No último levantamento de safra, a Conab estimou a produção de café no Espírito Santo em 11 milhões de sacas. Ou seja, 8 milhões a mais do que o total produzido no início dos anos 90.
O café representa quase a metade do PIB agrícola do Estado e é a principal atividade em 80% dos municípios capixabas.
No entanto, a principal variedade produzida na região -conhecida como conilon- é vista como inferior, destinada principalmente a fazer volume nos "blends" (misturas) das empresas de solúvel e torrado e moído.
O conilon distingue-se do café arábica por ter alta concentração de cafeína e não possuir um aroma e sabor valorizados pelo mercado.
Devido a essa reputação negativa, chegou-se a pensar em proibir seu cultivo em solo brasileiro.
Nos anos 70, entretanto, uma política deliberada de desenvolvimento da agricultura do Espírito Santo foi decisiva para a formação do parque cafeeiro de conilon no Brasil.
A topografia acidentada, aliada às altas temperaturas e umidade, tinha no conilon uma das poucas alternativas rentáveis para os produtores rurais.
Mas não foi apenas a falta de opção dos produtores que levou o conilon a despontar no Espírito Santo. Destaca-se, em primeiro lugar, a forma de organização da produção rural. A maior parte dos cafés capixabas é oriunda de propriedades familiares com menos de 50 hectares.
Ela utilizam principalmente a meação como mão de obra. Os meeiros moram nas propriedades e dividem o trabalho, assim como o risco da atividade.
Dado o crescimento do salário dos trabalhadores no campo, a meação tornou-se um importante ganho competitivo para ambos -proprietário e meeiro-, que adotam também a diversificação como forma de maximizar seus ganhos.
Em segundo lugar, esse desempenho se deve à pesquisa e aos investimentos feitos pelos produtores.
PESQUISA
Nos últimos 15 anos, a produção foi acompanhada por um aumento de mais de 200% na produtividade, que passou da média de 9 para 28 sacas por hectare.
O Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural) tem um papel importante nesse desempenho.
Destacam-se o desenvolvimento e a multiplicação de clones de variedades geneticamente superiores, a implantação de jardins clonais nos municípios cafeeiros, a renovação do parque cafeeiro e a disseminação da tecnologia de fertirrigação nas propriedades. Tamanho investimento, porém, não atinge o restante da cadeia produtiva. O fato de o conilon ser considerado um produto de qualidade inferior ao arábica leva pesquisadores e compradores a darem pouca atenção à qualidade. Resultado: pouco cuidado no beneficiamento e secagem dos grãos.
Ao que parece, essa história não vai ficar assim. No mercado internacional, já há quem valorize o café conilon, cujos cuidados e apresentação vêm progressivamente acompanhando o padrão dos mais nobres cafés arábica.
Exemplo é o café da região de Karnatka, na Índia, apreciado e valorizado pelos consumidores. Para que o café capixaba aproveite essas oportunidades, investimentos no restante da cadeia são necessários.
Veículo: Folha de S.Paulo