A criação do "Consecitrus" poderá levar mais tempo para sair do papel do que se imaginava. Se já não era um tipo de entendimento aprovado efusivamente pelas grandes indústrias paulistas exportadoras de suco de laranja, divergências entre os próprios citricultores deverão alongar ainda mais as discussões. Segue na prancheta, assim, o projeto de criação de um conselho com representantes dos dois lados para o estabelecimento de mecanismos que norteiem a formação dos preços de fornecimento da fruta para a fabricação da bebida, a exemplo do que acontece na cana (Consecana).
A Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), na pessoa de seu presidente, Flavio Viegas, defende que a criação do Consecitrus esteja associada ao pagamento, por parte das indústrias, de uma indenização aos produtores. Seria um valor adicional à possível multa que as indústrias teriam que pagar ao governo caso a suspeita de prática de cartel seja confirmada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
"O Consecitrus é necessário, mas não é suficiente. Aliado a ele é necessário que seja paga a indenização, independentemente de um acordo que venha a ser fechado com o Cade. Essa indenização é referente aos anos de perdas que os citricultores tiveram", diz Viegas.
Outra vertente dos produtores, no entanto, defende uma estratégia diferente. Segundo o diretor do departamento de citricultura da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gastão Crocco, o pagamento das indenizações não precisa estar relacionado com a criação do Consecitrus. "Precisamos colocar prioridade nas negociações e o Consecitrus é algo menos polêmico para começarmos a negociar com as indústrias. Precisamos avançar aos poucos", acredita Crocco.
A SRB está entrando agora nas negociações. Ontem, a entidade fez em sua sede, em São Paulo, a primeira reunião com todo o setor, colocando em uma mesma sala a Associtrus, indústrias e representantes de entidades dos dois lados.
E é com essa segunda vertente de produtores que as indústrias estão mais próximas. Segundo Carlos Viacava, diretor corporativo da Cutrale, as empresas de suco de laranja estão dispostas a avançar com o Consecitrus. "E nós [Cutrale] somos os maiores defensores", diz.
"Os produtores têm que decidir a estratégia que julgam mais inteligente. Avançar com as negociações ou condicioná-la ao pagamento de uma indenização. Uma coisa não depende necessariamente da outra", afirma o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Christian Lohbauer
Veículo: Valor Econômico