Exportação recorde trava porto de Santos

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Vendas externas se recuperam e congestionamento de caminhões demonstra gargalo no maior porto do país

 

O aroma da comida expulsa por um instante o cheiro exalado pelas 37 toneladas de açúcar guardadas sob a lona de um velho caminhão. O caminhoneiro João Neilen, 43 anos, prepara o almoço enquanto espera a vez no porto de Santos.

 

A previsão é de 30 horas de espera para despachar a carga. Na frente de Neilen, 130 caminhoneiros aguardam na fila dentro do Ecopátio, área onde a espera é obrigatória.
Os pátios viraram o único recurso para segurar os 14 mil caminhões que precisam alcançar diariamente o cais.

 

O porto de Santos, por onde cruza um quarto do comércio exterior brasileiro, recuperou a rotina de congestionamentos. A Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo) estima que pelo porto passarão 89 milhões de toneladas neste ano, um número que começa a parecer modesto demais.

 

Recorde de movimento já não é novidade em Santos. De janeiro a maio, a movimentação total chegou a 36,544 milhões, nada menos que 17% além de tudo o que passou por ali em igual período de 2009.

 

O número de maio foi o maior da história de 118 anos do porto: 8,959 milhões de toneladas num só mês.

 

OBRAS

 

Mas o recorde tem custo. O transporte rodoviário, responsável por 81% de tudo o que chega ao porto, revela o esgotamento da infraestrutura na Baixada Santista. Há investimento, mas que está longe de ser suficiente.

 

A Codesp investe R$ 457 milhões (dinheiro do PAC) para fazer uma reforma total na via perimetral da margem direita do porto. Prepara-se para fazer o mesmo na margem esquerda.

 

O projeto finalmente resolverá uma aberração: a divisão da mesma avenida por trens e caminhões. Até hoje, os caminhões cruzam o caminho das locomotivas e vice-versa.
Segundo o diretor de infraestrutura do porto, Paulino Vicente, as obras não estão afetando a movimentação em Santos. "Sem elas e com esse movimento, a situação seria realmente mais complicada", diz.

 

O SindiSan (Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista), organização que congrega 738 transportadoras que operam em Santos, diz que tem se alargado a diferença entre o sucesso do porto e a malha do litoral.

 

ANCHIETA

 

Para o SindiSan, há problemas que carecem de solução imediata. Um dos mais sérios é a Anchieta. Único corredor para os caminhões descerem a Santos, a rodovia é um dos maiores gargalos.

 

"A Anchieta foi aberta em 1949. De lá para cá, veja como os caminhões cresceram, são maiores, transportam mais cargas. Enquanto isso, tanto a Anchieta quanto o entroncamento com a Rodovia Cônego Domenico Rangoni pararam no tempo", diz Marcelo Marques da Rocha, presidente do SindiSan.

 

A abertura do Rodoanel elevou o fluxo de caminhões no litoral. "O caminhão não fica mais preso em São Paulo. Agora ele fica preso aqui na Baixada", diz.
A Secretaria Estadual dos Transportes informou que há planos para a expansão da Rodovia Cônego Domenico Rangoni, via de ligação entre a Padre Manoel da Nobrega e a Piaçaguera-Guarujá. Mas não há prazos.

 

A Codesp alega que o porto suporta o movimento, mas reconhece que a estrutura viária da Baixada está defasada. Além disso, a Codesp critica a gestão dos terminais e dos donos na liberação da carga. Sem ordem, caminhões viram armazéns.

 


Tempo de espera reduz número de fretes

 

As longas horas de espera para descarregamento dos caminhões no porto de Santos têm provocado uma redução no número de fretes por caminhão.

 

Segundo o SindiSan (Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista), o tempo para o descarregamento de contêineres no porto reduziu para dois o número de fretes possíveis entre São Paulo e Santos por semana.
"A frequência normal seria de cinco fretes na semana, mas os longos períodos de espera inviabilizam isso", diz Marcelo Marques da Rocha, presidente do SindiSan.
Danilo Tavares, 31 anos, conhece a rotina de longa espera nos pátios onde são obrigados a aguardar a vez em Santos. Tavares transporta açúcar e tinha como meta sair do interior de São Paulo e ir para Santos cerca de cinco dias por semana. Ficou mais difícil alcançar essa meta.

 

Isso representa menor renda. A maior parte dos caminhoneiros recebe comissões sobre o frete. A redução do número de fretes representa portanto queda de renda.
O caminhoneiro João Neilen afirma que já cumpriu 22 fretes num mês, entre o interior de São Paulo e a Baixada. "Atualmente, não consigo fazer mais do que 13 num mês", diz. Com uma renda de R$ 120 por frete, Neilen sentiu a renda cair bastante nos últimos tempos.

 

SOLUÇÃO

 

Paulino Vicente, diretor de infraestrutura da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo), disse que o açúcar, principal produto embarcado em Santos, passará a ser transportado por ferrovia. "Hoje, 30% do açúcar vem para Santos de trem. Em três anos, a ferrovia carregará 70% do açúcar para Santos", diz Vicente.

 

 

Veículo: Folha de S.Paulo


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