Problemas com a mudança da cotação do dólar também poderão atingir o balanço de outras grandes exportadoras brasileiras, além da Sadia.
O Valor teve acesso a uma mensagem eletrônica encaminhado pelo diretor financeiro de uma grande exportadora brasileira para um diretor do Banco Central.
O executivo mostra grande preocupação com o que define como "um agravamento muito perigoso da crise" e se diz certo de que a "única solução para tranqüilizar o mercado e reduzir volatilidade seria o BC realizar imediatamente alguns leilões de venda de dólar.
O e-mail é datado de 17 de setembro. No dia 19, o BC realizou leilão de venda de dólares, medida que não adotava desde 2003.
Ainda conforme a mensagem escrita pelo executivo, a apreciação recente da moeda justificou uma "postura ativa dos exportadores na busca de proteção no mercado". Os instrumentos tradicionais utilizados foram a BM&F , nos mercados futuros e derivativos/ swaps oferecidos pela comunidade bancária. Sempre conforme o relato dele, os bancos grandes estrangeiros criaram produtos em alguns casos com depósitos de margens e em outras situações só com a marcação de mercado.
"Com a atual volatilidade diante de uma crise internacional, as empresas estão perdendo substancial patrimônio líquido e caixa de forma acelerada. Entretanto, o efeito é dominó, pois as empresas são obrigadas a resgatar CDBs em bancos normalmente de médio porte."
Na última quarta-feira, o BC anunciou a flexibilização dos depósitos compulsórios dos bancos, medida que tinha como objetivo aumentar a liquidez e assim melhorar a situação de instituições de pequeno e médio porte.
O relato do executivo da grande empresa prossegue dizendo que "conversando com diversas empresas senti que estamos diante do chamado efeito manada". Na avaliação dele, a instabilidade assusta e leva a decisões precipitadas. "Vale lembrar que as empresas são indústrias que geram renda e empregos. Só quem ganha com essa volatilidade são somente os especuladores que estão sendo os grandes vitoriosos. E nós que produzimos estamos sendo brutalmente penalizados." O crédito como Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC), diz, praticamente está desaparecendo até para as grandes empresas .
O executivo pondera, ainda, que "sabe perfeitamente como funciona a sistemática de decisão". "É natural que a autoridade assuma uma posição institucional conservadora e prudente."
Veículo: Valor Econômico