Abilio e família Klein acertam trégua até 6ª-feira

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Donos das Casas Bahia se comprometem a não tomar decisões [br]radicais; para eles, empresa foi subavaliada em R$ 2 bilhões

 

Numa reunião encerrada na noite de segunda-feira, os controladores das Casas Bahia e do Pão de Açúcar fizeram um acordo de cavalheiros e concordaram em dar uma trégua, numa tentativa de superar os impasses que colocaram em risco a fusão das duas companhias.

 

Samuel e Michael Klein, das Casas Bahia, e Abilio Diniz, do Pão de Açúcar, assumiram "o compromisso moral de continuar conversando até sexta-feira e não tomar nenhuma decisão radical", disse uma fonte próxima das negociações. O pedido de trégua está relacionado à viagem de Abilio a Paris, para a reunião - que já estava agendada - do conselho de administração do Casino, sócio da família Diniz no Pão de Açúcar. O empresário deve retornar até amanhã.

 

O principal conflito entre os dois grupos gira em torno da avaliação que o Pão de Açúcar fez das Casas Bahia. A família Klein entende que seu negócio está subavaliado em pelo menos R$ 2 bilhões e quer rever essa cifra. Em dezembro do ano passado, quando o acerto foi feito, a rede o foi avaliada em R$ 6 bilhões.

 

Além do preço, os Klein querem rever a estrutura de comando, a governança da nova empresa e a venda antecipada de parte das ações em poder da família.

 

O acordo assinado vem sendo discutido há mais de um mês. Diante da resistência do Pão de Açúcar, no último fim de semana a família Klein resolveu endurecer e falou em desistir do negócio. Seus advogados vêm discutindo formas jurídicas para cancelar a fusão.

 

Uma das alternativas estudadas é recorrer a uma câmara de arbitragem. Na visão dos envolvidos, a arbitragem é um caminho mais rápido que recorrer à Justiça comum. Outra opção em avaliação é rescindir o contrato e arcar com uma eventual multa.

 

Depois do encontro entre os controladores dos dois grupos, o Pão de Açúcar publicou um fato relevante no qual confirma que as Casas Bahia querem rever o acordo, afirma que considera "o acordo válido e perfeitamente eficaz" e diz que vai continuar em discussões "com vistas a um entendimento".

 

Segundo pessoas ligadas aos Klein, o acordo fechado em 2009 tem as características de um compromisso de compra e venda, com vários pontos em aberto que deveriam ser definidos depois. Ele exigiria uma série de contratos complementares, que ainda não foram preparados.

 

Ações em queda. A indefinição quanto aos rumos do negócio teve reflexo nas ações do Pão de Açúcar. Ontem, os papéis da companhia apresentaram queda de 4,98%. Foi a empresa do Índice Bovespa que mais se desvalorizou no dia. Em relatório a clientes, a analista Juliana Campos, da corretora Ativa, disse que, caso a associação não seja concretizada, o preço-alvo para dezembro de 2010 sofreria uma queda de 11%, de R$ 83,45 por ação para R$ 69,19 por ação.

 

Para o analista do setor de consumo da Planner, Pérsio Nogueira, enquanto houver dúvidas em relação à concretização do negócio, as ações do Pão de Açúcar podem sofrer uma desvalorização entre 5% a 10% em comparação com o valor que vinha sendo negociado antes do anúncio da revisão dos termos do acordo.

 

Segundo o analista da SLW, Cauê Pinheiro, o mercado já tinha precificado os ganhos de sinergias para o Pão de Açúcar com as Casas Bahia. "Caso o negócio não aconteça, o mercado vai devolver os ganhos dos papéis nos últimos meses", disse.

 

Indústrias e varejistas agradecem

 

Se o negócio entre Casas Bahia e o Grupo Pão de Açúcar for desfeito, a indústria e as redes varejistas concorrentes saem ganhando. Desde que a fusão entre as duas empresas foi anunciada, no fim do ano passado, as fabricantes de eletrodomésticos da linha branca e as indústrias de eletrônicos estão preocupadas com o poder de fogo que teria essa nova gigante do varejo na determinação de preços e condições de pagamento. No caso de lavadoras, por exemplo, há indústrias que destinariam mais da metade da sua produção para essa nova empresa. Dessa forma, ficariam totalmente dependentes das condições ditadas pelo comprador.

 

Também as redes varejistas concorrentes sentirão um certo alívio se o negócio minguar. A grande ameaça para essas empresas de médio e pequeno portes que vendem eletroeletrônicos e móveis é a política muito agressiva de vendas do novo conglomerado que estava se desenhando. Comprando grandes volumes, esse megabloco varejista certamente teria mais condições de esticar prazos e reduzir preços, repassando as vantagens obtidas da indústria na hora da compra para seus clientes. Uma prova dessa preocupação dos concorrentes foi a recente união da mineira Ricardo Eletro com a baiana Insinuante, formando a segunda maior rede de eletrodomésticos e móveis do País, com vendas de R$ 5 bilhões.

 

Cálculos feitos a partir de faturamentos divulgadas pelas empresas mostram que, se o negócio não vingar, as Casas Bahia continuarão na liderança, com receita de R$ 13 bilhões. Mas a situação ficará apertada para o Grupo Pão de Açúcar/ Ponto Frio, cujas vendas nesse segmento somarão R$ 5,5 bilhões, apenas R$ 500 milhões à frente da Ricardo Eletro/ Insinuante.

 

Veículo: O Estado de São Paulo

 

 


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