Puratos investe em "chocolate de origem" do Brasil

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A empresa belga Puratos, de produtos para panificação e de chocolates de uso industrial, decidiu investir cerca de €10 milhões de euros (R$ 22,5 milhões) em um projeto para criar o primeiro chocolate de origem do Brasil. Para isso, a companhia deve adquirir nesta semana o controle acionário de uma fábrica de liquor de cacau (a matéria-prima do chocolate) em Linhares, no Espírito Santo, e está montando uma fazenda modelo de 120 hectares para produção da fruta, na mesma cidade.

 

"Para se ter um chocolate de qualidade, o cacau precisa ter a produção controlada, assim como acontece com o vinho, cuja qualidade é determinada pela região e o tipo da uva com que a bebida é feita. Esse é o espírito desse projeto", diz Caio Gouvea, diretor geral da Puratos no Brasil.

 

A meta da companhia é produzir o chocolate de origem do Brasil na Bélgica, já que a origem do cacau é a que conta, e não a do chocolate. A empresa, segunda maior fabricante belga de chocolates, quer, com o novo produto, fornecer um artigo diferente e fino para "chocolatiers", os especialistas no produto e indústrias.

 

No mundo todo, a Puratos, dona da marca de chocolates belgas Belcolate, cultiva cacau por meio de fazendas próprias ou de associação com agricultores em oito países produtores de cacau, para fabricação de chocolates de origem. Como no caso dos vinhos, o chocolate de origem exige atenção no manejo e no processamento da planta.

 

"No Brasil, o cacau era plantado no meio do mato, sem nenhum cuidado. Isso favoreceu a aparição de pragas, como a vassoura e a monília, que devastaram a cultura", explica Gouvea. Por isso, o projeto da Puratos inclui o treinamento dos produtores locais de Linhares. "Começamos agora a treinar 450 produtores da região", diz Gouvea.

 

Desde a plantação do cacau até a fabricação, todo o processo para se obter o chocolate de origem precisa ser monitorado e obedecer a altos padrões de qualidade. O cacau precisa descansar por sete dias depois da colheita, num processo chamado de fermentação. Essa etapa, explica Gouvea, não é feita com o chocolate comum. "Além disso, a fabricação do liquor (resultado do cacau esmagado) tem que acontecer próxima do local onde se produz a fruta, uma vez que a a amêndoa é frágil e perde qualidade se viaja grandes distâncias ou pega umidade", explica.

 

Por isso, a empresa - concorrente da suíça Barry Callebaut - está adquirindo o controle acionário de uma fábrica recém inaugurada em Linhares pelo grupo Floresta do Rio Doce, que investiu R$ 8 milhões na unidade. "Um terço da produção da fábrica será exportado para a Bélgica, onde produziremos os primeiros chocolates com denominação de origem controlada do Brasil", diz Gouvea. A planta tem capacidade inicial de moagem de 2,5 mil toneladas por ano de cacau. Até 2012, esse total chegará a 7,5 mil. Segundo Gouvea, a Puratos espera fechar a aquisição do controle da empresa até o final desta semana.

 

A fábrica, segundo Gouvea, é estratégica para o projeto da Puratos porque o chocolate de origem, diferente da fabricação do comum, é produzido a partir do liquor. O chocolate é fabricado ao se adicionar ao liquor, ingredientes como o açúcar, leite em pó e lecitina de soja. Já o chocolate consumido em escala no país é feito a partir do fracionamento do liquor. Ou seja: ao prensar o liquor solidificado, extrai-se manteiga de cacau e cacau em pó.

 

A partir da mistura da manteiga de cacau, massa de cacau, gordura, açúcar, leite em pó e lecitina de soja, fabrica-se o chocolate comum. Já o cacau em pó proveniente do fracionamento do liquor é usado para fabricação de achocolatados e outros produtos, como doces e confeitos.

 

Já os chocolates com 80%, 70%, 50% ou 40% de cacau, assim como os chocolates de origem, só podem ser feitos com cacau de boa qualidade. O bom cacau é aquele que tem menor de teor de manteiga. Quanto menor o teor de manteiga, maior pode ser a porcentagem de cacau no chocolate.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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