Parmalat adia pagamento de leite a produtores do RS e leiloa veículos

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Num sinal de que a crise enfrentada por sua controladora Laep Investments, sobretudo após a queda brusca de suas ações na Bovespa, pode estar longe do fim, a Parmalat Brasil começou a adiar o pagamento de produtores de leite que entregam a matéria-prima em sua unidade gaúcha. Este mês, pecuaristas que fornecem leite para processamento na unidade de Carazinho receberam uma correspondência da empresa informando que, a partir de outubro, a data de pagamento do produto entregue será transferida para o dia 20. Normalmente, ocorria no dia 15 de cada mês.

 

Na carta, a empresa informa que "o fornecimento do dia 01 ao dia 30 de setembro de 2008 será pago no dia 20 do mês subsequente". A alegação para a mudança é a "necessidade de fazermos algumas adequações em decorrência de estarmos num momento adverso no mercado de lácteos". Segundo justifica a empresa na carta, "o aumento considerável dos estoques de leite nas indústrias, aliado ao prazo para a venda de leite ser em média de 45 dias, (sic) necessitamos adequar as datas de pagamento, buscando melhor performance operacional (...)". 

 

Além de "esticar" o prazo de pagamento, a Parmalat também reduziu a captação de leite em suas unidades, de estimados 130 milhões por mês, para 70 milhões, segundo fontes do setor. 

 

O corte no processamento de leite nas unidades da Parmalat no país foi uma das medidas anunciadas pela Laep, controladora da empresa, para reestruturar as operações depois de registrar um prejuízo de R$ 73 milhões no segundo trimestre deste ano. 

 

Mas não foi a única ação, nem a mais dura. Para gerar caixa, a Laep vendeu até mesmo o que tinha praticamente acabado de adquirir e que dizia ser ativo estratégico para seu crescimento: o negócio Poços de Caldas e a licença da marca Paulista. Esses ativos, que haviam sido adquiridos da Danone em abril, foram vendidos para o laticínios Morrinhos, da GP Investimentos, menos de cinco meses depois. 

 

A Parmalat também fechou plantas de processamento de leite, em agosto e neste mês. Justificou que a decisão fazia "parte de um conjunto de medidas que visam ajustar a estrutura da empresa às demandas de mercado e buscar maior eficiência, concentrando as linhas de produção em fábricas localizadas nas proximidades dos maiores centros de consumo e das principais bacias leiteiras". A empresa suspendeu as operações em Ouro Preto d'Oeste (RO), cidade em que tinha unidade própria, e em Frutal (MG), onde havia arrendado planta (com opção de compra) da Cooperativa Mista de Produtores Rurais de Frutal. 

 

Em busca por recursos - num momento em que o crédito está ainda mais escasso por conta da crise internacional - a Laep também tem leiloado ativos da Parmalat. Na semana passada, vendeu em leilão, por meio de um site na internet, 28 caminhões, automóveis, utilitários e motos, de suas unidades de Governador Valadares (MG) e Votuporanga (SP). 

 

Como a Parmalat Brasil está em recuperação judicial, toda venda de ativos tem de ser autorizada pelo juiz responsável, Alexandre Alves Lazzarini. 

 

A expectativa no mercado é de que a empresa possa se desfazer de outras fábricas para gerar caixa. A própria unidade de Carazinho é alvo de rumores de que estaria à venda, assim como a planta de Governador Valadares (MG). 

 

Quatro anos após a crise que levou a empresa à recuperação judicial - em decorrência de problemas contábeis em sua antiga controladora na Itália -, a Parmalat voltou a ficar na berlinda no fim de junho passado. Na ocasião, o banco de investimentos UBS Pactual, o mesmo que coordenou a oferta inicial de ações da Laep, divulgou relatório cortando a recomendação e as projeções para os papéis da controladora. No relatório, o banco também questionou a governança da companhia, por ter aplicado os recursos obtidos na Bovespa - R$ 507 milhões em outubro do ano passado - de forma diferente do que havia prometido aos investidores quando se apresentou ao mercado. 

 

Desde o relatório, no dia 30 de junho, as ações da companhia já caíram quase 85%, e os papéis valiam ontem apenas R$ 0,40. Considerando o dia do lançamento das ações, a queda acumulada é de 94,67%, segundo o Valor Data. 

 

O balanço da Laep mostra que, no segundo trimestre deste ano, as receitas da empresa não cobriram suas despesas operacionais. A companhia teve receita líquida de R$ 405 milhões e prejuízo de R$ 73,3 milhões. Com um caixa de R$ 41 milhões, tinha dívida bruta de R$ 426 milhões. 

 

Na divulgação dos resultados do segundo trimestre, em agosto, o presidente da Laep, Marcus Elias, admitiu, em teleconferência com analistas, ter errado "no timing ao dobrar a companhia de tamanho em um momento em que o mercado estava totalmente adverso". 

 

De fato, a Parmalat não é a única a sofrer no mercado de lácteos atualmente. Talvez tenha sido a mais prejudicada por ter dado um passo maior do que a perna ao comprar vários ativos para crescer. A verdade é que o setor, tradicionalmente de margens apertadas, está sendo afetado agora por uma superoferta de leite no país depois do período de preços altos em 2007, que estimularam a produção. Essa oferta excessiva já fez o preço médio do leite aos produtores no país cair 16,4% em um ano, segundo a Scot Consultoria. 

 

Veículo: Valor Econômico


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