BNDES vai estimular indústria do plástico

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A diretoria do BNDES aprovou na terça-feira um programa de estímulo ao desenvolvimento e consolidação da indústria de transformação de plástico que prevê, somente em empréstimos, de R$ 700 milhões até setembro de 2012. Batizado de BNDES Proplástico, o programa tem cinco linhas de crédito direto, no valor mínimo de R$ 3 milhões, voltadas para incorporação, fusão ou aquisição de empresas, apoio à produção e modernização, aquisição de máquinas nova com o sucateamento obrigatório das antigas, inovação e investimentos em reciclagem e outros investimentos de caráter socioambiental.

 

A iniciativa do BNDES tem o objetivo de estimular a continuidade do processo de robustecimento da cadeia produtiva petroquímica cujo passo mais recente foi a transformação da Braskem em uma empresa de porte global, consolidando os ativos da Petrobras e do grupo Odebrecht. "O que o banco fez até agora foi apoiar projetos. A consolidação está concluída no que diz respeito à petroquímica (entendida como a etapa de produção de resinas termoplásticas). Falta apenas a expansão mundial", afirmou Gabriel Gomes, um dos gerentes do Departamento de Indústria Química do BNDES.

 

Gomes e a também gerente Valéria Delgado Bastos, que vêm há vários anos trabalhando em alternativas que possibilitem um salto de qualidade quanto à agregação de valor da cadeia química e petroquímica, entendem que chegou a hora de fazer esse novo movimento de política industrial com o objetivo de integrar a cadeia e diversificar a indústria. Para eles, os movimentos que vêm sendo feitos na Ásia e no Oriente Médio (Arábia Saudita e Emirados Árabes, principalmente) pressionam o Brasil a tomar iniciativas tanto para garantir seu próprio mercado como para disputar o mercado mundial.

 

Hoje o Brasil é deficitário no comércio de produtos e artefatos de plásticos, tendo importado US$ 918,4 milhões a mais do que exportou em 2009. Além disso, o setor é altamente fracionado, contando com mais de 11 mil indústria, mais de 70% das quais classificadas como microempresas. O BNDES já apoia o setor por intermédio das linhas tradicionais de empréstimo indireto (via agente repassador), especialmente a Finame (compra de máquinas e equipamentos), tendo desembolsado uma média de aproximadamente R$ 400 milhões de 2000 a 2009.

 

O novo programa é mais voltado para indústrias de médio-grande porte, uma nova classificação criada pelo banco estatal que engloba empresas com faturamento entre R$ 60 milhões e R$ 300 milhões. As micro e pequenas seguirão sendo atendidas pelas linhas tradicionais do BNDES. Segundo Gomes e Valéria, o banco quer atrair as empresas mais estruturadas do setor, conhecê-las melhor e saber das possibilidades que elas têm para crescer, inovar e se modernizar. Por isso, o programa pode ser ajustado, inclusive quanto à disponibilidade de recursos.

 

As linhas do BNDES Proplástico contemplarão, para contratos de até R$ 300 milhões, maior flexibilidade na burocracia de análise de crédito do banco, incluindo avaliação de classificação de risco, limites de exposição e garantias reais. Os créditos serão todos referenciados na Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), hoje em 6%, e a taxa de risco para empresas que faturem até R$ 300 milhões será de 0,5%.

 

Os empréstimos terão prazos de até dez anos, com três de carência. Para operações de consolidação, o empréstimo máximo será de R$ 50 milhões, podendo ser complementado com operações de renda variável, como a compra de debêntures.
 


Setor acha que pode competir com chineses

 

Para José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), o programa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) "chega em boa hora" para resolver uma equação desequilibrada: para cara dólar que o país exporta de produtos de plástico, ele importa dois. Na avaliação de Coelho, a indústria de transformação de plásticos "é uma das poucas nas quais o Brasil pode vir a ser mais eficiente do que os chineses".

 

O presidente da Abiplast disse que há algum tempo o setor vem pleiteando o que será agora estimulado, como o aumento do porte das empresas, a modernização, e um foco maior em pesquisa e desenvolvimento. Coelho também ressaltou a importância da linha que obriga ao sucateamento de máquinas velhas tanto no aspecto do aumento da segurança nas fábricas quanto no combate à informalidade.

 

A produção informal, segundo ele, é alimentada pelo uso de máquinas obsoletas, revendidas pelas empresas formais. Outro pleito da Abiplast para a redução da informalidade é a redução da alíquota de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do setor de 15% para 5%. Segundo dados da entidade, as mais de 11 mil empresas formais do setor de plástico empregam cerca de 300 mil pessoas e faturam aproximadamente R$ 35 bilhões.

 

Para Carlos Alberto Lopes, da consultoria Gas Energy, um dos maiores especialistas do setor, o salto de qualidade na cadeia produtiva da petroquímica exige a formação de uma nova mentalidade empresarial na terceira geração e na cadeia setorial como um todo. Até porque o Brasil, que desenvolveu sua petroquímica básica a partir de matérias-primas importadas, será um grande produtor dessas matérias-primas com o pré-sal. Ele acha que a mudança necessária será mais rápida com o financiamento do BNDES e com a indução da Braskem e da Petrobras, assim como a própria Petrobras fez com a cadeia da exploração e produção de petróleo. (CS)
 


Veículo: Valor Econômico


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