O preço do café voltado para o consumo final deve apresentar aumento de 15% nos próximos meses, impulsionado pela valorização do grão no mercado internacional. Nos últimos 40 dias, foi registrado incremento de 25% nos contratos futuros do grão na bolsa de Nova York, principal referência para o mercado mundial.
De acordo com o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Nathan Herszkowicz, a redução de safra em importantes países produtores está estimulando as negociações do grão produzido no Brasil, principamente em Minas Gerais. As indústrias estão pagando cerca de R$ 40 a mais pela saca, se comparado aos preços praticados há 40 dias. A expectativa é que as cotações se mantenham estáveis com tendência de alta no restante do ano e em 2011.
Segundo Herszkowicz, a alta significativa se deve à escassez de cafés de boa qualidade devido à queda na safra da Colômbia e países da América Central, ao atraso da colheita no Vietnã e à ausência do produto de melhor qualificação no início da colheita no Brasil.
Diante deste cenário, a oferta mundial ficou estreita e a conseqüência foi a elevação nos preços. O café arábica, que há 40 dias era comercializado a R$ 300 a saca de 60 quilos, está cotado entre R$ 400 e R$ 410. A cotação do café fino está em R$ 35 o quilo, com tendência de alta próxima a R$ 5 nos próximos meses.
"A produção brasileira de café, por estar em um ano de bienalidade positiva, consegue atender às demandas interna e externa. Porém, a oferta não será abundante, o que é essencial para manter os preços do café em alta", disse Herszkowicz.
O aumento dos preços registrado nas comercializações industriais irá refletir no produto voltado para o consumidor. A expectativa é que ocorra reajuste de até 15% nos preços.
Consumo - Para o diretor executivo da Abic, a alta não vai interferir no nível de consumo do país. A justificativa é a estagnação dos preços finais há cerca de cinco anos. "Há cinco anos a indústria enfrenta a estagnação dos preços. A alta não irá prejudicar o consumo, já que neste período ocorreu o aumento da renda da população, o que minimiza o impacto no bolso do consumidor", argumentou.
As expectativas em relação à cotação para a próxima safra também são positivas, já que a produção mineira e brasileira será menor que a gerada na safra 2009/2010. "Os estoques mundiais do grão estão baixos e os compradores poderão antecipar as compras se baseando na redução da próxima safra. Porém, com o aumento do consumo mundial e a redução da produção da Colômbia, a demanda em 2011 será mantida e os preços também", previu.
O aumento dos preços pagos pela saca de café e a ampliação da comercialização do produto no mercado internacional ainda são considerados insuficientes para estimular a retomada dos investimentos dos produtores de Minas Gerais na cultura.
Segundo o presidente da Conselho Nacional do Café (CNC), Gilson Ximenes Abreu, a retomada dos investimentos em tratos culturais, mecanização e renovação dos cafezais irá depender da geração de renda dos produtores, para isso é necessário que a saca do produto seja comercializada no mínimo a R$ 350, sendo os custos de produção de R$ 320. Outro fator que está impedindo os aportes no segmento é o endividamento dos produtores mineiros.
"Estamos enfrentando um mercado desfavorável para o café há cerca de dez anos. Neste período, a grande oscilação dos preços e a falta de políticas eficientes para o setor fizeram com que a maioria dos produtores ficasse endividada, o que impede o acesso ao crédito e inviabiliza novos investimentos na cultura", disse Ximenes.
Para o presidente da CNC, a instabilidade do mercado e dos preços pagos pelo grão impedem a elaboração de planos para investimentos futuros. "O produtor deve aproveitar a alta registrada nos preços para comercializar a safra e priorizar a quitação das dívidas. Os investimentos devem ser bem planejados já que não sabemos qual será o comportamento dos preços do café no futuro", disse Ximenes.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção mineira de café beneficiado alcançará 23,94 milhões de sacas de 60 quilos na safra 2009/2010. O resultado representa um acréscimo de 20,44% quando comparado com a produção de 19,8 milhões de sacas obtidas na safra anterior. Minas Gerais é o maior produtor de café do país, respondendo por 50,9% do volume nacional.
O maior acréscimo no volume produtivo será registrado no café arábica, com produção estimada em 23,69 milhões de sacas, o que representa um ganho sobre a safra anterior de 20,9%. A qualidade responde por 98,9% da produção mineira. No Estado, cerca de 50% do café já foram colhidos.
Veículo: Diário do Comércio - MG