Fabricante abre loja para "educar" consumidor

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O mercado informal contiua crescendo e já movimenta quase R$ 600 bilhões, equivalentes a 18,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. O montante, considerado alarmante para a economia e um dos maiores inimigos direto do varejo formal, é também a razão pela qual alguns fabricantes têm criado projetos engajados no sentido de apoiar e incentivar a formalidade ao micro e pequeno empresário, assim como na reeducação do consumidor final para que adquira produtos de procedência legal.

 

É este o caso da empresa Coletek, que garante ser considerada um dos maiores fabricantes do País de periféricos, eletrônicos e acessórios para games, que acaba de inaugurar seu primeiro showroom na rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, região que é ícone do comércio de eletrônicos na capital paulista e de onde é vendida boa parte de produtos desse segmento a consumidores e revendedores de todo o Brasil.

 

A localização não foi escolhida por acaso. Segundo Charles Blagitz, gerente de Marketing da Coletek, o principal objetivo da empresa é iniciar uma verdadeira campanha na região, de apoio ao comércio formal, principalmente no que tange à legalização fiscal e à procedência de produtos. Tanto que o espaço de quase 400 metros quadrados, segundo Blagitz, não é uma simples loja com vitrines para apresentação de produtos e lançamentos.

 

A loja tem em seu piso superior um auditório com 150 lugares onde a empresa oferecerá palestras e workshops gratuitos para a reeducação e conscientização do consumidor final com relação ao consumo de mercadoria clandestina. "Tentado por preços mais baixos, muitas vezes o cliente não percebe que o barato sai muito mais caro do que espera", reflete o gerente. Ele ressalta a importância da mudança de mentalidade do consumidor para exigir nota fiscal no momento da compra, principalmente porque caso contrário não é sabida, nem pode ser comprovada, a procedência do produto, além de outros problemas, como prazo de validade vencido, condições de conservação desconhecidas e ausência de garantia.

 

Além do projeto de conscientização ao comércio formal, o showroom é um ponto estratégico para os clientes conhecerem o portfólio de produtos, assim como experimentarem e opinarem.

 

Assistência

 

A empresa, que atua no mercado como fabricante e distribuidor há 8 anos em sistema OEM (Original Equipment Manufacturer), expressão usada para classificar produtos montados pela empresa e vendidos a distribuidores que põem sua marca à venda, há dois anos criou três marcas próprias: C3 Tech, Evercool e Plus Cable. Com a criação das marcas próprias, a Coletek, que cresce 150% ao ano, projeta exportar 10% de toda a produção ao Mercosul.

 

"A C3 Tech é nosso carro-chefe. Em 2008, compunha 2% do faturamento. No ano passado chegou a 28% e este ano está em 48% da produção", comemora Blagitz.

 

Como consequência, a companhia anuncia para este segundo semestre de 2010 a abertura de uma rede de assistência técnica, que vai atender diretamente o usuário final. O objetivo é prestar um atendimento mais ágil e personalizado ao consumidor em mais de 70 pontos de atendimento em todo o País.

 

De acordo com Charles Blagitz, a ação também visa a diminuir o ônus para as revendas, já que o número de ocorrências recebidas por elas também cairá consideravelmente, uma vez que o usuário terá a opção de procurar diretamente a assistência da Coletek.

 

Incentivo fiscal

 

Apesar do panorama alarmante de informalidade, segundo Roberto Ordine, vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), hoje em dia, mesmo que o índice de mercado informal seja alto, o Brasil tem um dos sistemas fiscais mais sofisticados do mundo.

 

"O empresário que começa com essa mentalidade de sonegar impostos e trabalhar informalmente está investindo num negócio que já nasceu morto. Não prospera, nem sobrevive no mundo do empreendedorismo", acredita Ordine.

 

O especialista no setor varejista disse ainda que a prefeitura da cidade de São Paulo tem trabalhado nessa direção de conscientizar o empresário à formalidade, com projetos como o programa Microempresário Individual (MEI), por exemplo, que isenta a microempresa do pagamento de impostos quando o faturamento não passar de R$ 36 mil anuais, ou, ainda, outros incentivos fiscais a empresas cujo faturamento anual é de menos de R$ 240 mil. Os quase R$ 600 bilhões do comércio informal de 2009 -de acordo com André Franco Montoro Filho, presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco), entidade que juntamente com a Fundação Getulio Vargas (FGV) realizou a pesquisa que concluiu o montante- é um valor que, além de ser expressivo e de ficar à margem da economia formal brasileira, supera o da economia da Argentina.

 

Apesar de surpreendentes, houve uma melhora significativa dos números na comparação com os dos últimos seis anos, conforme dados revelados pelo estudo.

 

De 2003 a 2010, os valores absolutos que movimentaram o mercado informal passaram de 357 bilhões para R$ 578 bilhões. Entretanto, o PIB brasileiro teve um crescimento de R$ 1,7 trilhão para R$ 3,14 trilhões, o que, na comparação, acarretou a queda de 21% para 18,4%.

 

De acordo com pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o alto nível que o desemprego atingiu em anos anteriores é um dos principais motivos que contribuíram para o crescimento do comércio informal.

 

A Coletek, fábrica de periféricos, eletrônicos e acessórios para 'games', inaugura seu primeiro 'showroom' na rua Santa Ifigênia, com espaço para palestras contra a informalidade.

 


Veículo: DCI


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