Novo acordo redefine forma de saída da família Klein da Nova Casas Bahia

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Renegociação. Pelo novo contrato de fusão, o Pão de Açúcar fará um aporte adicional de R$ 689,8 milhões na nova empresa; controladores da Casas Bahia também poderão vender ações de uma só vez, no lugar da forma escalonada prevista no acordo anterior

 

Após meses de negociações tensas e muitas idas e vindas, Pão de Açúcar e Casas Bahia oficializaram ontem um novo acordo de fusão, que substitui o acordo original assinado em dezembro. "Foi uma negociação longa, dura, muitas vezes tensa. Foi desgastante", disse em teleconferência o presidente do conselho de administração do grupo Pão de Açúcar, Abilio Diniz.

 

O contrato anunciado em dezembro, que criou uma gigante na venda de eletrodomésticos, eletrônicos e móveis, ao unir as operações do Ponto Frio e do Extra Eletro, do grupo Pão de Açúcar, às da Casas Bahia, foi questionado posteriomente pela família Klein. Os controladores da Casas Bahia queriam mudar alguns pontos, principalmente financeiros, do acordo.

 

Diniz avaliou que o acordo comunicado ontem ao mercado foi "muito bom" para todas as partes envolvidas. "Tivemos de decidir entre a hipótese de execução do contrato ou a renegociação. Nós optamos pela renegociação e seguimos pelo caminho certo", comentou. Segundo ele, mesmo diante das divergências nos números, os executivos e os profissionais das duas empresas envolvidos nas negociações sempre mantiveram um "clima amistoso".

 

Uma das principais divergências era em relação à avaliação do patrimônio da Casas Bahia envolvido na fusão. Para os Klein, houve uma subavaliação de cerca de R$ 2 bilhões. Para resolver esse ponto, o Pão de Açúcar concordou em aportar mais R$ 689,8 milhões na nova empresa.

 

Pelo novo acordo, os sócios de Casas Bahia farão a cisão parcial de empresa, compreendendo ativos, passivos, direitos e obrigações referentes ao negócio de varejo de bens duráveis, para uma nova e recém-constituída sociedade, chamada de Nova Casas Bahia. Em um prazo de no máximo 30 dias a partir da cisão, a Globex (Ponto Frio) convocará assembleia geral extraordinária a fim de deliberar sobre a incorporação da totalidade das ações de emissão de Nova Casa Bahia, mediante a emissão de novas ações.

 

Aprovada a incorporação de ações, os sócios da Casas Bahia passarão a ser titulares de ações de emissão da Globex representativas de 47% do capital social total dessa empresa, enquanto o Pão de Açúcar deterá pelo menos 52%, a depender da participação dos acionistas minoritários. Pelo acordo anterior, o Pão de Açúcar teria 50% mais uma ação.

 

Locação. Um outro questionamento dos Klein dizia respeito ao valor dos aluguéis dos imóveis que não entraram no acordo e serão alugados para a Nova Casas Bahia (como a nova empresa é chamada). Na renegociação, o valor anual dos aluguéis foi elevado de R$ 130 milhões para R$ 140 milhões nos três primeiros anos de contrato. A partir do quarto ano, o valor será reajustado pela inflação ou pelo valor correspondente a um porcentual de vendas brutas, o que for maior.

 

Houve também uma redefinição da forma de venda das ações da empresa pela família Klein. No acordo anterior, essa venda só poderia ser feita de forma escalonada. Agora, a venda pode ser feita de uma só vez, após um prazo de dois anos da assinatura do acordo.

 

"A nova empresa nasce capitalizada, com baixo endividamento e com linhas de crédito à disposição, inclusive por novas modalidades que antes não eram utilizadas pela Casas Bahia", disse na teleconferência o presidente executivo do Pão de Açúcar, Enéas Pestana. Ele afirmou também que os ganhos com as sinergias operacionais resultantes da associação com a Casas Bahia "já podem ser capturados este ano".

 

O executivo evitou dar detalhes das projeções do Pão de Açúcar diante da associação com a Casas Bahia, mas afirmou que por volta de 30 dias poderão ser apresentados os números mais consolidados da nova empresa. 

 


Para analistas, acordo foi bom para o Pão de Açúcar

 

A finalização anunciada ontem da revisão de alguns pontos do acordo entre o Pão de Açúcar e a Casas Bahia, assinado originalmente em dezembro do ano passado, foi bem recebida por analistas, que preveem a partir de agora espaço para que o papel da varejista colha as sinergias previstas com a associação.

 

Para os especialistas, o aporte de R$ 689,8 milhões do Pão de Açúcar na Globex já era esperado e vinha sendo precificado nos papéis da companhia. Na sessão de ontem, a Globex subiu 12,78% e o Pão de Açúcar caiu 2,36%, frente à alta do Ibovespa de 0,32%.

 

"Este valor adicional (aporte) à Globex já era esperado, por ser uma das principais reclamações da família Klein", disse Juliana Campos, analista de consumo da Ativa Corretora. Segundo ela, a maior preocupação era por conta da possibilidade de distrato da associação.

 

"Mesmo com o aporte, se gera valor ao Pão de Açúcar", afirmou. Juliana destacou ainda entre os principais pontos divulgados no acordo o novo cronograma para a venda das ações, o que tornará os papéis da Globex mais líquidos.

 

Caso a associação fosse desfeita, as duas companhias encontrariam um ambiente competitivo diferente em relação ao do final do ano passado. O crescimento da Máquina de Vendas, resultado da associação em março das varejistas Ricardo Eletro e Insinuante, colocou uma pressão adicional para a resolução do imbróglio entre os executivos das duas companhias. "Caso o negócio fosse desfeito, a Casas Bahia veria a concorrência cada vez mais de perto", disse um analista que preferiu não ser identificado.

 

Para o analista da SLW Cauê Pinheiro, a revisão do acordo veio em linha com o que o mercado aguardava. "A definição será muito boa para as ações, que começarão a colher os frutos das sinergias previstas. Os papéis vinham sofrendo muito com as indefinições", disse. Ele ressaltou como positivo o mecanismo utilizado para a injeção do aporte adicional de recursos à Globex, por meio de Certificados de Depósito Bancário (CDB) e conferência dos ativos e passivos do Extra Eletro.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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