Falta de mão de obra faz salário subir

Leia em 4min 40s

Com escassez de trabalhadores qualificados, empresas pagam até 20% acima da média nacional, revela pesquisa

 

Fenômeno afeta mais os setores que fizeram grandes investimentos, como os de mineração, extração de óleo e gás

 

A escassez de mão de obra qualificada já "inflaciona" os salários, principalmente nas empresas dos setores de mineração e petróleo.

 

Pesquisa feita com 175 mil profissionais que trabalham em áreas operacionais, gerenciais e no alto escalão de empresas de 20 ramos econômicos mostra que os setores de mineração, extração de óleo e gás pagam 20% acima da média nacional.

 

Em segundo lugar aparecem empatados os setores automobilístico, de autopeças, de fabricação de computadores e de eletricidade, pagando 13% acima da média.

 

"Com a crise, o setor industrial teve forte retração e engavetou projetos. Passado o susto, os investimentos que estão sendo anunciados superam os que vinham sendo feitos antes da crise. E isso tem forte impacto no mercado de trabalho", diz Lucio Tezzotto, gerente de atendimento da Catho Online.

 

Só os planos de investimento da indústria e do setor de infraestrutura para o período de 2010 a 2013 somam R$ 859 bilhões, segundo levantamento do BNDES.

 

O principal destaque é o setor de petróleo e gás, que, devido ao pré-sal, pretende investir R$ 340 bilhões.

 

TENDÊNCIA DE ALTA
Com mais recursos sendo investidos e profissionais em número insuficiente para suprir as necessidades das empresas, a tendência é os salários continuarem em alta.

 

Marcelo Ferrari, diretor de negócios da consultoria Mercer, acredita que mesmo as empresas que investiram em formação e treinamento terão dificuldades para reter seus profissionais neste ano.

 

Ele diz que o país não formou, durante os anos 80 e 90, por exemplo, engenheiros de mineração -profissionais disputados hoje no mercado. "Sumiram do mercado de trabalho. E agora são necessários cinco anos para formar esses profissionais."

 

Para compensar a escassez de mão de obra qualificada, empresas que faturam entre US$ 100 milhões e US$ 1 bilhão têm investido entre 0,2% e 0,5% do faturamento em qualificação.

 

Em 2009, a Petrobras investiu R$ 115,9 milhões em programas de desenvolvimento de funcionários de níveis técnico e superior, diz Lairton Correa, gerente de efetivo de RH da Petrobras.

 

"Sempre há disputa no mercado. Mas ter política de RH, com plano de cargos, salários e benefícios, ajuda a segurar o empregado."

 

Na Petrobras, a taxa média de desligamento por ano é de 1,3%. O tempo médio na empresa é de 15 anos.

 

Fernanda Ramos, gerente de RH da Ford, diz que a empresa também tem investido em torno de R$ 3,2 milhões ao ano para preparar principalmente engenheiros de produção. No setor automobilístico, os salários pagos a esses profissionais estão entre R$ 4.000 e R$ 7.000.

 

"Temos feito convênios com universidades, principalmente na BA [onde está o centro de desenvolvimento de produtos], e desenvolvido cursos em parceria para suprir as necessidades locais."

 

Executivos terão bônus até 30% maiores

 

DE SÃO PAULO

Com a retomada da economia e a disputa acirrada por profissionais, o pagamento de bônus a executivos também deve crescer entre 25% e 30%. Esses bônus serão pagos em 2011 e são referentes aos resultados deste ano.

 

A previsão é de especialistas que atuam em consultorias que atendem grandes companhias de todo o país.

 

A tendência é que os valores pagos neste ano sejam mais próximos dos pagos em anos pré-crise.

 

"Com perspectivas favoráveis, as empresas desengavetaram projetos e precisam de profissionais para comandar os investimentos. Se a empresa não tem esse executivo, terá de buscar no mercado. Nessa hora o pagamento de bônus ultra-agressivo é uma forma de atrai-lo", diz Rodrigo Araújo, sócio-diretor da consultoria Korn Ferry.

 

Setores como mineração, petroquímico e infraestrutura, de uma forma geral, devem se destacar no pagamento de bônus, avalia o consultor.

 

"Mas o varejo, que teve movimentação intensa de fusão e aquisições, principalmente nos dois últimos anos, também tem potencial para pagar ganhos substanciais", diz Araújo.

 

Para Marcelo Ferrari, da Mercer, os valores dos bônus pagos em 2011 serão maiores porque a maioria das empresas vai obter resultados financeiros melhores neste ano. "Os resultados devem ser acima das metas e de orçamentos previstos."

 

Entre os setores que devem se destacar e pagar valores mais altos de remuneração variável, segundo o consultor, estão açúcar e álcool, mineração, construção civil e consumo.

 

No ano passado, os valores dos bônus pagos a presidentes e diretores foram de 7,4 e 6,1 salários-base, respectivamente -esses valores se referem aos resultados obtidos em 2008.

 

Não só os bônus devem ser maiores neste ano, mas o salário pago aos executivos também está crescendo, segundo levantamento da Hay Group de janeiro deste ano com 220 empresas.

 

O setor petroquímico e químico tem pago salários 8% acima da média nacional, e o elétrico, em torno de 5%, segundo Olavo Chiaradia, consultor do Hay Group.

 

"São setores que tradicionalmente remuneram bem, mas têm se destacado em razão de investimentos feitos", afirma. (CR)

 

Veículo: Folha de S.Paulo


Veja também

Sorvete de praia

O Sorvete Itália está completando 35 anos de supremacia no mercado carioca. A marca, famosa pelos sorvetes...

Veja mais
Eletroeletrônico no vermelho

O deficit da balança comercial de produtos do setor eletroeletrônico atingiu US$ 7,79 bilhões no acu...

Veja mais
Orgânicos conquistam os supermercados

Sem a figura do atravessador, agricultores orgânicos estão conseguindo colocar seus produtos nas gônd...

Veja mais
Valeu a insistência do dono

Em 1979, o empresário Silvio Santos criou a empresa de cosméticos Chanson. Investiu na marca, contratou ex...

Veja mais
Liberação do BNDES a empresas cresce 34%

Valor de desembolsos atinge R$ 35,8 bilhões de janeiro a abril, a maior parte para infraestrutura   Os des...

Veja mais
O gargalo das estradas

Com base em estudo sobre as rodovias federais, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), pod...

Veja mais
Indústria turbina sabores para americanos

O gosto amanteigado dos alimentos prontos nos Estados Unidos não é mais só manteiga. Cada vez mais ...

Veja mais
País avalia pedido de vizinhos para aumentar a TEC do trigo

O Ministério da Agricultura estuda um pedido encaminhado por Argentina, Uruguai e Paraguai para aumentar, dos atu...

Veja mais
Vendas de linha branca desaceleram, mas indústria ainda projeta expansão

Quatro meses depois do fim do incentivo envolvendo o Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) de fogões, gelad...

Veja mais