Casas Bahia ameaçam desfazer acordo de fusão com Pão de Açúcar

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Divergência. Proprietários dos dois grupos não conseguem chegar a acordo em relação aos valores envolvidos, governança e estrutura de comando na nova empresa, pontos que teriam ficado em aberto no acordo assinado em dezembro do ano passado

 

Celebrado como o maior negócio da história do varejo brasileiro, a união das Casas Bahia com o Pão de Açúcar estava ameaçada ontem à noite. Assinado em dezembro, o acordo entre os grupos deixou pontos importantes para serem definidos ao longo dos meses seguintes. Passados cinco meses, não houve acordo em torno de itens decisivos como: valores envolvidos, a possibilidade de vendas de ações da nova empresa, governança e estrutura de comando.

 

Ontem, fontes ligadas à família Klein, das Casas Bahia, diziam que o negócio corria o risco de ser desfeito. Do outro lado, o tom foi mais cauteloso. Profissionais ligados ao Pão de Açúcar afirmaram que a discussão envolve ajustes normais em contratos e que a própria família Klein tinha pedido a confecção de um documento simples, para ser detalhado mais tarde. Oficialmente, nenhum dos grupos quis se manifestar.

 

Representantes dos dois lados estiveram reunidos por horas ontem na sede das Casas Bahia, em São Caetano do Sul (SP), em busca de um acordo em torno dos pontos pendentes. Segundo fontes que acompanham o processo, os Klein teriam começado o dia dispostos a propor um rompimento. Mas, ao final do encontro, decidiram aguardar mais um pouco por um novo posicionamento do Pão de Açúcar.

 

Segundo fontes ligadas à negociação, as Casas Bahia tentam desde o começo do ano renegociar várias cláusulas do acordo, e não vinham encontrando receptividade do lado do Pão de Açúcar. "Eles (o Pão de Açúcar) não querem rever alguns pontos e outros eles empurram com a barriga", afirma uma fonte ligada às Casas Bahia.

 

Na visão da família Klein, o formato final da operação teria ficado muito favorável ao Pão de Açúcar. Logo depois do anúncio da operação, as Casas Bahia contrataram assessores financeiros e escritórios de advocacia para discutir os tais pontos em aberto com Abílio Diniz, o líder do Pão de Açúcar. Eles trabalhavam nos acertos contratuais, enquanto outra equipe, técnica, também com representantes dos dois lados, cuidava da integração operacional das duas empresas.

 

Operação. O primeiro contato entre Michael Klein e Abílio Diniz foi feito três meses antes de a compra ter se tornado pública. Diniz teria procurado Klein logo após a aquisição do Ponto Frio. Segundo fontes do mercado, a saída de Saul Klein do negócio em 2008, após uma briga com o irmão, teria motivado Michael a se associar a Diniz.

 

As Casas Bahia foram avaliadas em R$ 6 bilhões, embora o Pão de Açúcar não tenha desembolsado nenhum centavo no negócio. Não houve auditoria. O contrato prevê que, se houver contingências fiscais, o vendedor arca com os custos. O mesmo vale para surpresas positivas.

 

A união das Casas Bahia com o Pão de Açúcar criou um gigante do varejo de alimentos, móveis e eletroeletrônicos, com faturamento de R$ 40 bilhões por ano. O Pão de Açúcar é a terceira maior empresa privada do País. Com a fusão, o grupo teria vendas iguais às do Walmart e do Carrefour, seus principais concorrentes, juntos.

 

Pelo acordo, as Casas Bahia e o Pão de Açúcar tornaram-se sócios numa nova empresa de móveis e eletroeletrônicos, que inclui o Extra Eletro e o Ponto Frio, adquirido em junho pelo Pão de Açúcar. O faturamento anual dessa empresa seria de R$ 18,5 bilhões, com 1.015 lojas espalhadas por 337 municípios, 28 centros de distribuição e 62 mil funcionários. A nova empresa teria um porte cinco a seis vezes maior que as principais rivais no mercado de eletroeletrônicos e móveis.

 

O Pão de Açúcar ficaria com 51% do capital e as Casas Bahia, com 49%. Essa cifra inclui 25% da fábrica de móveis Bartira, contrato de fornecimento de móveis por três anos a preço de custo, contrato de locação dos imóveis de dez anos, no valor de R$ 130 milhões, renovável por mais dez, e uma dívida de R$ 950 milhões de curto prazo.

 

Dois meses depois do anúncio da operação, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) suspendeu parcialmente o processo de compra das Casas Bahia pelo Pão de Açúcar. As empresas foram autorizadas a fundir suas atividades administrativas, mas ficaram proibidas de fechar lojas em 146 municípios onde são concorrentes.

 

As empresas também foram obrigadas a manter as marcas Casas Bahia e Ponto Frio (rede também adquirida pelo Pão de Açúcar em 2009), os centros de distribuição de cada empresa e o nível de emprego até o julgamento final da operação pelo Cade.

 

Na prática, as duas companhias já podiam se tornar uma única empresa, mas com as marcas operando separadamente.

 

Para lembrar

 

2009 foi o ano decisivo para o Grupo

 

O ano de 2009 foi decisivo para o Grupo Pão de Açúcar. Em junho, a empresa comprou o Ponto Frio por R$ 826 milhões e se transformou na maior varejista do País, com faturamento de R$ 26 bilhões, 79 mil funcionários e mais de mil lojas espalhadas por 18 Estados. A negociação surpreendeu o varejo, pois o Ponto Frio estava à venda há muito tempo e as exigências feitas pela rede dificultavam a negociação.

 

Seis meses depois, o Grupo Pão de Açúcar deu um novo salto ao se unir às Casas Bahia, ficando com participação majoritária num negócio de R$ 40 bilhões. Em janeiro deste ano, a companhia anunciou um investimento recorde de R$ 5 bilhões até 2012, porém sem contar o negócio das Casas Bahia.

 

Veículo: O Estado de São Paulo

 


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