Vendas de itens como chocolates, geleias, chás, pimentas e mostardas crescem na casa dos dois dígitos ao ano e ganham lugar cativo na mesa das classes A e B
O chocolate fino Lindt, criado na Suíça há exatos 165 anos, dificilmente derretia na boca dos brasileiros há uma década. Somente aqueles que viajavam ao exterior ou frequentavam os empórios sofisticados tinham acesso a um dos tabletesmais comentados do mundo. Hoje, da mercearia de bairro aos hipermercados, a Lindt é presença constante nas prateleiras. O produto, importado e distribuído no Brasil com exclusividade pela Aurora Bebidas e Alimentos Finais, chega a todo o território nacional. “As vendas de Lindt quase triplicaram nos últimos cinco anos”, revela Camila Corsini, gerente de marketing de doces da Aurora. Para a Lindt, o Brasil é hoje o mercado mais importante da América Latina, com exceção do México.
Há dois fortes motivos por trás deste boom no consumo do chocolate premium por parte dos brasileiros. O primeiro é que a distribuição de Lindt cresceu a olhos vistos nos últimos anos. Ao desembarcar em volume nas gôndolas do varejo, a marca conseguiu ganhar visibilidade no país. A queda do dólar também está relacionada ao aumento do consumo de chocolates e outros alimentos importados. Em 2003, a taxa de câmbio era de R$ 3,00. Desde 2007, ela encontra-se mais estável, não passando de R$ 2,00, o que estimula o consumo de iguarias francesas, italianas, belgas e alemãs, entre tantas outras.
Ao mesmo tempo, com o aumento do poder aquisitivo e da cultura do brasileiro, ele vem desenvolvendo novos hábitos de consumo, sofisticando o paladar e valorizando produtos de alta qualidade no seu dia-a-dia. Sem culpa Há ainda outro fator que incentiva o consumo de alimentos chamados de luxo. Trata-se da “indulgência”, benevolência que o indivíduo tem consigo e que faz uso do paladar para satisfazer a alma. Não é por acaso que muitas grifes alimentares apelam para a indulgência para vender suas gostosuras de luxo, a exemplo da belga Godiva. “O consumidor está cada vez mais atento às novidades e percebe a diferença em qualidade, sabor, inovação e até saudabilidade que muitos alimentos importados proporcionam.
Os fabricantes estrangeiros, por sua vez, miram sua atenção às oportunidades do mercado brasileiro e procuram expandir seus negócios no país”, conta Deborah Navarro, gerente da divisão de alimentos da Aurora. Em geral, ela garante que a venda de alimentos importados temcrescidodois dígitos nos últimos três anos, só na Aurora. A pimenta Tabasco, por exemplo, registrou alta de 209% emvolume desde 2004. Para 2010, a previsão é crescer 50%. Por trás deste avanço, a empresa acredita que o brasileiro, muito habituado à pimenta comum e ao sal, despertou para as pimentas e mostardas importadas no seu dia-a-dia. Restaurantes e bares têm boa dose de responsabilidade nisso, uma vez que proporcionam novas experiências gastronômicas a partir de condimentos e pimentas.
Geralmente, o consumidor “descobre” o tempero no prato de um chef e depois segue para o supermercado para adquiri-lo. Isso, é claro, ainda está mais concentrado nas classes A e B. Nomes como o do molho de pimenta Tabasco, da mostarda de Dijon Maille, da sopa Campbell’s, do chá inglês Twinings e do biscoito alemão Bahlsen já são facilmente identificados pelos brasileiros mais abastados. Isso, vale lembrar, ocorre em estabelecimentos brasileiros e não no exterior. Estudo do The South Australian Food Centre identifica um movimento de demanda na direção dos produtos super-premium. Com o aumento da renda, o consumidor se dispõe a pagar um pouco mais por itens com qualidade excepcional.
Veículo: Brasil Econômico