Caso se mantenha a união entre Pão de Açúcar e Casas Bahia, a fusão entre Ricardo Eletro e Insinuante vai chegar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) com ampla possibilidade de aprovação. A expectativa inicial no órgão antitruste é a de que o negócio entre a Ricardo e a Insinuante deve garantir a competição contra a união entre os dois grandes grupos do varejo.
Hoje, o Cade fará um sorteio para definir o conselheiro-relator do processo Ricardo-Insinuante. Nos casos de grandes fusões, é o relator quem convoca as empresas para discutir a assinatura de um acordo para suspender temporariamente a fusão, enquanto o negócio é avaliado. Isso aconteceu no caso da compra do Ponto Frio e das Casas Bahia pelo grupo Pão de Açúcar.
Após rodadas de negociações entre conselheiros e advogados das empresas, o Cade assinou, em fevereiro, um termo com o Pão de Açúcar pelo qual as companhias envolvidas na fusão não podem fechar lojas nem centros de distribuição. Por outro lado, o órgão antitruste permitiu a realização de aportes financeiros e societários entre as empresas e autorizou a realização de compras conjuntas delas com fornecedores.
No caso da fusão entre Ricardo Eletro e Insinuante, que formaram a holding Máquina de Vendas, os integrantes do Cade acham que é grande a chances de nem ser necessário um acordo desse tipo. Isso porque o aumento de concentração de mercado em termos regionais é quase inexistente. Enquanto a Insinuante atua mais no Nordeste, a Ricardo foca-se no Sudeste. Não haveria motivos para determinar a separação total das redes, a não ser em cidades em que ambas tenham lojas. Nesses casos, o órgão pode achar prudente manter bandeiras distintas até o julgamento final das fusões no varejo.
Segundo um integrante do Cade, se um acordo for assinado, as condições seriam mínimas, só para garantir a separação em cidades onde ambas as redes possuem lojas. Mas, por enquanto, os conselheiros ainda não dispõem de informações claras sobre quais seriam esses locais.
As compras conjuntas da Ricardo Eletro e da Insinuante com fornecedores devem ser autorizadas antes do julgamento final pelo Cade, pois o Pão de Açúcar recebeu aval para esse tipo de operação com as Casas Bahia e o Ponto Frio.
O fato de a fusão entre Ricardo Eletro e Insinuante ter sido anunciada após as aquisições do Pão de Açúcar levam a uma situação curiosa do ponto de vista antitruste. Se o Cade impuser restrições às compras do Pão de Açúcar, Ricardo e Insinuante também podem ter problemas no futuro. Ou seja, se o órgão desenvolver a tese de que as uniões no varejo prejudicam o consumidor, esse entendimento afetará todos os negócios no setor. Por outro lado, se aprovar as aquisições do Pão de Açúcar, a tendência será de sinal verde para Ricardo-Insinuante.
Ainda não há prazo para o julgamento dessas fusões. As compras do Pão de Açúcar estão sob a análise da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda, que fará um parecer para auxiliar o Cade no julgamento. A união Ricardo-Insinuante sequer foi notificada. Pela lei, as empresas têm 15 dias após o anúncio para informar o Cade. O negócio foi anunciado em 29 de março e deve chegar formalmente para análise nos próximos dias.
Veículo: Valor Econômico