Ações do Pão de Açúcar caem 5% com revisão de negócio

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Grupo renegocia todos os termos do contrato fechado em dezembro com as Casas Bahia

Baixa foi a maior registrada na Bolsa de SP; família Klein contesta pontos como a avaliação do preço da rede e prazo para a venda de ações

 

Praticamente todos os termos do contrato de associação do Grupo Pão de Açúcar com as Casas Bahia estão na mesa de negociação para serem revistos -desde o cronograma para a família Klein vender suas ações até o valor dos ativos.

 

Ontem, depois que o Pão de Açúcar divulgou comunicado ao mercado confirmando as negociações de revisão do acordo, suas ações despencaram, terminando o pregão em queda de 4,97%. Foi a maior baixa de ontem dentre os papéis que compõem o índice Ibovespa, com analistas temendo que o negócio possa vir a ser desfeito.

 

No comunicado, o Grupo Pão de Açúcar afirma que o "acordo de associação é válido e perfeitamente eficaz" e que está disposto a chegar a um entendimento. A empresa se manifestou, no documento, "no sentido de continuar em discussões com vistas a um entendimento de forma a assegurar a implementação da associação".

 

Ontem, advogados e consultores das duas partes -Pinheiro Neto Advogados e Signatura Lazard, do lado de Casas Bahia, e Barbosa, Müssnich e Aragão Advogados e Estáter, pelo Pão de Açúcar- passaram o dia em reunião. A expectativa é que eles cheguem a um consenso. Apesar de ampla, a pauta de revisão do contrato não prevê, segundo a Folha apurou, discussões sobre a venda do controle acionário das Casas Bahia.

 

Divergências
O acordo que criou o maior grupo varejista da América Latina, com faturamento somado de R$ 40 bilhões, foi assinado no dia 4 de dezembro e já continha um prazo de seis meses para a conclusão das negociações. A pedido de Michel Klein, ele e Abilio Diniz concordaram em rever os termos do contrato em uma reunião ocorrida anteontem em São Caetano do Sul, sede das Casas Bahia.

 

A família Klein considera que as Casas Bahia foram subavaliadas. Por isso, estaria demandando compensações. A família também discorda do cronograma para que ela possa vender as ações da empresa, previsto no contrato original.

 

Pelo acordo original, os donos das Casas Bahia não poderão se desfazer das ações pelo prazo de 12 meses.

 

E, no período de um a quatro anos da data da assinatura do acordo, eles só poderão vender até 29% das ações. O acordo prevê que a partir do quinto ano eles vendam até 49% das ações. E só a partir do sexto ano, a contar da data da assinatura do contrato, é que poderão vender a totalidade das ações. O Grupo Pão de Açúcar, em contrapartida, pode, pelo contrato original, vender a totalidade das ações a partir do terceiro ano.

 

A família Klein também questiona o preço de avaliação de seus ativos. Desse preço depende uma série de contratos entre as partes, como os aluguéis de mais de 500 lojas, que permanecem como propriedade dos Klein.

 

Pão de Açúcar e Casas Bahia se tornaram sócios em uma nova empresa, que será dona da Globex, rede de bens duráveis que hoje é subsidiária integral do Grupo Pão de Açúcar e dona da rede Ponto Frio.

 

Para deter o controle da nova empresa (51%), o Pão de Açúcar entrou com a rede Ponto Frio, avaliada em R$ 1,23 bilhão, e com a rede Extra Eletro, avaliada em R$ 120 milhões.

 

As Casas Bahia foram avaliadas em R$ 1,290 bilhão, valor que contabiliza uma dívida líquida no valor de R$ 950 milhões, entre outros ativos e passivos.

 

O valor inclui uma fatia de 25% da fábrica de móveis Bartira. Ficaram de fora da operação a propriedade dos imóveis das lojas e dos centros de distribuição das Casas Bahia, 75% da Bartira e mais quase R$ 1 bilhão em créditos recebíveis.

 

Para especialistas, revisão de acordo afeta empresa de Diniz

 

A reação negativa do mercado à intenção das Casas Bahia de rever o acordo com o Pão de Açúcar aponta que um possível cancelamento do negócio seria mais nocivo à empresa da família Diniz do que à liderada por Michael Klein, dizem analistas.

 

O anúncio de revisão do contrato veio um dia após o Pão de Açúcar reportar vendas líquidas 50,2% maiores no primeiro trimestre de 2010 em relação ao mesmo período de 2009.

 

Para Renato Prado, analista da Fator Corretora, a queda das ações do Pão de Açúcar mostra "o quanto o mercado esperava que o negócio agregasse valor" ao grupo. Em relatório ao mercado, a Ativa e o Deutsche Bank avaliam que uma possível alteração do acordo a favor da família Klein ou o cancelamento de toda a operação seriam negativos para o Pão de Açúcar.

 

A expectativa era que a associação gerasse sinergias de R$ 2 bilhões, numa rede combinada de mais de mil lojas, em 337 municípios de 18 Estados.

 

O mercado também aguarda novos lances dos concorrentes, principalmente o Magazine Luiza. Depois de perder para o Pão de Açúcar a disputa pelo Ponto Frio e, mais recentemente, a Insinuante para a Ricardo Eletro, a empresa comandada por Luiza Helena Trajano mantém o mercado à espera de anúncios de negócios, sob o risco de perder ainda mais espaço no setor.

 

O Magazine Luiza desceu para a terceira posição entre as varejistas, atrás desses outros grupos. Uma possível aliança com a Máquina de Vendas, holding formada por Ricardo Eletro e Insinuante, não é descartada pelo mercado, já que essas duas marcas, com forte atuação no Nordeste, poderiam se expandir em São Paulo.

 

As apostas dos analistas do setor de varejo, no entanto, privilegiam o perfil consolidador do Magazine Luiza, prevendo possíveis aquisições de redes regionais de menor porte -com até 20 lojas.

 

Veículo: Folha de São Paulo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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