem mostrando taxas significativas de expansão e seu valor em bolsa está perto de R$ 10,5 bilhões. Boa parte disso, porém, é fruto justamente da estratégia de aquisições aceleradas.
A empresa anunciou 13 aquisições de abril de 2008 (quando chegou ao Novo Mercado) até hoje, considerando as últimas operações. Foram quatro compras em 2008 e cinco no ano passado, com gasto financeiro de R$ 562 milhões e R$ 1,4 bilhão, respectivamente. Como as duas maiores operações envolveram ações (Farmasa e Neo Química) , o valor total das aquisições chega a quase R$ 3,5 bilhões.
Na abertura de capital, a empresa obteve R$ 612 milhões e em julho do ano passado levantou mais R$ 564 milhões.
A companhia encerrou dezembro com dívida bruta de R$ 2,2 bilhões e caixa de R$ 499 milhões. Em 2009, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) foi de R$ 512 milhões, com margem de 25,3%.
A relação entre a dívida líquida e o lajida estava em 3,4 vezes ao fim de dezembro. No mercado, a expectativa é que a empresa manterá o nível de alavancagem entre 2,5 vezes e 3,2 vezes, considerando o ingresso dos recursos novos e mesmo a geração de caixa adquirida.
No começo deste ano, a empresa levantou R$ 400 milhões em títulos de dívida, entre debêntures e notas promissórias. Mas sem a oferta de ações, a relação entre a dívida e o lajida subiria a 4,1 vezes, considerando o lajida de 2009.
A despeito de os investidores estarem tranquilos com os passos da empresa, começam a surgir analistas destacando o desafio de integração dos ativos. A estratégia da Hypermarcas é comprar marcas adormecidas e revitalizar o negócio com investimento em marketing e lançamento de novos produtos, além de sinergias com as outras áreas. A questão que aparece é a velocidade. "Ainda não foi possível medir a capacidade da empresa de integrar esses ativos e extrair as sinergias pretendidas", escreveu Iago Wathely, analista da Fator Corretora, em relatório.
A Hypermarcas tem em carteira marcas que vão do molho de tomate Etti a remédios, passando por cosméticos, inseticida, fraldas e preservativos. A empresa se compara à companhias multiprodutos como Unilever, Procter & Gamble e Colgate.
O analista da Fator destaca que o modelo da companhia de comprar "unidades de lajida" por um preço abaixo de sua avaliação pode se esgotar. "Esse modelo é finito, pois os ativos são escassos e os preços deverão subir."
Todas as empresas adquiridas passam por três fases de integração. A primeira, implementada em até seis meses, é de redução de despesas gerais e administração e modificações simples no processo de produção capazes de gerar ganhos. A segunda, que leva entre 6 e 18 meses, é de ajustes operacionais, com reestruturação de plantas, redução de custos de matéria-prima e empacotamento e diminuição de custos de logística. Já a terceira, e mais complexa, prepara a estratégia de mercado dos produtos com intensificação do investimento em marketing, aumento da participação de mercado e distribuição e extensão do portfólio com lançamentos e revitalização das marcas. Essa última etapa pode levar até três anos.
Atualmente, apenas quatro famílias de produtos estão no terceiro estágio: Etti, Finn, Mat Inset e Dorsay Monange. As aquisições de 2008 - Farmasa, Bozzano, NY Looks e Niasi - estão no segundo estágio. Todas as compras de 2009 estão na primeira fase de integração. São elas: Hydrogen, Pom Pom, Olla, Jontex e Neo Química.
Veículo: Valor Econômico