A venda de freezer no Nordeste mais do que dobrou nos últimos doze meses, para 11,3 mil unidades, fazendo com que esta região passasse à frente da Grande São Paulo, que cresceu 54% no período. Os dados são da Nielsen, com exclusividade para o Valor, e dão uma mostra de como o Nordeste tem pautado inclusive a venda de produtos de alto valor agregado, mesmo em se tratando de eletrodomésticos. A região, que já era estratégica para os varejistas de eletroeletrônicos, eletrodomésticos e móveis, agora deve se tornar um campo de batalha, a partir da criação da Máquina de Vendas. A holding, formada pela união de Ricardo Eletro e Insinuante, a segunda maior do setor, só atrás do grupo Pão de Açúcar-Casas Bahia-Ponto Frio, tem 62% dos seus 528 pontos de venda no Nordeste.
"Todos os grandes varejistas devem voltar suas baterias para lá agora", diz o consultor Marco Antônio Quintarelli, do Grupo Azo. "O 'Tratado de Tordesilhas' feito pela Máquina de Vendas, que dividiu o país entre as suas duas bandeiras, tem chance de ser adotado pelos outros competidores, com especial atenção ao Nordeste", diz.
Nos últimos doze meses, segundo a Nielsen, a venda de linha branca na região aumentou 77% em volume, contra 36% da média nacional. Com isso, a participação do Nordeste em eletrodomésticos cresceu três pontos percentuais, para 13%, tirando assim um pedaço da fatia das regiões líderes: Sul (caiu de 25% para 23,5%) e o interior de São Paulo (de 22% para 20,5%). A fatia da Grande São Paulo ficou estável em 15%. Talvez por isso a Máquina de Vendas não tenha tanta pressa de vir para a maior região metropolitana do país - um mercado que só deve ser explorado daqui um ano e meio. Ainda assim, segundo Ricardo Nunes, presidente da Máquina de Vendas, 40% das vendas diárias de R$ 1,2 milhão da empresa na internet vem do Estado de São Paulo.
A maior fabricante de linha branca do país, a Whirlpool, já percebeu o movimento das redes no Nordeste. "Os grandes clientes do varejo não pareciam ter uma estratégia muito definida para a região até bem pouco tempo atrás, mas agora a nossa equipe de vendas vem registrando uma demanda mais robusta na região, com um plano de expansão mais agressivo por parte das redes, inclusive das regionais", diz Cláudia Sender, diretora de marketing da Whirlpool, dona de Brastemp e Consul.
E se engana quem pensa que no Nordeste brasileiro só há espaço para itens básicos de eletrodomésticos. Claudia chama a atenção para o aumento das vendas de categorias que são desejo de consumo inclusive nas regiões mais ricas. "A venda de depuradores de ar, por exemplo, ficou estável no país em 2009, mas cresceu no Nordeste, levando a participação da região no total aumentar meio ponto percentual", diz a executiva da Whirlpool, que chama a atenção para a alta nas vendas de lavadora neste mercado (quase 30%).
Outros itens com demanda aquecida na região são ar condicionado, refrigeradores e tanquinhos. Para Cláudia, há muito espaço para crescer. "O bem durável mais desejado pelos nordestinos é eletrodoméstico, diferentemente do consumidor do Sul e do Sudeste do país, que prefere móveis", diz a executiva, citando pesquisa feita pela Whirlpool no final de 2009.
E mesmo os eletroportáteis têm demanda garantida no Nordeste, segundo a Philips. "A região já significa perto de 20% no mercado nacional", afirma Luiz Camargo, gerente-geral de eletroportáteis. O Sudeste, principal mercado, representa quase o dobro disso, mas é o Nordeste que vem puxando as vendas. "Mas lá a procura é por produtos mais básicos, como liquidificadores e ferros de passar", diz ele. Ao que parece, o nordestino vai explorar um luxo por vez.
Veículo: Valor Econômico