Abilio Diniz, do Pão de Açúcar, e Michael Klein, da Casas Bahia, anunciaram que, finalmente, entraram em acordo. Será que a lua de mel vai durar?
Desta vez não houve barulho, brindes, rasgados elogios de ambas as partes e euforia generalizada. Nem coletiva de imprensa foi organizada. Pelo contrário. A data escolhida para o anúncio do novo acordo de fusão entre Casas Bahia e Pão de Açúcar foi a sexta-feira, 2 de julho, momentos antes do jogo entre Brasil e Holanda pelas quartas-de-final da Copa do Mundo.
Apenas um fato relevante foi divulgado e uma conferência com analistas foi realizada por telefone depois da partida. Tudo para evitar sorrisos amarelos e perguntas indiscretas. Mas, no fim, a família Klein, dona da Casas Bahia, conseguiu dobrar Abilio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, na revisão do primeiro acordo de fusão com o Ponto Frio e Extra-Eletro, selado no dia 4 de dezembro de 2009.
Em abril deste ano, a família Klein ameaçou desfazer a negociação alegando que os ativos da Casas Bahia haviam sido subavaliados em R$ 2 bilhões. Desde então, as duas partes passaram a conversar, munidos de exércitos de advogados e consultores financeiros. Ao todo, cerca de 200 profissionais estiveram envolvidos. O resultado final foi um aporte de capital de R$ 689,8 milhões na Globex e a revisão de outros pontos em que as duas partes divergiam.
A guerra de nervos e na negociação foi intensa. Michael Klein chegou a afirmar que não havia vendido sua empresa e que, se os pontos não fossem revisados, acabaria com a parceria. Michael também teria ficado descontente com o modo como passou a ser tratado por Abilio e sua equipe. Em algumas ocasiões, ele ligava para Abilio e nem sequer era atendido.
Era uma situação desconfortável para quem sempre foi o comandante de uma empresa, como a Casas Bahia. Raphael Klein, filho de Michael, será mantido na presidência da agora chamada nova Casas Bahia. Seu mandato é de dois anos e o conselho de administração será formado por quatro membros da Casas Bahia e cinco do Grupo Pão de Açúcar. Só que agora a família Klein terá poder de veto, caso o
Grupo Pão de Açúcar queira aumentar o capital. Outro ponto de discórdia era em relação aos aluguéis das lojas. Pelo acordo anterior, o Pão de Açúcar pagaria R$ 130 milhões anuais em contratos de locação. Na nova resolução, o valor subiu para R$ 140 milhões anuais corrigidos pelo IPCA nos três primeiros anos e, depois, o valor será variável de acordo com o faturamento da empresa.
Os herdeiros da Casas Bahia também aumentaram a participação na empresa pontocom do grupo de 17% para 23%. Abilio teve de ceder para não ficar espremido. Desde o anúncio de fusão, outras redes de varejo começaram a se movimentar para enfrentar a então nova gigante. É o caso da união entre a Insinuante, da Bahia, e a Ricardo Eletro, de Minas Gerais, que criaram a Máquina de Vendas.
“O Abilio teve de pagar um prêmio para manter o acordo”, diz Claudio Felisoni, coordenador do Programa de Varejo da USP. “Ele teria muito a perder, caso a fusão fosse cancelada. Os efeitos junto aos acionistas brasileiros e ao sócio francês Casino seriam enormes.” Os Klein jogaram com isso a favor e venceram a partida.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro