Todos querem ser um Nespresso

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Com o fim de patente de cápsula, empresas lançam genéricos do café da Nestlé

 

Quem diria que um cafezinho poderia acabar em briga na Justiça. Mas foi o que aconteceu entre duas multinacionais: a Nespresso, da Nestlé, e a Sara Lee. Tudo porque a concorrente americana, atenta ao fim do período de validade da patente de uma das tecnologias de cápsula da Nespresso ? braço da multinacional suíça no mercado de café de luxo ?, lançou uma similar, chamada L"OR, que pode ser usada nas máquinas da Nestlé. Para resguardar os ganhos com a venda de cápsulas, a Nestlé entrou com uma ação, na Europa, contra a Sara Lee no mês passado.

 

Até agora, quem tinha uma cafeteira da Nespresso só podia usar as cápsulas da própria marca ? cujo garoto-propaganda é ninguém menos do que o ator George Clooney. E é justamente na venda exclusiva do pó de café compartimentado em cápsulas que a empresa mais ganha. No Brasil, a cápsula mais barata é vendida pela Nespresso a R$ 1,90. Na França, o produto da Sara Lee custa em média 20% menos que o da concorrente suíça.

 

Com o fim da exclusividade da tecnologia da cápsula, os concorrentes trataram de pegar carona para oferecer uma alternativa mais barata aos consumidores. A Sara Lee confirmou ao Estado, de Paris, que, apesar de o L"OR Espresso por ora ser vendido apenas na França, há planos de comercializá-lo no Brasil. A multinacional americana é dona no País de marcas como Pilão, Caboclo e Café do Ponto.

 

Além da Sara Lee, a Ethical Coffee, fundada pelo ex-presidente da Nespresso, Jean-Paul Gaillard, também se apressou em ter um genérico e foi acionada na Justiça pelos suíços. Por enquanto, a Ethical Coffee é vendida apenas nas lojas da Casino. A rede francesa de varejo é sócia do Grupo Pão de Açúcar. A empresa brasileira diz que ainda não tem planos para oferecer a novidade no mercado nacional. Gaillard pretende vender seu café na Suíça e na Alemanha.

 

O canal de distribuição é apontado como um dos diferenciais da Sara Lee. Os clientes do Club Nespresso podem comprar as cápsulas apenas nas lojas da rede, por internet ou por telefone. No caso da Sara Lee, o café poderá ser encontrado nas prateleiras dos supermercados.

 

A disputa na Justiça entre Nespresso e Sara Lee não prejudicou os negócios da dona da L"OR Espresso. Segundo a empresa, em três meses desde o lançamento do produto, 22 milhões de cápsulas foram vendidas ? cerca de três por segundo.

 

"Temos confiança de que nosso produto cumpre as normas e leis aplicáveis e o processo legal se resolverá de forma favorável", informou Ernesto Duran, porta-voz da Sara Lee.

 

Para a Nespresso, dona de 1.700 patentes, com datas diferentes de expiração, a chegada de concorrentes pode ter o efeito de um "jab" ? golpe da luta de boxe que não derruba de uma vez, mas vai minando o adversário aos poucos. A companhia continua a levantar a bandeira da qualidade superior de seu produto, mas o marketing pode não ser suficiente para garantir a liderança. Para os analistas de consultorias e de bancos internacionais, a perda de mercado será inevitável.

 

Enquanto a Sara Lee faz planos sobre o melhor momento de trazer a L"OR Espresso para o Brasil, a Café Fácil, dona da maior rede de vendas de máquinas de expresso do País, deve oferecer opções à cápsula da Nespresso ainda neste semestre.

 

Vinicius Ferrero, dono da empresa, participará em agosto de uma grande feira de alimentos na Alemanha e já leva na bagagem planos de trazer uma alternativa à cápsula da Nespresso. "Vários fabricantes europeus vinham desenvolvendo alternativas para aproveitar o fim da patente. O que não vai faltar são opções para o consumidor", diz. "Hoje em dia ninguém quer ficar preso a uma marca só. As pessoas querem ter opções", avalia.

 

Planos de expansão. A ofensiva da concorrência coincide com um momento ambicioso de expansão da Nespresso no Brasil. Atualmente são dez lojas no País, que vendem as cafeteiras, as cápsulas e outros acessórios ? o que colocou a operação brasileira entre as principais e as mais promissoras de todo o grupo. Segundo Martín Pereyra, responsável pela Nespresso no Brasil, a meta é abrir duas lojas por ano e chegar a 20 butiques até 2015. "A expansão no Brasil foi muita rápida e o País já é um dos que mais têm unidades no mundo", diz.

 

As vendas globais do Nespresso em 2009 aumentaram 30%, para 2,63 bilhões. A Nestlé tem previsão de crescimento de dois dígitos também para 2010.

 

O negócio da Nespresso foi lançado pela Nestlé há 25 anos e está presente em 50 países, com 200 butiques e previsão de chegar a 230 até o fim deste ano. Em 2009, a marca representou cerca de 4% do faturamento da Nestlé, que foi de 73 bilhões.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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