Moinhos ainda esperam por repasse do governo federal

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O Brasil teria capacidade extra para estocar 4,5 milhões de toneladas de grãos se os R$ 536 milhões liberados pelo governo em apoio ao trigo fossem destinados à construção de silos. A verba foi liberada desde novembro de 2009 por meio do Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) e Aquisições do Governo Federal (AGF).

 

Segundo Bernardo Badoti, executivo do Moinho Cascavel, do Paraná,  o PEP de aproximadamente R$ 450 milhões ainda não foi repassado aos moinhos. O programa é realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “Até agora não saíram os prêmios. De acordo com o edital, o prazo é de 10 dias após aprovação dos documentos, mas os papéis estão em análise há mais de seis meses”, afirma Badoti, que também é diretor industrial da Badoti Alimentos.

 

Ainda segundo o executivo, foram comercializadas por meio do PEP, 3 mil toneladas de trigo.

 

Para Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, o governo deveria aumentar de 10% para 35% o imposto de importação, a Tarifa Externa Comum (TEC), ao invés de subsidiar comercialização. A medida, segundo Pih, seria uma maneira de proporcionar preços mais atrativos ao produtor, que poderia vender o trigo no preço mínimo, hoje cotado a R$ 530. “Isso elevaria o custo de compra lá fora e o impacto ao consumidor final seria mínimo: um aumento de 3% no preço do pão. O governo também contaria com mais arrecadação fiscal”, diz.

 

Por outro lado, Pih admite que para os moinhos o aumento da tarifa não seria bom negócio. “Os moinhos iriam reclamar no início, por despender  mais capital de giro e pela redução de margem, mas são 200 moinhos contra centenas de milhares de produtores.”

 

Antenor Barros Leal, conselheiro da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), defende a extinção da TEC e investimentos na qualidade da produção de trigo nacional. “O governo deveria tirar a TEC caso queira subir o preço ao consumidor. O negócio é investir aqui: se tivermos trigo de qualidade o mercado interno absorve”, afirma.

 

Apesar da estimativa de redução de área nesta temporada, o setor espera aumento de produtividade do grão, o que pode potencializar a dificuldade nacional de armazenamento, além de sinalizar necessidade de subvenção por parte do governo, como ocorreu em 2009.

 

De acordo com Élcio Bento, analista da Safras & Mercado, não há indícios de mudança cambial, que tem sido um dos fatores determinantes da importação do cereal. “O preço para o trigo brasileiro este ano não é otimista. Sem contar que em ano de eleição historicamente os investidores temem mudança política e econômica. Eles [investidores] podem tirar recursos do Brasil.”

 

Levantamento da Safras  aponta uma produção de 5,55 milhões de toneladas, em uma área de 2,28 milhões de hectares na safra 2010/2011. Na temporada passada, ainda segundo estimativa da Safras, o montante de trigo colhido foi de 5 milhões de toneladas em 2,37 milhões de hectares.

 

Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a safra 2010 deve render 5,4 milhões de toneladas, ante 4,9 milhões da anterior.  De acordo com o presidente do Moinho Pacífico, atualmente estão nos estoques do governo 700 mil toneladas do produto.

 

Para Pih, é necessário decisão imediata do governo, quanto ao aumento da TEC, especialmente neste momento que é de decisão de plantio. “Se o governo não aumentar a TEC terá condições de injetar R$ 536 milhões ou mais em programas de escoamento de produção nesta safra?”

 

Segundo Pih, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) alega falta de verba. “Sem contar que existem outras commodities que contam com suporte do governo”, diz.

 

Segundo Bento, a recuperação da produção de trigo argentino de trigo é outro fator negativo para o produtor brasileiro. Para 2010, os 10 milhões de toneladas a 12 milhões de toneladas de trigo esperados na Argentina, para Bento, são modestos. Para o analista, o mercado sentirá o impacto argentino em novembro, quando o Rio Grande do Sul também colhe.

 

Procurados pelo DCI, a Conab e o Ministério da Agricultura, hoje comandado por Wagner Rossi, ex-presidente da estatal, não se manifestaram sobre o assunto.

 

Veículo: DCI


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