Enquanto empresas do segmento de venda direta miram estratégias para aumentar o número de seus revendedores e alavancar sua receita em até 30%, os cerca de 2,3 milhões de revendedores brasileiros, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (Abevd), percebem o segmento com outros olhos, deixando de vê-lo como simples fonte de renda extra e fazendo dele um negócio integral e lucrativo.
Criada em Sorocaba (SP), a Thipos atua com venda direta de produtos de perfumaria, higiene e beleza, e começou suas atividades no final de 2006 com 300 revendedores. Em 2008, estava com pouco mais de dois mil cadastrados ativos. Acreditando na ascensão da empresa e, principalmente, em seus potenciais de empreendedorismo, hoje a empresa já tem mais de 3.500 revendedores ativos. Rodrigo Ruiz, diretor da Thipos, acredita que o desemprego pós-crise foi o principal fator do aumento da procura pela venda direta. "Da abertura até o final de 2008, a empresa vinha crescendo 15% anualmente. Em 2009, logo após a crise, crescemos 30% e já sentimos dobrar a procura por revenda também."
Essa pode ser só uma amostra, mas exemplifica o motivo por que o Brasil alcançou em 2009 o posto de 3º país que mais movimenta o setor no mundo, ao atingir um faturamento de quase R$ 22 bilhões, segundo a Abevd, atrás somente de Japão e EUA.
Mais rentável
A Avon, pioneira e líder mundial em vendas diretas, atualmente conta com 6,2 milhões de revendedoras no mundo, cuja grande maioria é de mulheres. Segundo Luis Felipe Miranda, presidente da Avon no Brasil, há 124 anos a empresa percebeu que o negócio não só é uma positiva fonte de renda, mas principalmente um estímulo à autoestima, ao fortalecimento e à autonomia da mulher, fato notado nos mais de 100 países em que a empresa atua.
No Brasil, a Avon conta com a força de vendas de mais 1,1 milhão de revendedoras autônomas. Entre elas, Maria Aparecida Hirakawa, pós-graduada em Psicologia pela USP, deixou sua carreira no Hospital das Clínicas, em São Paulo, há 10 anos, quando optou por ser revendedora dos produtos Avon. Há três anos ela conseguiu comprar um espaço comercial que funciona como loja de pronta entrega e o escritório, de onde supervisiona uma equipe de mais de 50 revendedoras. "Há 2 anos não faturo menos que R$ 150 mil por ano. Além disso, é muito gratificante saber que 50 famílias são mantidas por toda essa cadeia produtiva de trabalho", comemora.
Mudança de foco
A De Millus, empresa do segmento de confecção íntima, começou como fornecedora de lingerie para o varejo, e hoje 70% de sua receita vêm de vendas diretas.
Segundo Nelson Cuptchik, diretor financeiro da De Millus, a empresa é hoje a maior fabricante de lingerie da América Latina, e espera fechar este ano com um faturamento de R$ 400 milhões, graças também ao seu batalhão de 130 mil revendedores cadastrados ativos.
Cuptchik disse que somente neste ano foram abertas 500 novas vagas de emprego e que até julho serão contratados 125 novos funcionários, para aumentar em 30% a produção, tanto para o varejo, como para a venda direta. Além disso, 1% será destinado a exportação.
A área de venda direta tem sido vista com um novo olhar por empresas e revendedores: deixa de ser fonte de renda extra para ser um negócio fixo e lucrativo. De um lado, empresas investem em aporte de produção e estratégias para aumentar o número de revendedores e alavancar sua receita em até 30% neste ano, como a sorocabana Thipos, de perfumaria e itens de higiene pessoal, que começou em 2006 com 300 revendedores e hoje tem 3,5 mil.
De outro lado, o segmento vê os revendedores mudarem o foco de suas atividades ao abandonar até a profissão para se dedicar exclusivamente à venda direta como empreendimento. É o caso de Maria Aparecida Hirakawa, revendedora de produtos da Avon, que de psicóloga virou empresária e fatura R$ 150 mil por ano só com venda direta.
Veículo: DCI